sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Gravidade



NOTA: 10

SINOPSE: Ryan (Sandra Bullock) é uma médica que compõe a tripulação de astronautas em missão numa estação espacial americana. Quando um satélite russo é atingido por um míssil, seus destroços atingem e destroem sua estação e Ryan fica à deriva no espaço, iniciando uma jornada desesperada de sobrevivência e sobretudo autodescoberta pra voltar à Terra.

Uau! Que filme! É difícil escrever sobre Gravidade tamanha sua qualidade e pontos positivos. Precisaria de muito espaço (sem trocadilhos) para pontuar tudo o que há de bom no filme, que é muita coisa. Nessas horas prefiro sempre seguir minha fórmula padrão e focar em roteiro, direção e atuações, além de falar dessa vez um pouco sobre sua pós-produção.

Seu roteiro, escrito pelos irmãos Cuarón, consegue manter simplificada a história de um tema por si só tão complexo como o espaço, evitando expressões e teorias difíceis para quem é alheio ao assunto, que é o caso de 99,9% de seu público. Mas ainda assim, embora Gravidade traga uma história empolgante e fácil de absorver, não deixa de ter sua profundidade e suas reflexões, todas elas centradas em sua protagonista, Ryan, e sua já citada, autodescoberta. Conforme ela vai revelando detalhes de sua vida na Terra, como seu hábito de dirigir diariamente sem destino para amenizar um pesado drama familiar, vemos que na verdade ela sempre viveu à deriva em sua vida e que a experiência que está vivendo no espaço, talvez seja o caminho para sua evolução e libertação.

Talvez? Não, com certeza! E isso é sintetizado numa cena belíssima, onde ao chegar num módulo de fuga, Ryan se encolhe numa posição fetal evidenciando que a partir daquele momento ela renascia forte e inabalável. Essa é só uma das muitas cenas ao mesmo tempo maravilhosas e de uma competência sem par, fruto de um excelente trabalho de direção de Alfonso Cuarón, com enquadramentos sempre ricos em conteúdo, seguindo a princípio um raciocínio parecido com o de Kubrick em 2001: Uma Odisseia no Espaço, onde anula o antropocentrismo, mostrando como somos insignificantes frente a imensidão do universo, para depois mudar por completo essa visão, conforme a evolução de sua protagonista, numa cena final (spoiler à frente) que situa novamente o Homem como centro do universo, além de conter uma forte referência bíblica, com Ryan “renascendo” do barro e um enquadramento de baixo para a cima que a transforma numa gigante em nosso mundo. Trabalho e competência de gênio!

Trabalho genial também fica por conta de seu elenco. George Clooney é um ator que só cresce em admiração, se superando a cada filme. É maravilhosa a calma que ele emprega a seu personagem, mesmo diante das situações mais adversas onde a morte é certa.

E Sandra Bullock tem tudo pra entra na corrida do Oscar para ganhar sua segunda estatueta como melhor atriz, numa atuação impecável de ponta a ponta, com uma personagem que vai da extrema fragilidade à extrema força de vontade e desejo de viver. Além do fato dela carregar a maior parte do filme sozinha, se saindo muito bem na tarefa. E vale ressaltar seu desempenho não só na composição de personagem, mas todo o conjunto da obra, uma vez que o filme foi inteiramente filmado em estúdio, em green screen.

E pegando o gancho do green screen, é impossível não salientar o excelente e maciço trabalho de pós produção, seja na direção de arte que compõe um espaço belíssimo, seja na trilha sonora muito bem editada que claramente mergulha o espectador na história, com cortes bruscos e repentinos, promovendo longos momentos de um silêncio que não deixa de conter sua tensão.

Resumo da ópera, Gravidade é um filme excelente para todos os públicos com todos os gostos (menos aqueles que tem labirintite que vão sofrer bastante com a direção de fotografia). Contém um excelente roteiro, uma excelente direção, excelente atuações, enfim...um filme excelente em sua essência.

CONFIRA O TRAILER

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Jobs


NOTA: 3

SINOPSE: em Jobs, acompanhamos a trajetória do gênio e co-fundador da Apple, Steve Jobs, do momento em que ele abandona a faculdade até seu retorno à empresa no final dos anos 90, após 10 anos afastado.

Quando vi a última cena de Jobs, onde ele grava em 1997 o texto da campanha mais famosa da Apple, "Think Different" me perguntava se em algum momento seu diretor, Joshua Michael Stern se deu o trabalho de ouvir e interpretar a gravação que exala inovação - a essência da empresa e seu fundador - pois ao longo de duas horas ele e seu filme estiveram muito aquém da ousadia e inovação, criando algo arroz com feijão, cheio de falhas e acima de tudo, uma decepção para fãs e entusiastas da figura mítica que foi Steve Jobs.
Praticamente tudo é ruim em Jobs.

Seu roteiro, escrito pelo iniciante Matt Whiteley, é completamente perdido, com arcos dramáticos fracos e mal resolvidos, como o relacionamento de Jobs com a filha que vai da rejeição à adulação sem nada que o justifique, e o número sem fim de pessoas que vão e vem de sua vida, sem uma preocupação muito grande em explicar o porquê ele cria essa aura negativa em volta de sua persona. Além de alguns momentos de sua vida pessoal serem ignorados, como sua adoção - história que sozinha já renderia um filme. E o pior de tudo, a decisão de encerrar a história justamente no melhor momento da vida de Jobs, deixando o espectador se contentar com um cartão resumindo em poucas linhas os grandes feitos que a empresa e o homem fizeram e que marcou a história da indústria tecnológica.


A escalação de Ashton Kutcher pra viver o personagem é outro ponto fraco do filme e mostra que só ter a aparência física de uma pessoa não significa que um ator tem capacidade de interpretá-la. Em nenhum momento Kutcher consegue convencer no papel, chegando ao ápice da superficialidade em seu retorno a Apple em 1997, fazendo um esforço sobrenatural para interpretar os maneirismos de Jobs, como o seu modo de andar. Fora que escalar um ator de talento questionável que basicamente fez sua carreira com comédias, também questionáveis, se mostra um erro desde o início.

E quando escrevo sobre Kutcher se torna impossível não comparar Jobs a outro filme recente, A Rede Social, e seu protagonista, Jesse Einsenberg, que precisa de alguns segundos pra mostrar que ele não só interpretará Mark Zuckerberg, como viverá o personagem. Um show de atuação que desperta um desejo enorme no espectador de mergulhar no mundo dessa outra figura única, elevando ainda mais o nível de um filme já excelente em todos os sentidos.



E Stern, em várias tentativas de parecer genial, revela um grande amadorismo como diretor com algumas cenas deprimentes na sua condução e idealização. Como uma das primeiras cenas do filme onde Jobs em menos de dois minutos consegue anunciar para um amigo sua saída da faculdade, entrar numa conversa com seu professor sobre o mesmo assunto e terminar flertando e levando à cama uma ilustre desconhecida. Ou aquela em que ele apresenta sua visão do papel da Apple para seus seguidores numa conversa estilo walkie-and-talkie que se estende por dias e cenários a fio. Além disso, os poucos momentos bons do filme são sabotados pelo próprio diretor, como o “Uau” emitido por um Jobs boquiaberto e poucas vezes sem ação ao ver o protótipo do primeiro computador pessoal, abafado por uma trilha sonora desnecessária na ocasião.


Sim, como grande fã e entusiasta de Jobs, na pior das hipóteses imaginava que assistiria um excelente filme, mas Stern e sua equipe me mostraram que até mesmo uma figura brilhante como Steve Jobs, pode ter sua história reduzida a mediocridade quando está nas mãos de amadores, assim como fizeram com John Lennon em O Garoto de Liverpool. Jobs é uma obra que tem tudo para passar em branco (e torço pra que isso aconteça), sendo tão superficial que não agrada nem os fãs que sentem o tempo todo faltar algo, e aqueles que se interessam em conhecer a história, vendo um gênio ser interpretado por um galã de comédia pastelão.

TRAILER DE JOBS


COMERCIAL "THINK DIFFRENT" - Apple, 1997


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Círculo de Fogo



Nota: 9

SINOPSE: em Círculo de Fogo, uma fenda se abre no oceano Pacífico e dela constantemente saem monstros colossais, chamados kaiju, com o propósito único de destruir o nosso planeta. Para combatê-los, os humanos desenvolvem os jaegers, robôs gigantes controlados por dois pilotos dentro de sua cabeça, mentalmente sincronizados. Com a Terra aparentemente protegida, os jaegers são colocados em risco quando os monstros surgem cada vez maiores e mais evoluídos.


Monstros gigantes, robôs maiores ainda, personagens caricatos dentre outros tantos absurdos aparentemente tornam Círculo de Fogo um péssimo filme, ao menos na teoria. Contudo, existe um considerável e maiúsculo PORÉM nessa definição: esse filme foi escrito e dirigido por um verdadeiro gênio do cinema, Guillermo Del Toro (Labirinto do Fauno, Hellboy).

 Ter alguém tão bom e apaixonado pelo que faz torna até mesmo um mix de absurdos num espetáculo inesquecível que dá vontade de ver e rever muitas vezes (já vi duas vezes e estou ansiosos pela terceira). Del Toro leva a geração X e Y ao êxtase extremo em sua obra que homenageia de modo impecável as séries que crescemos assistindo como Jaspion, Jiraya, Power Rangers, além dos famosos filmes de monstros japoneses como Godzilla, recheado de combates empolgantes que começam no meio do oceano e terminam no centro de uma cidade, com direito ao soco-turbo do Dayleon (não lembro se era esse o nome do golpe) e um botão em forma de espada que liberava uma espada chicote de aço gigante, além dos prédios derrubados e carros esmagados que não poderiam faltar, é claro.

E mesmo a pouca agilidade tanto dos jaegers, como dos kaijus, mostram a preocupação do diretor – especialista em conceber criaturas – em trazer à tona o máximo de realismo nas suas cenas de ação, respeitando a escala colossal de ambos.


Del Toro também acerta em deixar todos os combates acontecerem durante a noite, dando ainda mais ênfase às suas escolhas de fotografia e direção de arte, repletos de luzes de neon e cores saturadas, como as cabeças (e cabines de comando) dos jaegers e o sangue azul fluorescente dos kaiju.

Outros dois pontos fortes do filme é seu roteiro superficial que evita criar tramas muito complexas e conta a história dos personagens em rápidos flashs, deixando claro que o propósito ali é o espetáculo visual e nada mais. O segundo ponto é seu elenco, que mesmo sem nenhuma grande estrela, traz ótimas atuações de uma maneira geral, destaque para Idris Elba (Prometheus) que vive o implacável e ainda assim humano Pentecost e Rinko Kikuchi, que interpreta a personagem mais complexa da história, Mako Mori, ansiosa por comandar um jaeger com o propósito único de vingar a morte de sua família.


A única falha, se é que se pode chamar assim, do filme é levar tanta destruição às telas com nenhuma vítima, uma opção comercial de Del Toro para reduzir a censura nos cinemas, tirando assim um pouco do realismo trabalhado nos combates, design de produção etc.


Um daqueles blockbusters que vale cada centavo do ingresso, sendo ao mesmo tempo uma sessão nostalgia com um show de efeitos especiais, Círculo de Fogo é tudo o que Transformers tenta ser há 7 anos, um bom filme. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Homem de Aço


Ficha Técnica - Dir: Zack Snyder; Roteiro: Christopher Nolan (argumento) e David S. Goyer; Produção: Christopher Nolan; Elenco: Henry Cavill (Kal-El/Clark), Amy Adams (Lois), Russel Crowe (Jor-El), Michael Shannon (Zod), Kevin Costner (Jonathan).

NOTA: 9

Sinopse: Numa Krypton à beira do apocalipse, o cientista Jor-El consegue um feito inédito: conceber um filho naturalmente, onde por séculos todos os bebês era gerados numa espécie de plantação, com funções pré-determinadas. Mal acaba de nascer, Kal-El, é enviado pelos pais à Terra antes que seu planeta seja destruído. Aqui, ele é acolhido por um casal de fazendeiros e sobre a identidade de Clark Kent, descobre ainda na infância que possui poderes além da imaginação. Adulto, Clark vive em busca de seu passado e seu papel na Terra até ter pela frente um inimigo à altura, seu conterrâneo General Zod, que pretende reviver a raça kryptoniana e precisa do DNA do herói pra isso.

Muito se prometeu desse reboot do Superman, mas muito se questionava se esse seria um projeto à altura da quadrilogia estrelada por Christopher Reeve ou seria tão patética quanto a tentativa desastrosa de trazer o herói às telas em 2006 em Superman, o Retorno. Acertou quem apostou suas fichas na primeira opção: Homem de Aço, de fato é um excelente filme. Nunca fui fã do Superman. Seus poderes imbatíveis, vencidos apenas por uma pedra e sua identidade secreta que me parecia impossível alguém acreditar, sempre me fez ver um herói superestimado, sem graça e imaginação. Mas desta vez saí do cinema como um grande fã do personagem (assim como me tornei fã do Hulk depois de Os Vingadores).

A principal razão dessa mudança drástica de opinião foi sem dúvida um roteiro muito bem concebido. Não era pra menos, uma vez que quem o assina é David S. Goyer, a partir do argumento de Christopher Nolan, a dupla responsável pela recente trilogia Batman. Desse modo, Homem de Aço, apesar de um filme de herói, tem um grande apelo realista: os super poderes de Clark, provenientes da diferença da atmosfera entre a Terra e Krypto, o que explica o porque do solo de seu planeta natal minar toda a sua força.



Longe de ser um filme só de efeitos especiais, sua história é complexa e com um bom apelo dramático, fazendo uma forte analogia ao cristianismo: Jor-El envia seu filho à Terra para ser nosso salvador; Clark descobre seus poderes aos 33 anos; até mesmo a nave que o trouxe faz referência a uma manjedoura. Além disso, a busca filosófica de Clark em descobrir seu papel na Terra até o desfecho da história segue com perfeição a Jornada do Herói decifrada por Joseph Campbell em seu livro O Herói de Mil Faces.

Ainda assim o roteiro tem lá suas falhas. A principal delas é a cena da morte do pai adotivo de Clark, Jonathan (Kevin Costner), numa seqüência mal concebida e muito superficial, ainda mais se levar em conta a riqueza de toda a narrativa e principalmente a relação entre pai e filho.

Mas Kevin Costner também está presente na melhor cena do longa, numa belíssima atuação em que Jonathan revela à Clark (ainda criança) sua origem, seus poderes e mesmo sabendo do seu potencial, prefere privá-lo do mundo temendo a rejeição que enfrentaria, deixando o amor paterno falar mais alto.
As outras atuações também são ótimas, mas a melhor delas é de Michael Shannon, dando vida a Zod, um antagonista que luta por uma causa já perdida, mas não consegue fugir de sua obsessão, uma vez que é escravo de si mesmo.



E claro, um filme dirigido por Zack Snyder não poderia ficar sem cenas espetaculares, e assim são todas as seqüência de ação, numa mescla de Vingadores e Dragon Ball (sim você leu Dragon Ball), com batalhas que levam seus combatentes a voar por quilômetros quando golpeados e ataques capazes de destruir uma cidade inteira. O que surpreende aqui é ver Snyder fugir de seus maneirismos tão característicos, evitando os excessos de planos detalhes e slow motion, duas técnicas que o definiram no cinema.


Enfim, Homem de Aço não chega a ter a mesma maestria da trilogia Batman, mas se mostra um filme de muita qualidade satisfazendo aqueles que gostam de muita ação e aqueles que gostam de uma boa história, mostrando o quão deu certo a parceria de Zack Snyder e Christopher Nolan. Como um recém fã do herói, digo que vale a pena conferir este filme e suas seqüências, além do longa com Batman e Superman juntos já anunciado para 2015 na Comic Con deste ano.

CONFIRA O TRAILER



sexta-feira, 5 de julho de 2013

Guerra Mundial Z



NOTA: 10

Adoro filmes de zumbis! E talvez o que mais me motive é ver um subgênero que tem tudo para ser repetitivo, vir constantemente se renovando. Das criaturas lentas de Dario Argento aos alucinados de Danny Boyle, não demora muito para o estilo se reinventar. E é o que acontece com maestria em Guerra Mundial Z, dirigido por Marc Foster, que combina drama, ação e suspense num mundo tomado por zumbis.

Em Guerra Mundial Z, após o mundo ser tomado por uma infecção que transformou a maior parte de seus habitantes em zumbis, Gerry Lane, um ex-agente da ONU, é chamado de volta para escoltar um cientista na busca por uma cura. Quando este morre, cabe a Gerry viajar pelo mundo para descobrir ele mesmo uma maneira de por um fim a epidemia e salvar sua família.


Guerra Z (como vou chamar a partir de agora) é um daqueles filmes que não deixa desgrudar os olhos da tela. Já nos primeiros 10 minutos, somos atirados a uma cidade completamente tomada por zumbis, obrigando a pacata família Lane a entrar numa fuga tensa e alucinante para serem resgatados. E me impressionou muito como esses primeiros minutos movimentados já nos esclarecem de forma sutil muitos aspectos importantes da narrativa: os créditos iniciais que mostram a epidemia se manifestando a partir de eventos aparentemente isolados; a astúcia e agilidade do protagonista, Gerry, diante daqueles eventos, mostrando que ele é muito mais do que um mero pai de família e por fim, os zumbis mais originais que já vi no cinema, com um ímpeto assustador para atacar os humanos, se atirando de cabeça em veículos e até saltando de prédios.

O uso do CGI para concebê-las na maior parte da história garantem cenas memoráveis, em especial a pirâmide de zumbis em Israel e o modo como eles se atiravam lá do alto e já se levantavam prontos para o ataque. A tecnologia foi tão bem empregada no filme que em poucos momentos percebemos que são digitalizadas, bem diferente dos seres extremamente artificiais de Eu Sou a Lenda.

O roteiro de Guerra Z (adaptado do livro homônimo de Max Brooks) não deixa a narrativa esfriar nunca, fazendo com que sempre uma ação leve a outra. E quando a ações caminhava pra ficar excessiva, chegamos à cena do laboratório, onde a história se torna um suspense tenso e imprevisível. Além de um desfecho muito inteligente e que foge por completo do convencional.

E por fim, mesmo com tantas qualidades, Guerra Z não seria tão bom se não fosse a excelente atuação de Brad Pitt que faz uma boa mescla entre o carismático pai de família que para protege-la não pensa duas vezes em se sacrificar, no parapeito de um prédio, quando acreditava ter sido contaminado, com a do agente com uma hábil agilidade de raciocínio, rapidamente decifrando todo o cenário a sua volta, como a rapidez com que descobre o tempo em que os humanos mordidos levam pra se transformarem e a ligação dos fatos que o leva a encontrar uma solução para o problema zumbi.


Acertando em todos os quesitos, Guerra Mundial Z consegue ser um filme inteligente e empolgante do primeiro ao último minuto, com um roteiro bastante original, que foge por completo da pieguice de seres rastejantes e comedores de cérebro. Vale a pena conferir esse que já é um dos melhores filmes do ano.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Universidade Monstros

NOTA: 10

SINOPSE: Em Universidade Monstros conhecemos o passado daqueles que formaram a melhor dupla de assustadores da Mundo S.A., os inseparáveis Wazowski e Sullivan. Mas diferente do que se esperava, os dois se detestavam na juventude. Certo dia numa briga, o jovem nerd Wazowski e o arrogante Sullivan são expulsos da faculdade de susto e tem como única oportunidade de retorno vencerem um concurso de melhor assustador, o Jogo do Susto. Para isso, a dupla é obrigada a se unir com uma equipe de monstros um tanto desastrados para juntos ganharem o torneio.

Essa com certeza é a crítica que me dá mais satisfação em escrever neste ano. Isso porque depois de assistir os últimos dois filmes patéticos da Pixar (Carros 2 e Valente) e passar a duvidar da sua antes inabalável habilidade em contar histórias, vi o estúdio retomar a mão e trazer às telas mais uma obra-prima para sua coleção de sucessos. Um feito ainda maior se levar em conta que Universidade Monstros é um prólogo de um filme já bastante conhecido do estúdio, Monstros S.A., o que supostamente comprometeria boa parte do seu roteiro. Mas isso tudo é bobagem! Embora com um desfecho já esperado, Universidade Monstros surpreende e muito no modo como junta as pontas dos dois filmes, com tramas e subtramas muito ricas e criativas num trabalho de mestre do trio de roteiristas Dan Scanlon, Daniel Gerson e Robert L. Baird.

A começar pela dupla de protagonistas Wazowski e Sullivan. Se imaginávamos que eles sempre foram amigos desde que se conheceram, nos surpreendemos em ver que na verdade eram rivais ferrenhos, só juntando suas forças (e construindo um forte laço de amizade) diante de uma punição que se aplicava a ambos, sua expulsão. Indo mais além na surpresa, quando somos apresentados ao colega de quarto de Wazowski, descobrimos que seu grande amigo na verdade é aquele que se tornaria seu maior rival no futuro, Randy. E falando em Randy, me agradou muito o motivo dado para um cara carismático como ele é nessa hsotória se tornar num ser de extrema maldade, num acontecimento tão insignificante que fica claro o porque Sullivan e Wazowski nutrem certa indiferença ao personagem no futuro, desconhecendo sua vilania.

E o melhor pra mim é a forma convincente e reconfortante dada ao espectador sobre o destino de Wazowski. Durante toda a narrativa me chateava ver que aquele jovem ciclope verde, louco para ser um assustador jamais alcançaria seu sonho. Mas a maneira como ele descobre suas outras habilidades (numa cena que não vou descrever aqui), muito melhores do que a de um assustador, e decide se dedicar a elas mostra um roteiro o tempo todo preocupado com a questão, mas mais ainda em respeitar seu público garantindo um desfecho brilhante a trama.


E para aqueles que imaginam que a dupla sairia da faculdade já como assustadores de sucesso, terá uma surpresa pelo modo como ambos alcançaram a fama, tendo que começar do zero.

E algo que já até virando um cliché nas minhas críticas da Pixar de tanto que repito é a qualidade fora do comum de sua direção de arte aproximando suas animações cada vez mais do mundo real, tamanha perfeição.

Pra quem já assistiu Monstros S.A. e já imagina tudo o que vai acontecer em Universidade Monstros, sugiro que vá ao cinema o quanto antes, pois será surpreendido pelo alto nível de seu roteiro e a eterna habilidade da Pixar em encantar plateias combinando sua arte única em contar histórias com o melhor da computação gráfica. Vamos esquecer que Carros 2 e Valente existiram e voltar a admirar nas telas os louros de um estúdio que sou eterno fã. Como é bom poder dizer isso de novo!


Obs: Como de praxe, antes do longa temos um curta animado do estúdio: O Guarda-Chuva Azul. Um curta muito bom, mas com um roteiro semelhante ao de Paperman, curta da Disney vencedor do Oscar, exibido junto com Detona Ralph.




terça-feira, 25 de junho de 2013

Depois da Terra


NOTA: 5

Assistindo aos primeiros minutos de Depois da Terra, imaginava que veria um grande filme, com uma excelente mensagem sobre como nossas atitudes degradantes com nosso planeta podem ter consequências drásticas, como a impossibilidade de até mesmo continuarmos a viver aqui. Mas bastaram poucos minutos para perceber que essa rápida introdução servia apenas como mero pano de fundo, preparando terreno para um filme monótono que promete muito e entrega pouco.

Em Depois da Terra, após tanta destruição em nosso planeta a humanidade é obrigada a deixa-lo e viver em um novo, chamado Nova Prime. Mesmo se mudando há mil anos, os humanos são assolados constantemente por ataques de criaturas alienígenas chamadas Ursas, seres cegos que nos detectam farejando nosso medo. Cypher Raige (Will Smith) é um Fantasma, um soldado que não sente medo e por consequência não é rastreado por essa ameaça. Numa missão espacial com seu filho. o indulgente Kitai, sua nave é atingida por uma chuva de asteroides e pai e filho são atirados ao pior planeta do universo, a Terra, onde tudo que a habita é uma ameaça à vida humana. Ferido, Cypher tem que deixar de lado sua relação tempestuosa com o filho, coordenando e contando com sua determinação para protege-los e manda-los pra casa.


Com uma sinopse, trailer e uma abertura que prometem, Depois da Terra se resume a exatamente isso, uma promessa. Com um roteiro fraco, uma direção ruim e um protagonista que tem como principal talento ser filho do Will Smith, o filme não empolga em nenhuma cena. Quando chegam a Terra e Kitai sai em missão, seu pai o alerta de que tudo naquele planeta existe para mata-los, mas os que vemos é uma meia dúzia de animais em CGI que pouco se mostram como uma ameaça real. Além disso, há tão pouca ação no roteiro que é necessário inventar obstáculos, como as cápsulas de oxigênio que Kitai deve tomar e que obviamente estão escassas em sua missão. Que dúvida!

Além disso, seu roteiro (adaptado do livro homônimo) possui tantas falhas que me pergunto se em algum momento ele passou por alguma revisão antes de ser filmado. Em nenhum momento se explica como conseguimos evoluir tão rápido num planeta deserto e sendo constantemente massacrados pelas ursas. Também não fica muito clara a real função do papel da filha de Cyphe, Senshi, na vida dele e seu filho. Sugerem que sua morte seja a razão do conflito entre ambos, no entanto ela recebia o mesmo tratamento frio do pai que seu irmão. Difícil acreditar que esta seria a mesma a razão. Aliás, é difícil acreditar que muita coisa realmente acontece no filme, como desperdiçar uma das poucas cenas onde há alguma carga emocional (aquela em que uma ave dá sua vida para proteger Kitai) com um reação apática do personagem, que teoricamente é o oposto do pai, diante do fato.


E Will Smith parece ter recebido uma aplicação recorde de botox no rosto, pois sustenta exatamente a mesma expressão do início ao fim do filme. Uma coisa é não sentir medo, a outra é não ser dotado de nenhuma emoção. Admito que no primeiro ato sua postura é muito interessante. A calma do personagem diante do colapso de sua nave em meio à tempestade de asteroides é um show de atuação. Mas daí pra frente, o interessante se torna entediante até o fim da estória.


Com uma produção que promete muito e entrega pouco, M. Night Shyamalan mais uma vez parece mostrar que vem perdendo a mão em seus filmes, colecionando fracassos em seus recentes trabalhos, ao menos no que diz respeito à qualidade. A expectativa é que as prováveis sequencias de Depois da Terra sejam mais interessantes, pois material pra isso existe.

sexta-feira, 17 de maio de 2013


Nota: 10

SINOPSE: Em 1988, no Chile, enfrentando forte pressão internacional, o ditador Augusto Pinochet decide convocar um plesbicito que definiria os rumos da ditatura chilena e o seu como líder. Se o SIM vencesse nada mudaria. Mas se o NÃO representasse a maioria, seria o fim de um período de repressão e medo de mais de uma década e o começo de um novo futuro. Certo de que nada mudaria com o plebiscito, Pinochet controla a mídia e repreende constantemente seus opositores. Mas um desacreditado partido de oposição, liderado pelo publicitário René Saavedra, provou que ele estava errado.

Dirigido por Pablo Larraín, NO foge completamente de uma linguagem ficcional para ser um filme com uma forte característica documental. A começar pela tecnologia em que foi filmado, inteiramente em U-Matic. Muito utilizada nos anos 80, a U-Matic deixava a imagem levemente desfocada e até duplicada em alguns momentos. Além disso, a câmera nunca sai da mão da equipe filmagem, ora ela treme, ora promove ângulos tortuosos.

Além da fotografia, as atuações também são outra grande força dessa linguagem adotada por Larraín. Seu naturalismo é brilhante, principalmente na cena onde o partido NO começa a elaborar sua campanha numa casa de praia, com uma conversa cheia de reticências, reflexões e repetições, algo pouco visto no cinema. E também fica fácil fazer um bom filme tendo Gael García Bernal (Diário de Motocicleta) como protagonista. Seu René Saavedra surge apresentando uma campanha publicitária de refrigerante, um símbolo da ditadura, a invasão de produtos americanos. Dessa forma, surpreende que ele, ainda jovem já com uma carreira consolidada, casa própria e carro do ano, aceite trabalhar numa causa aparentemente perdida. E fica o mistério no ar do porque de sua escolha: vaidade, desejo de mudança, o prazer do desafio? Isso Pablo Larraín deixa pra gente responder.

Mesmo ficando a maior parte do filme contando a história de Saavedra e os partidários do NÃO, Pablo ainda assim consegue demonstrar como as ditaduras de uma forma geral operam e se perpetuaram no poder durante todo o tempo. Se no dia a dia o exército de Pinochet agredia e matava militantes nas grande metrópoles, sabotando constantemente a campanha de seus opositores, na mídia (controlada pelo governo) o ditador era visto como um homem bondoso, pai da nação e que pensa no futuro do país, e bastava se afastar um pouco dos grandes centros pra ver como surtia efeito essa lavagem cerebral, tendo uma personagem afirmando que preferia a ditadura porque mesmo com toda a violência, seu filho agora podia ir pra escola todo dia. 



E o melhor de tudo é ver que mesmo com a clara intenção de criar um obra que seja um documento da ditadura de seu país, o roteiro de Pablo Peirano ainda consegue acrescentar uma boa carga dramática na história, mostrando um grupo que começa o filme desacreditado, querendo aproveitar a oportunidade para usar a mídia mais como um desabafo por toda a agressão e perdas sofridas do que como um agente de mudança, ir amadurecendo e atraindo a atenção pra si fazendo exatamente o oposto: exibindo programas e histórias de felicidade, paz e progresso para um país sem ditadura e conseguindo dessa forma derrubar um poder que parecia inatingível.


NO é um filme que mostra como a propaganda, quando bem trabalhada pode fazer mais do que simplesmente vender refrigerantes. Ela pode mudar a história de todo um país e até transformar o mundo. Por isso amo minha profissão.

Confira o trailer


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Homem de Ferro 3



Nota: 9

Tenho ficado muito feliz com o modo como os alguns heróis vem sendo retratados ultimamente. Crente de que Homem de Ferro 3 seria ainda mais fantástico do que Os Vingadores e seus antecessores, fui felizmente surpreendido ao ver, pelo contrário, um Tony Stark muito mais humanizado e frágil. Assim, a Marvel segue a mesma trilha da DC no retrato do Batman em OCavaleiro das Trevas Ressurge e a James Bond, em Skyfall, fugindo dos roteiros implausíveis e de cenas totalmente dependentes de efeitos especiais, optando, ao invés disso, em explorar a complexidade e se aprofundar nos dramas de seus personagens. E não há cena que retrate melhor isso do que aquela em que Stark, após sofrer um sério ataque é obrigado a arrastar sua armadura pela neve, incapaz de utilizar seu equipamento com tecnologia de ponta.

Numa estória que acontece pouco tempo depois dos eventos de Os Vingadores, Homem de Ferro 3 retrata um Tony Stark com uma séria crise de identidade ao combater ao lado de espiões, um deus, um super soldado e um Hulk e conviver com o fato de que ele mesmo, de acordo com sua própria definição, não passava de um mecânico, sem nenhum verdadeiro super poder ou habilidade inata, senão a de fazer armaduras. Com sérias crises de ansiedade ocasionadas em função de sua experiência de viajar para outra dimensão em Os Vingadores, no que ele chama de O Buraco da Minhoca, Stark dedica todo seu tempo em construir mais e mais armaduras, criando um verdadeiro arsenal para suprir de alguma forma essa sua “carência”. Contudo, uma nova ameaça surge, o Mandarim, um terrorista que ameaça a América e põe o herói a prova em seu maior desafio.

Um dos pontos mais interessantes em O Homem de Ferro 3 é que seu novo diretor, Shane Black, consegue criar toda essa complexidade em torno da figura de Tony Stark e ainda assim consegue manter vários dos elementos que consagraram a trilogia bem evidentes; sendo o principal deles o humor sem sombra de dúvida. Seu uso é tão bem dosado e pontuado que serve até de impulso para uma importante revelação sobre o papel do Mandarim na história.




Outro ponto são as cenas de ação, as melhores de toda a trilogia. Bem articuladas, com excelentes efeitos especiais e claro, de tirar o fôlego. A destruição completa da casa de Stark em Malibu, é o melhor exemplo disso, com um bom destaque também para a cena da queda do Força Aérea Um e o consequente resgate dos passageiros por um Homem de Ferro agora controlado por controle remoto. Aliás essa foi uma novidade que gostei bastante: são poucos os momentos em que Stark veste sua armadura. Seja pela alta tecnologia que elas possuem ou pela fragilidade da situação, Homem de Ferro 3 é totalmente centrado na figura de Stark, o homem de carne e osso. Isso ocorre até mesmo no clímax do filme onde todas as suas armaduras entram em combate no piloto-automático, ficando seu criador a mercê dos ataques inimigos.

E não dá pra escrever sobre Homem de Ferro sem falar de seu protagonista. Robert Downey Jr está ainda mais afiado no papel, com sua versatilidade de sempre e tiradas clássicas. Com essa personalidade, não surpreende ver o exagero da sua coreografia para testar uma armadura. Ainda assim, chega a ser comovente ver sua fragilidade em suas crises de ansiedade e no seu temor de perder aquela que mais ama, Pepper (Gwyneth Paltrow). E mais uma vez ele é feliz em contracenar com atores de peso como Guy Pearce e Ben Kingsley, sendo o último digno de ao menos uma indicação ao Oscar pela excelente atuação nos dois momentos completamente distintos de seu personagem, o Mandarim.


Mas nem tudo são flores. Com uma estória tão rica, decepciona ver Aldrich Killian (Guy Pearce) ser primeiramente retratado como a caricatura do nerd que busca vingança por aqueles que o ignorou. E em nenhum momento se explica o que seria a reação de uma invenção citada no começo do filme que no futuro transformaria o vilão do longa e seus seguidores numa espécie de homens de lava. Além do mais, embora ache Rebecca Hall uma ótima atriz, sua personagem (Maya) é completamente descartável.

Enfim, algumas pequenas falhas não podem ofuscar o brilho da trilogia mais bem sucedida da Marvel e em seus últimos minutos já bate a saudade daquele sarcasmo tão característico de Stark (que voltará, de acordo com a última frase dos créditos). A ousadia da Marvel em fugir dos seus filmes tradicionalmente superficiais talvez tenha criado seu maior sucesso. Vamos ver o que os outros heróis dos Vingadores tem para nos oferecer e se, com todos os seus poderes, conseguem superar o carisma de seu mecânico.

Obs: como todo filme da Marvel, há uma cena extra nos créditos.

CONFIRA O TRAILER


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Review - 300


NOTA: 6

300 é um daqueles filmes que eu amo odiar. Por um lado, é decepcionante ver um filme se apossar e distorcer uma das histórias mais envolventes da humanidade, por simplesmente não encontrar outro meio de focar nossa atenção ao banho de sangue promovido pelos espartanos. Por outro, é inegável reconhecer a beleza na plástica de uma série de quadros promovidos por Zack Snyder em parceria com o fotógrafo Larry Fong.

Por beleza, com certeza não me refiro ao “inovador” cenário concebido digitalmente e totalmente filmado em bluescreen. O próprio Snyder já havia usado essa técnica antes em Sin City. Mas se em Sin City ela é bem vinda, justamente pela homenagem que faz aos clássicos filmes noir, em 300 são completamente desnecessários e servem apenas para afastar ainda mais o filme da realidade, tornando sua história apenas numa ficção perdida no tempo.

A beleza a que me refiro é a plástica de alguns quadros memoráveis: a árvore de mortos, a sombra gigante de uma criança, a fera morta por Leônidas e mais uma lista de outros.


Outro ponto que gosto muito em 300 são as coreografias de batalha muito bem elaboradas que alguns soldados espartanos executam individualmente em muitos dos seus embates contra os persas. Todas elas enfatizadas por uma fotografia que desacelera, congela e acelera imagens a todo o tempo, não deixando escapar nenhuma cabeça cortada ou braço dilacerado.

Contudo, não bastasse o treinamento rigoroso (e essa parte do filme é bem real) vivido pelos espartanos para se tornarem soldados letais, Snyder parece injetar esteroides na sua câmera, só faltando colocar uma legenda nos créditos iniciais do filme dizendo: “Reparem como meus espartanos são fortes e poderosos”, apelando para o cúmulo de moldar digitalmente o abdômen da maioria dos espartanos (incluindo os anciãos) para ressaltar seu tamanho e saliência. Não bastasse isso, Snyder dá uma ênfase deplorável e fascista nesse ponto, retratando todos os persas como deficientes físicos, asiáticos, negros como se isso fosse o sinônimo de seu antagonismo. Uma das atitudes mais desprezíveis que já vi e que me espantou na época ninguém se importar com o assunto.


Além disso, na tentativa de criar um filme cujo significado é o “sacrifício em nome da liberdade”, estampado por Leônidas em sua primeira conversa com Xerxes, Snyder mostra uma imensa incoerência (senão ignorância) no quesito História Grega. Liberdade? Estranho uma civilização dependente do trabalho escravo levantar essa bandeira. E o que é a liberdade na cabeça de um espartano, uma vez que seu próprio povo toma a força as crianças da sua mãe para treiná-las pra guerra? Ah! Pra que se ater a esses detalhes, não é mesmo? O importante aqui é o banho de sangue e nada mais.

Por isso que Snyder “esqueceu” de dizer que junto com os 300 espartanos haviam outros 7 mil soldados de toda a Grécia naquela batalha (fora a poderosa marinha ateniense que, em paralelo, derrotou e desmoralizou uma boa parte da frota persa) e que o real motivo de Leônidas ter se sacrificado, foi para que estes soldados conseguissem fugir e se reagrupar em suas cidades.


Por fim, 300 é aquele filme legal de ver pelas suas cenas de ação eletrizantes e embalsamadas de violência. Mas achar que dali se aprende alguma coisa de História (seja da Grécia ou de toda a Humanidade) é, no mínimo, uma ingenuidade digna de pena.

Pra quem quiser conhecer a história real...


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Os Croods


 NOTA: 10

Os Croods talvez seja a animação mais adulta feita pela Dreamworks até hoje. Durante quase toda sua duração, a história apresenta de modo brilhante, reflexivo e, como toda boa animação, divertido como a superproteção e o temor do desconhecido pode prejudicar nosso desenvolvimento e até mesmo nossa razão de viver. Ainda mais inteligente é expor esse debate em meio a uma família de neandertais, mostrando o quanto esse medo é um retrocesso que poderia nos manter até hoje estagnados naquele estágio evolutivo.

Na animação, os Croods são uma família pré-histórica que passa a maior parte do tempo trancados numa pequena caverna pelo seu patriarca, Grug, que vê tudo o que há fora dela como um perigo iminente, evitando assim o contato com qualquer coisa que fuja de sua rotina maçante. Contudo, sua filha Eep, questiona o medo excessivo do pai e anseia para ver o que há no mundo além de sua caverna. Certo dia ela conhece Guy, um jovem a frente de seu tempo que a alerta sobre o fim do mundo que se aproxima. Quando o suposto fim chega, Grug, Eep, Guy e toda a família Crood se vê obrigada a deixar sua tão segura moradia e partir numa jornada de descoberta (e autodescoberta) onde tudo é novo e desconhecido, para encontrarem um novo lar.

Abordando mais uma vez temas como o medo do desconhecido, a abertura para novas possibilidades e conflitos de gerações, o diretor/roteirista Chris Sanders supera seu excelente trabalho em Como Treinar Seu Dragão, conseguindo ser ainda mais exuberante em seu aspecto criativo e ainda mais inteligente na sua narrativa.

Com uma qualidade impecável no design de produção, com cenários que nada deixam a desejar em relação a locações reais, Sanders vai além criando personagens não só bem desenvolvidos tecnicamente (a cena da caça ao ovo em família não deixa dúvidas disso), como ricamente complexos em seus dramas. Seus personagens são tão ricos que ele consegue inserir uma série de conflitos na história sem precisar de nenhum antagonista. O único “vilão” são os medos e o excesso de cautela de Grug. Mas quando paramos pra pensar que a única razão dele agir assim é exatamente seu senso protetor falamos mais alto, vemos que não há como culpa-lo, pelo contrário, ele fica ainda mais carismático.

E interessante também é ver que o personagem que abre os olhos da família (Guy) e os tira da caverna (para a alegria de Sócrates) é um jovem que manuseia o fogo. Uma metáfora do novo suplantando o velho, portando logo o fogo que é o símbolo mítico da nossa evolução.

E apesar de ficar em segundo plano, um personagem que me chamou bastante atenção foi o garoto Thunk. Incapaz de tomar uma única decisão sozinho, Thunk declaradamente depende das ordens ora de seu pai, ora de Guy para fazer qualquer coisa. A riqueza desse personagem é exatamente a representação da massa alienada da população que ora segue os ideais de um, ora os de outro, mas nunca desenvolve seus próprios ideais, atitudes e opiniões.

Por fim, Os Croods, como citado acima, é de uma maturidade tão grande que é quase impossível conter as lágrimas no altruísmo legítimo de Grug, indo contra todos os seus princípios justamente para proteger aqueles que lhe são tão caros e ainda por cima consolando Guy, quando este, no controle da situação vê seu mundo ruir próximo do final da história. Assim, Sanders mostra que apesar da evolução ser inevitável, nunca podemos ignorar a experiência de vida.

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Oz - Mágico e Poderoso




Nota: 6

SINOPSE: No Kansas do início do séc. XX, Oscar Zoroaster (OZ) é um mágico charlatão, egocêntrico e mulherengo que trabalha num decadente circo itinerante. Numa briga por causa de mais uma mulher enganada por ele, Oscar foge num balão. Contudo, ele é acometido por um tornado e vai parar no mundo mágico de OZ, onde existe uma profecia de que certo dia um mágico viria para libertar aquele mundo da Bruxa Malvada e herdaria todo aquele reino. Despertado pela cobiça de herdar todo um império e seu tesouro, Oscar vai à caçada da Bruxa, mas se vê no meio de um jogo de poder e traição entre ela e suas irmãs. Agora, Oscar fica dividido entre salvar aquele mundo ou simplesmente fugir com seu tesouro.

Oz – Mágico e Poderoso já enfrenta um grande problema logo na sua pré-produção. Por uma questão judicial, mesmo sendo o prólogo de O Mágico de Oz (1939), a produção de 2013 não podia fazer nenhuma referência àquela, o que tira boa parte da graça do filme. Dessa forma, os sapatos de rubi de Dorothy são ignorados por completo, os Munchkins são reduzidos a um descartável número musical e a famosa estrada de tijolos amarelos é completamente ofuscada pela cenografia recheada de cores bastante saturadas, lembrando muito os cenários de Alice no País das Maravilhas.


Ainda assim, a direção de Sam Raimi (Homem Aranha 1, 2 e 3) consegue fazer algumas ligações com o Mágico de Oz. A começar pelo mesmo truque de fotografia utilizada naquele filme, mostrando o mundo real em preto e branco e Oz colorida (e muito colorida). Além disso, enquanto estamos no Kansas, a tela é quadrada mostrando um mundo que “espremia” a grandiosidade pretendida por Oscar. Já em Oz, a tela se torna widescreen mostrando a amplitude de possibilidades daquele mundo.

Mas nada deixa tanto a desejar quanto às atuações. James Franco (127 Horas) é perfeito enquanto Oscar é meramente um charlatão e mulherengo. Mas quando o personagem ganha algum peso dramático, Franco vai decepcionando e ficando cada vez mais artificial. Isso só não é pior do que a atuação de Michelle Williams (Ilha do Medo) e seu eterno olhar blasé.

Os efeitos especiais são outro ponto fraco. Basta ver a relação de todos os personagens reais com os concebidos digitalmente, em especial o macaco Finley e a boneca de cerâmica. É comum ver Oscar por exemplo não encará-los diretamente, e numa cena em especial quando ele segura a boneca no colo, o amadorismo é gritante.

Mas por fim, mesmo com as restrições e os problemas citados, Sam Raimi ainda se sai feliz conseguindo ligar a história do seu filme com a aventura que Dorothy e seus amigos, Espantalho, Homem de Lata e Leão viverão 20 anos depois. Além disso, ele transmite uma interessante mensagem sobre as consequências funestas de atos impensados. Afinal, a Bruxa Malvada do Oeste só se transformou nisso após ser mais uma mulher seduzida e enganada por Oscar.

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