sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Jobs


NOTA: 3

SINOPSE: em Jobs, acompanhamos a trajetória do gênio e co-fundador da Apple, Steve Jobs, do momento em que ele abandona a faculdade até seu retorno à empresa no final dos anos 90, após 10 anos afastado.

Quando vi a última cena de Jobs, onde ele grava em 1997 o texto da campanha mais famosa da Apple, "Think Different" me perguntava se em algum momento seu diretor, Joshua Michael Stern se deu o trabalho de ouvir e interpretar a gravação que exala inovação - a essência da empresa e seu fundador - pois ao longo de duas horas ele e seu filme estiveram muito aquém da ousadia e inovação, criando algo arroz com feijão, cheio de falhas e acima de tudo, uma decepção para fãs e entusiastas da figura mítica que foi Steve Jobs.
Praticamente tudo é ruim em Jobs.

Seu roteiro, escrito pelo iniciante Matt Whiteley, é completamente perdido, com arcos dramáticos fracos e mal resolvidos, como o relacionamento de Jobs com a filha que vai da rejeição à adulação sem nada que o justifique, e o número sem fim de pessoas que vão e vem de sua vida, sem uma preocupação muito grande em explicar o porquê ele cria essa aura negativa em volta de sua persona. Além de alguns momentos de sua vida pessoal serem ignorados, como sua adoção - história que sozinha já renderia um filme. E o pior de tudo, a decisão de encerrar a história justamente no melhor momento da vida de Jobs, deixando o espectador se contentar com um cartão resumindo em poucas linhas os grandes feitos que a empresa e o homem fizeram e que marcou a história da indústria tecnológica.


A escalação de Ashton Kutcher pra viver o personagem é outro ponto fraco do filme e mostra que só ter a aparência física de uma pessoa não significa que um ator tem capacidade de interpretá-la. Em nenhum momento Kutcher consegue convencer no papel, chegando ao ápice da superficialidade em seu retorno a Apple em 1997, fazendo um esforço sobrenatural para interpretar os maneirismos de Jobs, como o seu modo de andar. Fora que escalar um ator de talento questionável que basicamente fez sua carreira com comédias, também questionáveis, se mostra um erro desde o início.

E quando escrevo sobre Kutcher se torna impossível não comparar Jobs a outro filme recente, A Rede Social, e seu protagonista, Jesse Einsenberg, que precisa de alguns segundos pra mostrar que ele não só interpretará Mark Zuckerberg, como viverá o personagem. Um show de atuação que desperta um desejo enorme no espectador de mergulhar no mundo dessa outra figura única, elevando ainda mais o nível de um filme já excelente em todos os sentidos.



E Stern, em várias tentativas de parecer genial, revela um grande amadorismo como diretor com algumas cenas deprimentes na sua condução e idealização. Como uma das primeiras cenas do filme onde Jobs em menos de dois minutos consegue anunciar para um amigo sua saída da faculdade, entrar numa conversa com seu professor sobre o mesmo assunto e terminar flertando e levando à cama uma ilustre desconhecida. Ou aquela em que ele apresenta sua visão do papel da Apple para seus seguidores numa conversa estilo walkie-and-talkie que se estende por dias e cenários a fio. Além disso, os poucos momentos bons do filme são sabotados pelo próprio diretor, como o “Uau” emitido por um Jobs boquiaberto e poucas vezes sem ação ao ver o protótipo do primeiro computador pessoal, abafado por uma trilha sonora desnecessária na ocasião.


Sim, como grande fã e entusiasta de Jobs, na pior das hipóteses imaginava que assistiria um excelente filme, mas Stern e sua equipe me mostraram que até mesmo uma figura brilhante como Steve Jobs, pode ter sua história reduzida a mediocridade quando está nas mãos de amadores, assim como fizeram com John Lennon em O Garoto de Liverpool. Jobs é uma obra que tem tudo para passar em branco (e torço pra que isso aconteça), sendo tão superficial que não agrada nem os fãs que sentem o tempo todo faltar algo, e aqueles que se interessam em conhecer a história, vendo um gênio ser interpretado por um galã de comédia pastelão.

TRAILER DE JOBS


COMERCIAL "THINK DIFFRENT" - Apple, 1997


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