Nota: 3
Eu particularmente sou um grande fã de musicais. Acho uma
maneira excelente de fuga da realidade, fora o requinte das produções com coreografias
e músicas de alto nível. E por gostar tanto do gênero me sinto desapontado em
dobro por ter desperdiçado duas horas da minha vida assistindo Rock of Ages, um
filme que cospe na cara do gênero e não conta nem mesmo com uma trama
interessante.
Situada em 1987, Rock of Ages conta a história de Sherrie,
uma adolescente que sai do interior para tentar a vida como cantora em
Hollywood. Lá ela encontra Drew, um aspirante a roqueiro que trabalha num
famoso bar do rock, o Bourbon, agora à beira da falência. Juntos eles formam um
casal que por um mal entendido se separam e cada um segue seu caminho atrás do
mesmo sonho. O Bourbon também foi o bar que revelou Stacee Jaxx, uma lenda viva
do rock em decadência artística e pessoal.
Na verdade não é bem essa a sinopse de Rock of Ages, faltou
citar a beata (Catherina Zeta-Jones) que persegue fervorosamente o rock e seus
seguidores; seu marido infiel; o empresário gananciosos de Stacee Jaxx; a
relação entre o dono do Bourbon (Alec Baldwin) e seu assistente e...ah! A dona
de uma boate de strippers descrente dos homens. Muita coisa pra um filme só?
SIM. Mas quem liga? O importante é dar um jeito de encaixar o extenso setlist
do filme. Tanto faz a história, no fim é tudo Glee mesmo.
Essa é a única sensação que a equipe de roteiristas passa,
encontrar estórias que servissem de pretexto para encaixar a seleção de
músicas, que é um caso a parte. Até estava tentando levar Rock of Ages a sério,
mas quando vi Stacee Jaxx cantando uma música que mesmo sendo composta por Foreigner, fora eternizada de Mariah Carrey, desisti por completo.
Impossível levar um filme assim a sério, bem como seus arranjos e mashups (a
combinação de duas músicas) juvenis que conseguem destruir qualquer clássico.
Além disso, trazem na sua trama principal um casal que só azeda o andamento da
história e deixam cada vez mais pop o mundo do rock; e até agora eu não entendi
o porque é dada uma atenção tão grande ao medo de palco de Drew se em nenhum
momento ele manifesta isso.
Não fosse a atuação de um elenco de peso (e a nota 3 desse
texto representa um ponto pra cada um deles), contando com Tom Cruise,
Catherina Zeta-Jones e Alec Baldwin, Rock of Ages seria um daqueles fiascos que
já iria direto pra Sessão da Tarde.
Embora sem muito nexo um grupo de beatas condenar o Rock em
plenos anos 80 (quando isso na verdade aconteceu nos anos 60), Catherina, que
canta tão bem que já faturou um Oscar por isso em Chicago, protagoniza o melhor
número musical do filme cantando “Hit Me With Your Best Shot”. Baldwin, mesmo
sendo transformado pelo roteiro numa espécie de enciclopédia de rock para
leigos - porque precisa explicar toda hora que banda canta qual música - é o
único a trazer alguma maturidade a um bar que se um dia já foi um templo do
rock, hoje lembra mais a balada da próxima temporada de Malhação.
Mas o mérito do longa é sem dúvida de Tom Cruise que traz em sua
personagem toda a essência do rock, fazendo uma mistura perfeita do estilo
despojado de Axl Rose no seu figurino, maquiagem e atuações no palco (fora as
tatuagens incríveis), com o que há de mais depressivo em Kurt Cobain ao expor
nos bastidores seus dramas pessoais e seu bloqueio artístico. Uma personagem
tão rica quanto Stacee Jaxx só serve para tornar mais pobre um filme que
precisa recorrer a cada dez minutos a um macaco amestrado (Hey Man) para
provocar algum riso.
Resumindo, se desconsiderar os três atores citados acima,
Rock of Ages é um ótimo caso do que não se fazer num musical, além de um
completo desperdício. É o tipo de filme que você pode assistir e deixar o
cérebro em casa, porque ele não será nem um pouco exigido. Gene Kelly deve
estar se revirando no túmulo agora.
CONFIRA O TRAILER
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