Nota: 10
OBS: ESSA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS.
Se eu fosse de outro planeta e estivesse de passagem na Terra
e um terráqueo me dissesse que nesse mundo já houve um homem que convenceu um
país inteiro a desencadear a maior matança que já existiu, condenando uma raça
inteira ao extermínio apenas pela subjetividade de considera-los “impuros”,
levando milhões de judeus ao limiar do sofrimento e mostrando o quão cruel pode
ser o Homem, eu responderia sem hesitar: “Uau, que sinopse! Como chama esse
filme?”.
Mas infelizmente não sou de outro mundo, e sei que a ficção
mais atroz infelizmente foi a mais dura e fria realidade. E mesmo não tendo
vivido durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo não sendo judeu ou nazista,
sinto vergonha em saber que vivo mundo que foi palco desse espetáculo nefasto.
E pensando nisso essa coluna faz uma pausa na crítica dos lançamentos da semana
para falar de um filme que soube retratar como ninguém a desolação de um povo
frente à brutalidade de seu opressor e indo além, conseguindo dar um rumo
otimista onde essa palavra não existia mais. Estou falando de A Lista de
Schindler, o melhor filme de Steven Spielberg em minha opinião.
Spielberg (Cavalo de Guerra; As Aventuras de Tintim) na verdade não criou uma obra-prima, mas sim um
conjunto de pequenas obras-primas em seu filme, contando com várias cenas
memoráveis. O corredor feito de lápides no campo de concentração; a chaminé que
soava como um monstro despejando no ar a “neve” que nada mais era do que cinzas
de judeus incinerados; a execução de um rabino onde todas as armas falham na
hora de mata-lo, além de uma das sequencias mais cruéis já vistas no cinema, o
extermínio em massa de judeus nos guetos, comandado por Goeth. Enfim, são
tantas cenas desse nível que as quase três horas de filme acabam parecendo
pouco tempo para mostrar tudo.
O uso da fotografia em preto e branco é outro trunfo do
filme. Além de situar melhor a história com seu tempo também confere uma
veracidade muito maior ao terror retratado. Um filme colorido não teria graça nem
causaria comoção, pois o tempo todo daria para perceber a artificialidade de
cada cena. Além disso, impossibilitaria momentos únicos como a menina de casaco
vermelho circulando perdida frente ao extermínio no gueto e uma vela apenas com
sua chama em cores, num belo sinal de esperança frente a toda àquela
adversidade.
Não bastasse um diretor talentosíssimo, o trabalho do trio de
atores principais tornam a narrativa ainda mais interessante, graças as suas
atuações espetaculares (e numa das maiores injustiças do Oscar, nenhum dos três
recebeu uma estatueta). Liam Neesom (Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge; Fúria de Titãs 2) é impecável na composição de seu Schindler,
um playboy oportunista inabalável que vai evoluindo até se tornar num
filantropo que encerra sua participação chorando feito criança por não ter
conseguindo salvar mais vidas, graças aos seus excessos com luxo, carros e
mulheres.
Ben Kingsley (Ilha do Medo; A Invenção de Hugo Cabret) vive um Itzak Steirn que mesmo numa completa
situação de submissão tem a coragem constante de encontrar meios de ajudar seu
povo e ser duro o bastante para confrontar seu chefe (Schindler), modificando
pouco a pouco seu modo de pensar.
E por fim, Ralph Fiennes (Harry Potter; Fúria de Titãs 2) criando um dos maiores vilões que o
cinema já viu, Amon Goeth, um general nazista que toda manhã mata alguns judeus
de sua sacada, apenas para praticar sua pontaria. E mesmo sendo o símbolo da
maldade, Goeth sente uma profunda inveja de Schindler por ver o amigo ser muito
superior a ele sem necessitar de nenhum gesto hostil.
Acredito que a grande mensagem que Spielberg passa em seu filme
não seja apenas contar uma história de otimismo, mas sim mostrar que para ser
um herói não é preciso voar, contar com armas ou uma força descomunal, e muito
menos pertencer a um credo ou povo. É preciso apenas o respeito à vida de outro
ser humano e o desejo de mudar, não importa a que custo. É disso que os
verdadeiros heróis são feitos.
CONFIRA O TRAILER
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