Tenho ficado muito feliz com o modo como os alguns heróis
vem sendo retratados ultimamente. Crente de que Homem de Ferro 3 seria ainda
mais fantástico do que Os Vingadores e seus antecessores, fui felizmente
surpreendido ao ver, pelo contrário, um Tony Stark muito mais humanizado e
frágil. Assim, a Marvel segue a mesma trilha da DC no retrato do Batman em OCavaleiro das Trevas Ressurge e a James Bond, em Skyfall, fugindo dos roteiros
implausíveis e de cenas totalmente dependentes de efeitos especiais, optando,
ao invés disso, em explorar a complexidade e se aprofundar nos dramas de seus
personagens. E não há cena que retrate melhor isso do que aquela em que Stark,
após sofrer um sério ataque é obrigado a arrastar sua armadura pela neve,
incapaz de utilizar seu equipamento com tecnologia de ponta.
Numa estória que acontece pouco tempo depois dos eventos de
Os Vingadores, Homem de Ferro 3 retrata um Tony Stark com uma séria crise de
identidade ao combater ao lado de espiões, um deus, um super soldado e um Hulk
e conviver com o fato de que ele mesmo, de acordo com sua própria definição,
não passava de um mecânico, sem nenhum verdadeiro super poder ou habilidade
inata, senão a de fazer armaduras. Com sérias crises de ansiedade ocasionadas
em função de sua experiência de viajar para outra dimensão em Os Vingadores, no
que ele chama de O Buraco da Minhoca, Stark dedica todo seu tempo em construir
mais e mais armaduras, criando um verdadeiro arsenal para suprir de alguma
forma essa sua “carência”. Contudo, uma nova ameaça surge, o Mandarim, um
terrorista que ameaça a América e põe o herói a prova em seu maior desafio.
Um dos pontos mais interessantes em O Homem de Ferro 3 é que
seu novo diretor, Shane Black, consegue criar toda essa complexidade em torno
da figura de Tony Stark e ainda assim consegue manter vários dos elementos que
consagraram a trilogia bem evidentes; sendo o principal deles o humor sem
sombra de dúvida. Seu uso é tão bem dosado e pontuado que serve até de impulso
para uma importante revelação sobre o papel do Mandarim na história.
Outro ponto são as cenas de ação, as melhores de toda a
trilogia. Bem articuladas, com excelentes efeitos especiais e claro, de tirar o
fôlego. A destruição completa da casa de Stark em Malibu, é o melhor exemplo
disso, com um bom destaque também para a cena da queda do Força Aérea Um e o
consequente resgate dos passageiros por um Homem de Ferro agora controlado por
controle remoto. Aliás essa foi uma novidade que gostei bastante: são poucos os
momentos em que Stark veste sua armadura. Seja pela alta tecnologia que elas
possuem ou pela fragilidade da situação, Homem de Ferro 3 é totalmente centrado
na figura de Stark, o homem de carne e osso. Isso ocorre até mesmo no clímax do
filme onde todas as suas armaduras entram em combate no piloto-automático,
ficando seu criador a mercê dos ataques inimigos.
E não dá pra escrever sobre Homem de Ferro sem falar de seu
protagonista. Robert Downey Jr está ainda mais afiado no papel, com sua
versatilidade de sempre e tiradas clássicas. Com essa personalidade, não
surpreende ver o exagero da sua coreografia para testar uma armadura. Ainda
assim, chega a ser comovente ver sua fragilidade em suas crises de ansiedade e
no seu temor de perder aquela que mais ama, Pepper (Gwyneth Paltrow). E mais
uma vez ele é feliz em contracenar com atores de peso como Guy Pearce e Ben
Kingsley, sendo o último digno de ao menos uma indicação ao Oscar pela
excelente atuação nos dois momentos completamente distintos de seu personagem,
o Mandarim.
Mas nem tudo são flores. Com uma estória tão rica,
decepciona ver Aldrich Killian (Guy Pearce) ser primeiramente retratado como a
caricatura do nerd que busca vingança por aqueles que o ignorou. E em nenhum
momento se explica o que seria a reação de uma invenção citada no começo do
filme que no futuro transformaria o vilão do longa e seus seguidores numa
espécie de homens de lava. Além do mais, embora ache Rebecca Hall uma ótima atriz,
sua personagem (Maya) é completamente descartável.
Enfim, algumas pequenas falhas não podem ofuscar o brilho da
trilogia mais bem sucedida da Marvel e em seus últimos minutos já bate a
saudade daquele sarcasmo tão característico de Stark (que voltará, de acordo
com a última frase dos créditos). A ousadia da Marvel em fugir dos seus filmes
tradicionalmente superficiais talvez tenha criado seu maior sucesso. Vamos ver
o que os outros heróis dos Vingadores tem para nos oferecer e se, com todos os
seus poderes, conseguem superar o carisma de seu mecânico.
CONFIRA O TRAILER
Um comentário:
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