sexta-feira, 19 de abril de 2013

Review - 300


NOTA: 6

300 é um daqueles filmes que eu amo odiar. Por um lado, é decepcionante ver um filme se apossar e distorcer uma das histórias mais envolventes da humanidade, por simplesmente não encontrar outro meio de focar nossa atenção ao banho de sangue promovido pelos espartanos. Por outro, é inegável reconhecer a beleza na plástica de uma série de quadros promovidos por Zack Snyder em parceria com o fotógrafo Larry Fong.

Por beleza, com certeza não me refiro ao “inovador” cenário concebido digitalmente e totalmente filmado em bluescreen. O próprio Snyder já havia usado essa técnica antes em Sin City. Mas se em Sin City ela é bem vinda, justamente pela homenagem que faz aos clássicos filmes noir, em 300 são completamente desnecessários e servem apenas para afastar ainda mais o filme da realidade, tornando sua história apenas numa ficção perdida no tempo.

A beleza a que me refiro é a plástica de alguns quadros memoráveis: a árvore de mortos, a sombra gigante de uma criança, a fera morta por Leônidas e mais uma lista de outros.


Outro ponto que gosto muito em 300 são as coreografias de batalha muito bem elaboradas que alguns soldados espartanos executam individualmente em muitos dos seus embates contra os persas. Todas elas enfatizadas por uma fotografia que desacelera, congela e acelera imagens a todo o tempo, não deixando escapar nenhuma cabeça cortada ou braço dilacerado.

Contudo, não bastasse o treinamento rigoroso (e essa parte do filme é bem real) vivido pelos espartanos para se tornarem soldados letais, Snyder parece injetar esteroides na sua câmera, só faltando colocar uma legenda nos créditos iniciais do filme dizendo: “Reparem como meus espartanos são fortes e poderosos”, apelando para o cúmulo de moldar digitalmente o abdômen da maioria dos espartanos (incluindo os anciãos) para ressaltar seu tamanho e saliência. Não bastasse isso, Snyder dá uma ênfase deplorável e fascista nesse ponto, retratando todos os persas como deficientes físicos, asiáticos, negros como se isso fosse o sinônimo de seu antagonismo. Uma das atitudes mais desprezíveis que já vi e que me espantou na época ninguém se importar com o assunto.


Além disso, na tentativa de criar um filme cujo significado é o “sacrifício em nome da liberdade”, estampado por Leônidas em sua primeira conversa com Xerxes, Snyder mostra uma imensa incoerência (senão ignorância) no quesito História Grega. Liberdade? Estranho uma civilização dependente do trabalho escravo levantar essa bandeira. E o que é a liberdade na cabeça de um espartano, uma vez que seu próprio povo toma a força as crianças da sua mãe para treiná-las pra guerra? Ah! Pra que se ater a esses detalhes, não é mesmo? O importante aqui é o banho de sangue e nada mais.

Por isso que Snyder “esqueceu” de dizer que junto com os 300 espartanos haviam outros 7 mil soldados de toda a Grécia naquela batalha (fora a poderosa marinha ateniense que, em paralelo, derrotou e desmoralizou uma boa parte da frota persa) e que o real motivo de Leônidas ter se sacrificado, foi para que estes soldados conseguissem fugir e se reagrupar em suas cidades.


Por fim, 300 é aquele filme legal de ver pelas suas cenas de ação eletrizantes e embalsamadas de violência. Mas achar que dali se aprende alguma coisa de História (seja da Grécia ou de toda a Humanidade) é, no mínimo, uma ingenuidade digna de pena.

Pra quem quiser conhecer a história real...


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