NOTA: 6
300 é um daqueles filmes que eu amo odiar. Por um lado, é
decepcionante ver um filme se apossar e distorcer uma das histórias mais
envolventes da humanidade, por simplesmente não encontrar outro meio de focar
nossa atenção ao banho de sangue promovido pelos espartanos. Por outro, é
inegável reconhecer a beleza na plástica de uma série de quadros promovidos por
Zack Snyder em parceria com o fotógrafo Larry Fong.
Por beleza, com certeza não me refiro ao “inovador”
cenário concebido digitalmente e totalmente filmado em bluescreen. O próprio
Snyder já havia usado essa técnica antes em Sin City. Mas se em Sin City ela é
bem vinda, justamente pela homenagem que faz aos clássicos filmes noir, em 300 são completamente
desnecessários e servem apenas para afastar ainda mais o filme da realidade,
tornando sua história apenas numa ficção perdida no tempo.
A beleza a que me refiro é a plástica de alguns quadros
memoráveis: a árvore de mortos, a sombra gigante de uma criança, a fera morta
por Leônidas e mais uma lista de outros.
Outro ponto que gosto muito em 300 são as coreografias de
batalha muito bem elaboradas que alguns soldados espartanos executam
individualmente em muitos dos seus embates contra os persas. Todas elas
enfatizadas por uma fotografia que desacelera, congela e acelera imagens a todo
o tempo, não deixando escapar nenhuma cabeça cortada ou braço dilacerado.
Contudo, não bastasse o treinamento rigoroso (e essa parte
do filme é bem real) vivido pelos espartanos para se tornarem soldados letais, Snyder
parece injetar esteroides na sua câmera, só faltando colocar uma legenda nos
créditos iniciais do filme dizendo: “Reparem como meus espartanos são fortes e poderosos”,
apelando para o cúmulo de moldar digitalmente o abdômen da maioria dos
espartanos (incluindo os anciãos) para ressaltar seu tamanho e saliência. Não
bastasse isso, Snyder dá uma ênfase deplorável e fascista nesse ponto,
retratando todos os persas como deficientes físicos, asiáticos, negros como se
isso fosse o sinônimo de seu antagonismo. Uma das atitudes mais desprezíveis
que já vi e que me espantou na época ninguém se importar com o assunto.
Além disso, na tentativa de criar um filme cujo significado
é o “sacrifício em nome da liberdade”, estampado por Leônidas em sua primeira
conversa com Xerxes, Snyder mostra uma imensa incoerência (senão ignorância) no
quesito História Grega. Liberdade? Estranho uma civilização dependente do
trabalho escravo levantar essa bandeira. E o que é a liberdade na cabeça de um
espartano, uma vez que seu próprio povo toma a força as crianças da sua mãe
para treiná-las pra guerra? Ah! Pra que se ater a esses detalhes, não é mesmo?
O importante aqui é o banho de sangue e nada mais.
Por isso que Snyder “esqueceu” de dizer que junto com os 300
espartanos haviam outros 7 mil soldados de toda a Grécia naquela batalha (fora
a poderosa marinha ateniense que, em paralelo, derrotou e desmoralizou uma boa
parte da frota persa) e que o real motivo de Leônidas ter se sacrificado, foi
para que estes soldados conseguissem fugir e se reagrupar em suas cidades.
Por fim, 300 é aquele filme legal de ver pelas suas cenas de
ação eletrizantes e embalsamadas de violência. Mas achar que dali se aprende
alguma coisa de História (seja da Grécia ou de toda a Humanidade) é, no mínimo,
uma ingenuidade digna de pena.
Pra quem quiser conhecer a história real...
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