sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita


Nota: 7
É impressionante como um gênero tão antigo como o western consiga até hoje fazer tanto sucesso. Desde O Grande Roubo de Trem, passando por John Wayne e Leone, chegamos hoje no extremo de cowboys enfrentarem aliens no velho oeste (Cowboys VS Aliens, ainda não lançado).
E sendo um gênero tão aclamado, especialmente nos EUA, não é de assustar termos um representante na briga pelo Oscar 2011.

Adaptado pelos irmãos Coen a partir da obra homônima estrelada por John Wayne (da qual não farei comparações, pois não assisti a primeira versão), Bravura Indômita conta a história de Mattie Ross, uma jovem muito a frente de seu tempo que viajando para a cidade onde se encontra o corpo de seu pai recentemente assassinado, contrata Rooster (Jeff Bridges), um militar já velho, para se vingar do assassino.

Em muitos aspectos, especialmente no que concerne à fotografia, os Coen nada mais fazem do que seguirem a cartilha: uma série de tomadas com planos gerais para valorizar o cenário, e o clássico plano americano, desenvolvido exclusivamente pra esse gênero.

Porém, há também as características que tornam uma obra exclusiva dos Coen: seus personagens. Primeiramente pela falsa expectativa que é feita sobre dois deles (Rooster e Tom Chaney), extremamente superestimado pela população local e, quando finalmente apresentados ao público, vemos que apesar de um fundo de verdade em tudo que foi dito, há também uma boa dose de exagero, embora seja realmente cruel quando Rooster descreve num depoimento tão friamente o modo como eliminou toda uma família.

E não só as expectativas, mas também o figurino os definem muito bem. Desde o tampão no olho de Rooster nos fazendo pensar em que tipo de missão ele se metia quando em atividade, passando pelo uniforme de ranger de LaBoeuf (Matt Damon), até as roupas contidas e conservadoras de Mattie que tornam evidentes sua personalidade.

Mas parte das atuações não acompanham o trabalho realizado pelos Coen e criam personagens fracos e até incômodos. Mattie é insuportável e se apóia o tempo todo na lei para obrigar Rooster e LaBoeuf a ajudá-la, usando basicamente a mesma frase sem força nenhuma: “Se não fizer o que eu quero eu te processo” (e reparem que ninguém dá a mínima pra ela quando diz isso). Matt Damon também interpreta um LaBoeuf apático muito aquém da valentia e audácia características dos rangers (pelo menos na ficção).

Já o sempre ótimo Jeff Bridges não decepciona com seu Rooster que parece ter o objetivo cego (sem trocadilhos com seu tampão no olho) de capturar o vilão da trama Ned Pepper, uma missão não cumprida em sua carreira que o deixa claramente frustrado, estando alheio a tudo em volta, inclusive o desejo de vingança de sua contratante. Aliás, apesar de duas participações bem curtas, Josh Brolin e Barry Pepper (interpretando respectivamente Tom Chaney e Ned Pepper), trabalham de forma brilhante, frustrando novamente o espectador que esperava ver dois bandidos sanguinários quando na verdade vemos o primeiro quase não tendo consciência de seus atos, num retardamento mental evidente, e o último que tira todo o glamour dos criminosos cheios de pompa do cinema quando diz estar preocupado porque ele e seu bando passam fome.

E embora os Coen tenham inserido algumas cenas sem nenhuma importância para a narrativa apenas para dar um ar característico de humor de seus filmes, como aquela em que Rooster e LaBoeuf disputam quem tem a melhor pontaria atirando em biscoitos, por outro lado inserem outras que somente dois profissionais competentes como eles fariam de modo que não soasse artificial Me refiro ao duelo final entre Rooster contra Pepper e mais três capangas que de início parece ser uma marmelada, mas se mostra muito plausível na sua execução.

Mesmo pertencendo a um gênero tão receptivo ao cinema, acho pouco provável após a euforia do Oscar Bravura Indômita conseguir manter um patamar de sucesso. Isso porque o que tinha de melhor nos filmes do velho oeste, ou seja, os conflitos cheio de tiroteios, aqui quase inexiste, pois os Coen preferiram se focar na relação entre Mattie e Rooster, sugerindo o início de uma amizade e uma viagem de auto-descoberta que de forma alguma acontece.

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