sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

127 Horas - de onde tudo poderia dar errado...uma obra-prima!


Nota: 10

Quem não se lembra da história do rapaz que ficou 5 dias com a mão presa numa rocha num canyon afastando de toda civilização e que, pra piorar, não avisou ninguém onde estava, tendo que amputar o próprio braço pra se salvar? Bom, para os poucos que não se recordam, eu acabei de contar o filme inteiro acima. Mas calma! O privilégio de se assistir 127 Horas não é essa história batida que é toda contada no seu próprio trailer de divulgação. O que há de extraordinário no filme é ver como um longa que tinha tantas chances de dar errado se transformou numa verdadeira obra-prima.

E por que poderia dar errado? Por três motivos. Primeiro: toda a ação se passa num único lugar: no canyon onde Aron Ralston está com seu braço preso. Ou seja, uma narrativa bastante truncada que possibilita uma grande chance de se tornar monótona. Segundo: há basicamente um único personagem no filme inteiro (Aron). Sendo assim, 127 Horas praticamente depende exclusivamente do trabalho de seu protagonista (James Franco) para funcionar. Um ator ruim nessa hora faria com que milhões de dólares fossem direto para o ralo. Terceiro: por mais impressionante que seja o drama de ter que cortar o próprio braço para sobreviver, fica realmente difícil compilar tudo isso em mais de uma hora de filme. O risco de levar o espectador ao tédio é enorme.

Mas então por que apesar de tudo 127 Horas se sobressaiu? A isso cabe uma resposta minuciosa.
Eu credito a três fatores o seu brilhantismo. Primeiramente sem qualquer sombra de dúvida o trabalho de James Franco interpretando Aron Ralston. Franco sempre foi um bom ator, mas nunca teve uma grande oportunidade, e é ótimo ver que na primeira delas ele se agarrou com unhas e dentes em seu trabalho. Seu Ralston mostra um auto-controle fora do comum numa situação que por si só é desesperadora a qualquer um. Também carrega consigo uma sapiência além de seu tempo: desde a série de engenhocas que projetou para se salvar, até o talk show onde entrevistando a si mesmo (num dos momentos mais interessantes do filme), chega a conclusão que jamais o resgatariam dali, ou seja, ele só podia contar consigo mesmo.

O segundo fator é a edição extremamente competente e eficaz que, além de levar quase todos os créditos da cena que acabei de citar acima, também sabe dosar bem o drama de Aron com flashbacks de seu passado, e claras alusões de alucinação, quando por exemplo ele se imagina na festa em que foi convidado naquela noite e que, por uma razão óbvia, não compareceu. Ou mesmo na epifania que tem com seu filho que ainda não nasceu como força motora para levá-lo a lutar pela sua sobrevivência.

E o terceiro, mas não menos importante fator, é a direção excelente de Danny Boyle. Ele que acaba de vir de oito Oscar’s com Quem Quer Se Um Milionário, aqui não busca se sobressair a sua equipe, ficando claro que eles trabalharam no mesmo nível o tempo todo. Além disso Boyle cria cenas marcantes, belas e terríveis, sendo algumas inesquecíveis. A começar por aquela onde num grito de desespero de Aron a câmera vai se afastando pra cima revelando pouco a pouco a imensidão onde ele se encontrava, mostrando o quão em vão eram seus pedidos de socorro, uma vez que nem nós mesmos o escutamos mais. Há a cena belíssima do primeiro amanhecer depois de Ralston ficar preso onde o sol vai surgindo e sutilmente como um manto, vai invadindo o canyon e expulsando suas sombras. E é lógico que não poderia deixar de citar a cena mais forte de 127 Horas e talvez uma das mais fortes de todos os tempos. Sim! É a cena onde ele decide amputar seu braço, apresentada em detalhes com todo carne e sangue que tem direito. Sugiro que vão de estômago preparado ao cinema.

Bom, há histórias da vida real que por mais comoventes ou tenebrosas que possam ser nunca dariam um bom filme. E sinceramente, antes de ir ao cinema era essa a sensação que tive sobre 127 Horas, pois não conseguia imaginar que graça poderia ter ficar 90 minutos vendo um homem com o braço preso numa rocha, mesmo havendo todo o seu claro contexto de luta pela sobrevivência. Ainda bem que paguei minha língua e fui, junto com todo o público, presenteado com esse filme que já é histórico, devido ao casamento perfeito do trabalho de toda equipe. E agora, que finalmente vi todos os concorrentes na briga do Oscar 2011, considero esse o meu palpite como o Melhor Filme, mesmo achando pouco provável que irá ganhar.

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