quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim




NOTA: 10

Em 1981 Steven Spielberg e George Lucas fizeram uma das parcerias mais promissoras do cinema que resultou em nada mais, nada menos do que a trilogia Indiana Jones, uma produção lucrativa que rendeu 4 filmes, série de TV, além de eternizar o professor e aventureiro nas horas vagas vivido por Harrison Ford. Eis que mais de 30 anos depois, Spielberg, um exímio contador de histórias encontra um novo parceiro que se julgar pelo primeiro filme da dupla, As Aventuras de Tintim, promete ser tão promissora quanto a formada décadas atrás. Estou falando de Peter Jackson, diretor que “só” dirigiu a trilogia O Senhor dos Anéis, o remake de King Kong e lançará neste ano O Hobbit.

Numa Europa pós-guerra, Tintim é um jovem e promissor repórter que certa manhã se depara numa feira com uma réplica de uma antiga caravela, o Licorne. Assim que arremata a peça, outro homem, Sakharim, o pressiona sem sucesso, a vendê-la a qualquer preço. Intrigado com a persistência do homem, Tintim decide investigar o que há de tão interessante no Licorne e descobre que ele contém um mistério que o levará a um capitão alcoólatra, um tesouro escondido e acima de tudo muitas aventuras.


Adaptado de dois quadrinhos criados por Hergé (O Segredo de Licorne e O Tesouro de Rackham, o Terrível) o roteiro assinado por Steven Moffat e Edgar Wright, mesmo mudando consideravelmente seus originais, não prejudica o argumento principal da história: um misterioso barco e o tesouro que ele esconde. E acertadamente elimina personagens que viriam a atrapalhar a compreensão do espectador e exigiriam longas introduções, o que poderia tornar cansativa uma narrativa feita para evoluir ininterruptamente. Mas mesmo fugindo de alguns elementos do texto original, a dupla consegue se aproximar do universo dos quadrinhos ao tentar manter boa parte das revelações da trama centradas nas falas dos personagens.

E a qualidade incrível de sua animação, baseada na captação de movimentos de pessoas reais, não seria tão bem sucedida se não fosse o trabalho de quem praticamente inventou essa tecnologia ao conceber a criatura Sméagol em O Senhor dos Anéis. Sim, estou falando de Peter Jackson que conseguiu com essa técnica aproximar do público jovem uma história que sempre possuiu uma trama bem complexa, sem deixar de agradar os mais velhos e nostálgicos que acompanhavam desde cedo o herói nos quadrinhos e na TV. Nunca vi tamanha perfeição e riqueza de detalhes numa animação. Até mesmo a mudança na cor da pele do Capitão Haddock é percebida quando ele se enfurece. E Peter parecia querer se desafiar o tempo todo, criando situações tecnicamente difíceis de conceber, como a cena de abertura onde Tintim é revelado através de uma série de espelhos posicionados em ângulos diferentes ou pouco depois onde ele é visto através de uma lupa.




Mas o mérito principal é mesmo de Steven Spielberg que vinha da direção razoável de Cavalo de Guerra para proporcionar um verdadeiro espetáculo de estilo, criatividade e originalidade. Tintim se mantém num ritmo constante de aventura e ação onde numa piscada de olhos mais longa se perde muito do filme. Com isso, ele se aproxima e rejuvenesce a saga Indiana Jones, e atrevo dizer que tem tudo para repetir seu sucesso. Além disso, propõe soluções de extrema criatividade para diversas cenas e evita cair nas mesmos clichês, como na batalha entre duas caravelas onde uma literalmente salta sobre a outra. Ou na cena onde ele resgata uma outra personagem dos quadrinhos, a Madame Castafiore, para numa apresentação de canto lírico conseguir com sua voz aguda quebrar um vidro a prova de balas que guardava uma preciosa relíquia.



Constantemente eu critico sequencias, mas em As Aventuras de Tintim saí do cinema muito ansioso para ver o herói num novo filme. A reunião de dois gênios como Spielberg e Jackson conseguem proporcionar não só esse desejo, mas também todo o encanto e magia que só o cinema consegue oferecer. O maior beneficiado é o público que ganha a oportunidade de ver uma adaptação de uma obra já excelente nos quadrinhos se manter nesse padrão nas telas.

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Indicados ao Oscar 2012



Fonte: Cinema em Cena

Saiu hoje a lista dos indicados ao Oscar 2012 que acontecerá dia 26 de fevereiro. Os mais indicados foram O Artista e A Invenção de Hugo Cabret com 10 e 11 indicações respectivamente. E as surpresas foram Cavalo de Guerra concorrer ao prêmio de melhor filme e As Aventuras de Tintim ficar fora da disputa de melhor animação.

Só pra não fugir do costume, a imensa maioria dos filmes ainda não estreou aqui no Brasil. De qualquer forma deixei o link para os filmes que já tiverama crítica publicada nesse blog.

Confira a lista completa abaixo:


FILME
O Artista - Thomas Langmann

Os Descendentes - Jim Burke, Alexander Payne e Jim Taylor

Tão Forte e Tão Perto - Scott Rudin

Histórias Cruzadas - Brunson Green, Chris Columbus e Michael Barnathan

A Invenção de Hugo Cabret - Graham King e Martin Scorsese

Meia-Noite em Paris - Letty Aronson e Stephen Tenenbaum

O Homem que Mudou o Jogo - Michael De Luca, Rachael Horovitz e Brad Pitt

A Árvore da Vida - Indicados a serem determinados

Cavalo de Guerra - Steven Spielberg e Kathleen Kennedy


DIRETOR
Terence Mallick por A Árvore da Vida

Martin Scorsese por A Invenção de Hugo Cabret

Woody Allen por Meia-Noite em Paris

Michel Hazanavicius por O Artista

Alexander Payne por Os Descendentes


ATOR
Demián Bichir por A Better Life

Gary Oldman por O Espião que Sabia Demais

George Clooney por Os Descendentes

Jean Dujardin por O Artista

Brad Pitt por O Homem que Mudou o Jogo


ATRIZ
Viola Davis por Histórias Cruzadas

Glenn Close por Albert Nobbs

Rooney Mara por Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres

Meryl Streep por A Dama de Ferro

Michelle Williams por Sete Dias com Marilyn


ATOR COADJUVANTE
Max Von Sydow por Tão Forte e Tão Perto

Christopher Plummer por Beginners

Kenneth Branagh por Sete Dias com Marilyn

Nick Nolte por Guerreiro

Jonah Hill por O Homem que Mudou o Jogo


ATRIZ COADJUVANTE
Berenice Bejo por O Artista

Jessica Chastain por Histórias Cruzadas

Melissa McCarthy por Missão Madrinha de Casamento

Janet McTeer por Albert Nobbs

Octavia Spencer por Histórias Cruzadas


ROTEIRO ADAPTADO
Os Descendentes - Alexander Payne and Nat Faxon & Jim Rash

A Invenção de Hugo Cabret - John Logan

Tudo Pelo Poder - George Clooney & Grant Heslov e Beau Willimon

O Homem que Mudou o Jogo - Steven Zaillian e Aaron Sorkin, história de Stan Chervin

O Espião que Sabia Demais - Bridget O'Connor & Peter Straughan


ROTEIRO ORIGINAL
O Artista - Michel Hazanavicius

Missão Madrinha de Casamento - Annie Mumolo & Kristen Wiig

Margin Call: O Dia Antes do Fim - J.C. Chandor

Meia-Noite em Paris - Woody Allen

A Separação - Asghar Farhadi


ANIMAÇÃO
Um Gato em Paris - Alain Gagnol e Jean-Loup Felicioli

Chico & Rita - Fernando Trueba e Javier Mariscal

Kung Fu Panda 2 - Jennifer Yuh Nelson

Gato de Botas - Chris Miller

Rango - Gore Verbinski


FILME ESTRANGEIRO
Bullhead (Bélgica) - Michael R. Roskam

Monsieur Lazhar (Canadá) - Philippe Falardeau

A Separação (Irã) - Asghar Farhadi


Footnote (Israel) - Joseph Cedar

In Darkness (Polônia) - Agnieszka Holland


FOTOGRAFIA
O Artista - Guillaume Schiffman

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres - Jeff Cronenweth

A Invenção de Hugo Cabret - Robert Richardson

A Árvore da Vida - Emmanuel Lubezki

Cavalo de Guerra - Janusz Kaminski


DIREÇÃO DE ARTE
O Artista - Laurence Bennett (Design de Produção) e Robert Gould (Decoração de Set)

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 - Stuart Craig (Design de Produção) e Stephenie McMillan (Decoração de Set)

A Invenção de Hugo Cabret - Dante Ferretti (Design de Produção) e Francesca Lo Schiavo (Decoração de Set)

Cavalo de Guerra - Rick Carter (Design de Produção) e Lee Sandales (Decoração de Set)

Meia Noite em Paris - Anne Seibel (Design de Produção) e Hélène Dubreuil (Decoração de Set)


FIGURINO
Anônimo - Lisy Christl

O Artista - Mark Bridges

A Invenção de Hugo Cabret - Sandy Powell

Jane Eyre - Michael O'Connor

W.E. - Arianne Phillips


DOCUMENTÁRIO
Hell and Back Again - Danfung Dennis e Mike Lerner

If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front - Marshall Curry e Sam Cullman

Paradise Lost 3: Purgatory - Joe Berlinger e Bruce Sinofsky

Pina - Wim Wenders e Gian-Piero Ringel

Undefeated - TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas


CURTA DOCUMENTÁRIO
The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement - Robin Fryday e Gail Dolgin

God is the Bigger Elvis - Rebecca Cammisa e Julie Anderson

Incident in New Baghdad - James Spione

Saving Face - Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy

The Tsunami and the Cherry Blossom - Lucy Walker e Kira Carstensen


MONTAGEM
O Artista - Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius

Os Descendentes - Kevin Tent

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres - Kirk Baxter and Angus Wall

A Invenção de Hugo Cabret - Thelma Schoonmaker

O Homem que Mudou o Jogo - Christopher Tellefsen


MAQUIAGEM
Albert Nobbs - Martial Corneville, Lynn Johnston e Matthew W. Mungle

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 - Nick Dudman, Amanda Knight e Lisa Tomblin

A Dama de Ferro - Mark Coulier e J. Roy Helland



MÚSICA - TRILHA SONORA ORIGINAL
As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne - John Williams

O Artista - Ludovic Bource

A Invenção de Hugo Cabret - Howard Shore

O Espião que Sabia Demais - Alberto Iglesias

Cavalo de Guerra - John Williams


MÚSICA - CANÇÃO ORIGINAL
"Man or Muppet" de Os Muppets - Letra e música de Bret McKenzie

"Real in Rio" de Rio - Letra de Siedah Garret, música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown


CURTA METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Dimanche/Sunday - Patrick Doyon

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore - William Joyce e Brandon Oldenburg

La Luna - Enrico Casarosa

A Morning Stroll - Grant Orchard e Sue Goffe

Wild Life - Amanda Forbis e Wendy Tilby


CURTA METRAGEM
Pentecost - Peter McDonald e Eimear O'Kane

Raju - Max Zähle e Stefan Gieren

The Shore - Terry George e Oorlagh George

Time Freak - Andrew Bowler e Gigi Causey

Tuba Atlantic - Hallvar Witzø


MONATEGEM DE SOM
Drive - Lon Bender e Victor Ray Ennis

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres - Ren Klyce

A Invenção de Hugo Cabret - Philip Stockton e Eugene Gearty

Transformers: O Lado Oculto da Lua - Ethan Van der Ryn e Erik Aadahl

Cavalo de Guerra - Richard Hymns e Gary Rydstrom


MIXAGEM DE SOM
Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres - David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Bo Persson

A Invenção de Hugo Cabret - Tom Fleischman e John Midgley

O Homem que Mudou o Jogo - Deb Adair, Ron Bochar, Dave Giammarco e Ed Novick

Transformers: O Lado Oculto da Lua - Greg P. Russell, Gary Summers, Jeffrey J. Haboush e Peter J. Devlin

Cavalo de Guerra - Gary Rydstrom, Andy Nelson, Tom Johnson e Stuart Wilson


EFEITOS VISUAIS
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 - Tim Burke, David Vickery, Greg Butler e John Richardson

A Invenção de Hugo Cabret - Rob Legato, Joss Williams, Ben Grossman e Alex Henning

Gigantes de Aço - Erik Nash, John Rosengrant, Dan Taylor e Swen Gillberg

Planeta dos Macacos: A Origem - Joe Letteri, Dan Lemmon, R. Christopher White e Daniel Barrett

Transformers: O Lado Oculto da Lua - Dan Glass, Brad Friedman, Douglas Trumbull e Michael Fink

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sherlock Holmes 2 - O Jogo das Sombras


NOTA: 6


Eu costumo ficar sempre desconfiado de continuações. Poucas vezes elas acontecem pelo potencial artístico e pelo poder de sua história. Na maior parte delas é levado em conta apenas seu potencial comercial, resultando sempre em seqüências onde cada filme lançado é muito pior - ou na melhor das hipóteses uma cópia - de seu antecessor. Há exceções e o Brasil foi palco de uma das melhores com Tropa de Elite 2, mas em geral isso não acontece. E infelizmente esse é o caso de Sherlock Holmes 2 que embora trazendo alguns elementos interessantes, de uma forma geral pouco inova de seu antecessor e repete o fiasco de seu roteiro.

Dirigido novamente por Guy Ritchie, em O Jogo das Sombras, o detetive mais intrigante do mundo tenta deter e capturar seu algoz, o Professor Moriarty, um inimigo tão inteligente quanto Holmes que vem sorrateiramente causando ataques terroristas na França e Alemanha, jogando um país contra o outro afim de causar uma guerra mundial e lucrar com o feito.


O filme conta com um roteiro que não consegue fluir, fazendo pausas constantes para dar espaço a flashbacks das descobertas de Holmes. Esse recurso, muito explorado pelo diretor, se mostra muito ineficaz, uma vez que em tese deveria proporcionar ao espectador o modo como o herói raciocina, acaba se tornando palco para preencher lacunas da narrativa, inserindo elementos até então não vistos (como o caderno vermelho de anotações de Moriarty) e evidenciando quase sempre muita inverossimilhança nos feitos do detetive, sendo nesse caso apoiada por uma edição rápida que dificulta a construção de algumas cenas, especialmente as de ação.

Tem-se o trunfo do design de produção na cenografia de uma Europa às portas do século 20 suja e cinza, mostrando uma face do continente bem diferente das habituais paletas de cores bastante vivas, carregadas de suntuosos jardins e imponentes castelos imperiais. Além disso, os figurinos continuam impecáveis, especialmente os de Holmes que usa diversos disfarces ao longo do tempo. Mas embora o design de produção seja de fato excelente, ele nada traz de inovador em relação à versão de 2009.

O grande mérito de O Jogo das Sombras sem qualquer sombra de dúvida é seu elenco que conta com mais uma atuação impecável de Robert Downey Jr novamente trazendo toda a energia, sagacidade e excentricidade de seu Sherlock Holmes único e nada ancorado no intectual arrogante e sisudo da literatura, com uma boa pitada de humor na sua composição assim como já foi em outras épocas o Jack Sparrow de Johnny Depp (aliás, é um sonho atual ver os dois contracenarem). Jude Law se mostra um pouco mais a vontade com um Watson que deixa de ser tão Sancho Pança e passa a ter um pouco mais de personalidade, se permitindo até a entrega a vícios como a bebida e ao jogo. E assim como em Homem de Ferro 2 com Mickey Rourke, Downey Jr tem novamente a felicidade de estabelecer uma excelente química entre seu personagem e o antagonista da história Moriarty, brilhantemente interpretado por Jared Harris, conferindo sempre um ar imprevisível e assustador num personagem que parece estar o tempo todo acima do bem e do mal.


E dois rivais geniais como esses não poderiam ter um combate melhor do que o encenado numa partida de xadrez, onde sem o disparo de uma bala e sem desferirem um único golpe, proporcionam o momento mais tenso da narrativa, infelizmente destruída por um duelo”telepático” e decepcionante logo em sua sequencia.


Mas ainda pouco criativo, eu sinceramente gostaria muito de ver mais uma sequencia de Sherlock Holmes, pois assistir Downey Jr tão bem no papel vale o sacrifício das demais falhas na produção.

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra



NOTA: 6

Tanto em publicidade, como no cinema, existe uma técnica já bem manjada de cativar emoção no público: exibir crianças e animais. A maioria absoluta das pessoas se deixa levar por esses dois personagens, especialmente quando estão numa situação opressora. E às vésperas do Oscar nada melhor do que Steven Spielberg utilizar essas duas figuras nas telas pra já dar as caras entre os prováveis indicados à estatueta dourada.

Numa Inglaterra às portas da Primeira Guerra Mundial, Joey é um cavalo arrematado num desastroso leilão por Mullan, um pobre fazendeiro arrendatário que emprega quase toda sua renda na compra do animal. Obrigado pela mulher a devolvê-lo e recuperar o dinheiro, seu filho Irvine se interpõe e se apropria de Joey, se comprometendo a treiná-lo e colocá-lo para trabalhar na fazenda da família. O laço entre menino e cavalo se estreita, mas quando a guerra estoura, eles são separados e Joey percorre uma longa jornada para reencontrar seu dono.



Não li o livro homônimo de Michael Morpurgo, mas nem foi preciso pra perceber um erro grave na adaptação de Lee Hall que coloca em seu roteiro o que acredito serem todas as histórias vividas por Joey, mostrando todos os exércitos pelos quais passou, a separação de seu dono, um momento onde quase encontra a paz na França etc, etc e etc. Com esse excesso de pequenas histórias tratadas praticamente em episódios por Lee, o roteirista literalmente nos obriga a engolir uma enxurrada de informação e nunca permite que o espectador tenha tempo de se envolver emocionalmente e até mesmo conhecer esse ou aquele personagem, algo tão caro num filme onde causar comoção e lágrimas é seu principal objetivo.

Seu erro também comprometeu todo o trabalho de montagem, obrigada a compilar algo que num livro teríamos dias para absorver numa projeção de pouco mais de duas horas, o que tirou por muito tempo de foco os dois protagonistas da trama: Joey e Irvine. Em alguns momentos esse ou aquele eram totalmente esquecidos, especialmente Irvine que depois de quase uma hora sem sequer ser citado, surge repentinamente já em combate.

Mas se há o erro grave no roteiro e montagem, Spielberg mostra ter aprendido muito com O Resgate do Soldado Ryan e proporciona cenas memoráveis da guerra como a fuzilamento da cavalaria inglesa que sem mostrar um soldado sequer sendo abatido, garante ao público toda a dor da perda. Expressa com maestria e quase humaniza o sofrimento dos cavalos no exército francês que trabalham até morrerem de exaustão. Sem falar na inimaginável cena em que um soldado inglês e um alemão trabalham em equipe para libertar Joey da morte certa em meio a um emaranhado de arame farpado.


E sua fotografia também, numa referência clássica a John Ford, garante quadros belíssimos, como o retorno de Irvine ao lar, tendo sua imagem projetada em silhueta, decorada por um belíssimo pôr-do-sol.

Se tem um conselho que é certo na área das artes é o famoso “menos é mais”. Numa tentativa de provocar toda emoção possível no público, entupindo-o com pequenas e tristes sub-tramas, Spielberg consegue exatamente o oposto: um espectador que sai do cinema quase tão frio quanto entrou, pois não teve tempo de se emocionar. Uma pena, pois a história mostrava  grande potencial para ser um sucesso. Fica pra próxima.

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Imortais



NOTA: 1

Ninguém faz sucesso na vida sem correr risco, a história está aí pra provar isso. Mas risco é risco, e do mesmo jeito que pode resultar em sucesso, pode acabar em desastre também. E eu não consigo ver outra coisa a não ser um verdadeiro desastre na direção de Tarsem Singh num dos piores filmes já feitos: Imortais. Ele (Tarsem) que é um excelente diretor de videoclipes (dentre eles um dos melhores, Losing My Religion do R.E.M.) cria na sua segunda tentativa no cinema uma enorme mancha em sua carreira.

Imortais conta a história do rei grego Hipérion que busca um artefato, o Arco de Epiro, capaz de libertar os titãs aprisionados por Zeus e os outros deuses, numa guerra ocorrida antes dos humanos existirem. Com esse exército ele pretende dominar toda a Grécia e destruir todos os deuses olímpicos. Mas para isso ele precisa enfrentar Teseu, um herói que luta para impedi-lo e salvar seu povo.

O filme é uma tentativa frustrada de copiar 300 tanto na sua fotografia, seu próprio roteiro (poucos soldados tentando combater um exército de inimigos) e até mesmo sua direção de arte, e é infeliz em todas elas. Os figurinos chegam a ser cômicos de tão mal concebidos. O elmo de Hipérion e a tentativa de criar um capacete ao estilo Neymar para o deus Apolo dispensam qualquer comentário sobre o assunto.

Assim também é a tentativa de Tarsem em copiar a todo o momento a técnica de slow motion para enfatizar os movimentos de combate em cenas de ação. Usada com maestria, e até certo exagero, por Zack Sneyder em 300, Sucker Punch e em todos os seus filmes, aqui a técnica soa extremamente artificial, especialmente quando os deuses, numa velocidade assustadoramente rápida, combatem os titãs que nem parecem ser inimigos tão relevantes assim. Aliás, a vida inteira achei que os titãs eram gigantes, talvez só Tarsem acredite no oposto. E deuses morrendo? De onde foi tirado isso? E, mesmo se um absurdo desses fosse real, qual o sentido do título Imortais a um filme onde nem mesmo os deuses são? É um trabalho tão ruim que dá momentos até para divagar. Quando o primeiro deus morre fiquei por muito tempo pensando: “Se um mortal quando morre vai pra junto dos deuses, pra onde eles (deuses) vão quando morrem?”

E foi triste saber que até um ator excelente como Mickey Rourke é decepcionante, vivendo um Hipérion totalmente caricato à figura do vilão que só mata e destrói tudo, chegando a parecer  burrice, uma vez que ele destrói o mundo que quer dominar.

Além disso, Imortais conta com um roteiro tão fraco (assinado pelos irmãos Charles e Vlas Parlapadines) que precisa inventar situações para ter continuidade. A cena onde Teseu encontra o Arco de Epiro plantado na tumba de sua mãe é ridícula de tão forçada. Fora os acontecimentos que se concluem sem nenhuma explicação, como o filme se iniciar com todos falando grego e de repente falarem inglês, ou as videntes que Hipérion tanto procurava “aparecerem” de uma hora pra outra sobre seu domínio.

Imortais é um conjunto de tanta baboseira que dá até vontade de contar toda a história aqui pra ninguém perder tempo assistindo. Mas temos que preservar o livre arbítrio. Porém, fica a dica: o trailer é muito mais emocionante (e gratuito) do que as duas longas horas de filme. 

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