quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Os Descendentes



NOTA: 7

SINOPSE: Matt King é um advogado havaiano que vê sua vida se transformar repentinamente após sua mulher sofrer um acidente que a deixou em coma. Agora ele está sozinho para cuidar das suas duas filhas das quais ele sempre foi distante. Em paralelo, está a frente de uma negociação milionária de um terreno de sua família e vem sofrendo forte pressão de seus parentes para efetuar a venda. E só para piorar um pouco as coisas, ele descobre que sua mulher o vinha traindo e pretendia pedir o divórcio.


“Meus amigos do continente acreditam que só porque eu vivo no Havaí, minha vida é um paraíso. Como se fossem férias permanentes – ficamos por aí bebendo coquetéis, remexendo os quadris e pegando ondas. Eles estão loucos? Como eles podem pensar que nossas famílias têm menos problemas, nosso ataque cardíaco e câncer são menos fatais, nossa dor é menos devastadora? Inferno! Faz 15 anos que sequer subo numa prancha.”



Com essa fala de abertura de Matt King (George Clooney) intercalada numa ótima montagem de um Havaí nem um pouco paradisíaco, ao contrário, bem próximo de nossa realidade, o roteiro de Alexander Payne, Jim Rash e Nat Faxon apresenta de forma bastante inteligente a premissa de Os Descendentes em seus primeiros minutos: não importa o quão rica ou bonita seja a pessoa, e menos ainda o lugar em que ela vive, os problemas do cotidiano não tem endereço e não analisam a renda ou a identidade das pessoas. Eles são iguais pra todos, até mesmo a um milionário havaiano descendente direto da nobreza da ilha.

A cena seguinte ressalta ainda mais essa premissa. Matt está sentado numa sala de hospital, visivelmente cansado, cuidando de sua mulher recém acidentada. Daí pra frente ele enfrenta uma sucessão de problemas e uma jornada de auto descoberta pra mudar sua vida, pois o mundo não irá mudar em função dele. E sua roupa florida e colorida serve apenas para maquiar a turbulência que vem passando. “Não se iluda pela roupa. No Havaí até o mais perigoso gângster usa uma camisa florida.” enfatiza ele.

Clooney está em uma das suas melhores atuações, compondo um Matt King bastante minimalista e naturalista, transformando o personagem numa pessoa comum como qualquer outra. A cena em que ele corre desengonçado de chinelos pelo seu bairro é belíssima.

Porém, o filme de Alexander Payne (Sideways – Entre umas e outras) acaba caminhando pra um desfecho óbvio, especialmente em relação à venda do terreno da família, onde na hora de assinar o contrato de venda, Clooney tem o famoso clichê da epifania onde reflete sobre o sentido da vida e o peso entre o valor emocional e material de suas terras. Até porque o enquadramento perfeito delas numa visita da família King no segundo ato da projeção torna condenável qualquer tentativa de venda de algo tão paradisíaco, o que torna ainda mais previsível o que vem pela frente.

Por fim das contas, mesmo com uma premissa interessante, o desfecho de Os Descendentes acaba por colocar o filme num lugar comum e perde a oportunidade de se firmar como uma grande obra. Ainda assim, ficaria muito feliz de ver Clooney receber a estatueta de Melhor Ator (confira os indicados aqui), pois hoje em dia sinto falta do desempenho simplista que ele teve com seu personagem.

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