Os Croods talvez seja a animação mais adulta feita pela
Dreamworks até hoje. Durante quase toda sua duração, a história apresenta de
modo brilhante, reflexivo e, como toda boa animação, divertido como a superproteção
e o temor do desconhecido pode prejudicar nosso desenvolvimento e até mesmo
nossa razão de viver. Ainda mais inteligente é expor esse debate em meio a uma
família de neandertais, mostrando o quanto esse medo é um retrocesso que poderia
nos manter até hoje estagnados naquele estágio evolutivo.
Na animação, os Croods são uma família pré-histórica que
passa a maior parte do tempo trancados numa pequena caverna pelo seu patriarca,
Grug, que vê tudo o que há fora dela como um perigo iminente, evitando assim o
contato com qualquer coisa que fuja de sua rotina maçante. Contudo, sua filha
Eep, questiona o medo excessivo do pai e anseia para ver o que há no mundo além
de sua caverna. Certo dia ela conhece Guy, um jovem a frente de seu tempo que a
alerta sobre o fim do mundo que se aproxima. Quando o suposto fim chega, Grug,
Eep, Guy e toda a família Crood se vê obrigada a deixar sua tão segura moradia
e partir numa jornada de descoberta (e autodescoberta) onde tudo é novo e
desconhecido, para encontrarem um novo lar.

Com uma qualidade impecável no design de produção, com
cenários que nada deixam a desejar em relação a locações reais, Sanders vai
além criando personagens não só bem desenvolvidos tecnicamente (a cena da caça
ao ovo em família não deixa dúvidas disso), como ricamente complexos em seus
dramas. Seus personagens são tão ricos que ele consegue inserir uma série de
conflitos na história sem precisar de nenhum antagonista. O único “vilão” são os
medos e o excesso de cautela de Grug. Mas quando paramos pra pensar que a única
razão dele agir assim é exatamente seu senso protetor falamos mais alto, vemos
que não há como culpa-lo, pelo contrário, ele fica ainda mais carismático.
E interessante também é ver que o personagem que abre os
olhos da família (Guy) e os tira da caverna (para a alegria de Sócrates)
é um jovem que manuseia o fogo. Uma metáfora do novo suplantando o velho,
portando logo o fogo que é o símbolo mítico da nossa evolução.
E apesar de ficar em segundo plano, um personagem que me
chamou bastante atenção foi o garoto Thunk. Incapaz de tomar uma única decisão
sozinho, Thunk declaradamente depende das ordens ora de seu pai, ora de Guy
para fazer qualquer coisa. A riqueza desse personagem é exatamente a
representação da massa alienada da população que ora segue os ideais de um, ora
os de outro, mas nunca desenvolve seus próprios ideais, atitudes e opiniões.
Por fim, Os Croods, como citado acima, é de uma
maturidade tão grande que é quase impossível conter as lágrimas no altruísmo
legítimo de Grug, indo contra todos os seus princípios justamente para proteger
aqueles que lhe são tão caros e ainda por cima consolando Guy, quando este, no
controle da situação vê seu mundo ruir próximo do final da história. Assim,
Sanders mostra que apesar da evolução ser inevitável, nunca podemos ignorar a
experiência de vida.
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