domingo, 10 de junho de 2012

O Corvo



Nota: 5

Terror e suspense são pra mim os dois gêneros mais difíceis de trabalhar. A razão disso é muito simples: esses gêneros tem que se reinventar constantemente numa velocidade recorde pra agradar ao público. Suas técnicas de sustos, monstros e mistérios facilmente caem no tédio. Desse modo, o maior “susto” que tive em O Corvo foi ver sua história se inspirar em outros dois títulos, Pânico e Seven, que foram inovadores em seu tempo, mas que hoje suas técnicas batidas e que já não funcionam, prova disso é a tentativa de ressuscitar a série Pânico ano passado e o próprio filme discutido nessa crítica.

O Corvo começa numa intervenção histórica num dos episódios mais misteriosos da literatura: a morte de Edgar Allan Poe em 1849, escritor ícone do período. Poe perambulava numa praça de Baltmore numa manhã nebulosa, divagando e falando coisas sem sentido. Foi socorrido, mas morreu poucos dias depois sem que se saiba até hoje o que provocou sua morte e sem entender o significado do que dizia quando foi encontrado.

O que o roteiro de Ben Livingston e Hannh Shakespeare (não se inspirar com o sobrenome) propõe do episódio é que Edgar Allan Poe foi vítima de um serial killer que comete seus crimes seguindo precisamente as famosas histórias de terror do autor como O Poço e o Pêndulo e Assassinatos na Rua Morgue. Quando o assassino sequestra sua noiva, Poe mergulha numa investigação perigosa para salvar sua amada e capturar o criminoso.

De fato a premissa que a dupla de roteiristas sugere é extremamente interessante. O problema é que se de um lado foram felizes em sua ideia, por outro foram de um amadorismo absurdo na hora de preenchê-la, trazendo às telas uma história que não empolga, não surpreende e tão pouco assusta. Na verdade ela é facilmente esquecida quando a sessão termina.

Além disso, conta com personagens arquetípicos que já cansamos de ver em outros filmes: o pai rico que ama a filha, mas se preocupa mais com o nome da família; o jornalista que se preocupa mais com uma boa história do que com o sofrimento alheio e um detetive paladino que faz qualquer sacrifício pela justiça.

Nem mesmo Edgar Allan Poe escapa de ser descrito como um personagem nada interessante e artificial, bem diferente do verdadeiro. Com uma concepção tão amadora, surpreende vê-lo ser interpretado por John Cusack, quando parecia ser perfeito para ser vivido por um pseudo ator como Nicolas Cage.

Com tantos problemas, o design de produção assinado por Roger Ford vem pra salvar o longa de ser um completo fiasco, recriando a cidade de Baltmore como um lugar medonho e pessimista, trazendo excelentes figurinos e apelando para  a técnica de utilizar muita neblina para gerar suspense, criando a tensão em sugerir que o perigo pudesse surgir a qualquer momento, de qualquer lugar. A perfeição de seu trabalho chega a ser mais interessante que a própria história. A cena de abertura em que Poe vagava na neblina dá um tremendo frio na espinha.

Mas é uma pena um filme que de certa forma homenageia quem praticamente inventou o gênero terror decepcionar exatamente por trazer uma história pobre, cheia de clichês e previsível. Se qualquer um dos contos de Poe fosse adaptado ao cinema com certeza seria muito melhor do que foi feito a seu respeito. Afinal, um roteiro bom até pode virar um filme ruim, mas nunca um roteiro ruim resulta num filme bom.


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