quinta-feira, 28 de março de 2013

Colegas


Nota: 6

Colegas é um filme extremamente interessante ao retratar um trio de jovens portadores da Síndrome de Down, fugindo de seu instituto para perseguir seus sonhos numa aventura a la Thelma e Louise. Ainda mais original, é o modo como o diretor Marcelo Galvão retrata seus protagonistas. Longe de se acomodar em seu diferencial, ele ignora por completo a deficiência de seu trio, buscando mostrá-los como pessoas cheias de sonhos e desejos como qualquer outra no mundo.

No longa, Stalone, Aninha e Márcio são três internos de um instituto dedicado a pessoas com Síndrome de Down. Responsáveis por cuidar da videoteca, o trio de amigos decidem fugir do internato e correr atrás de seus sonhos (Stalone quer ver o mar, Aninha quer casar e Márcio quer voar). Para custearem sua aventura praticam assaltos com uma arma de brinquedo, rapidamente ganhando a fama de bandidos perigosos, graças a intensa cobertura da mídia. Coma repercussão da fuga, os agentes Portuga e Souza são escalados para capturar os “fora-da-lei”, mas estão sempre um passo atrás dos “fugitivos”.


Se por um lado, a ideia de retratar o trio Stalone, Aninha e Márcio como citado acima é bastante ousada, original e criativa, por outro, o roteiro - também escrito por Marcelo Galvão - parece tentar o tempo todo sabotar essa iniciativa, apelando para o implausível ao transformar em anomalia absolutamente todos que estão à volta dos três, com personagens bizarros e estereotipados, além de muitas situações que ficam longe do seu propósito cômico. A dupla de agentes que perseguem os jovens são o melhor exemplo disso: um policial de meia idade vaidoso,  preso nos anos 70 (cujo toque do celular é o som de um burro. Por que será?) e um português com o sotaque mais forçado do cinema. Parece ter sido essa a única maneira encontrada por Galvão de conferir alguma autenticidade aos seus protagonistas, mas a única coisa que ele consegue é tornar seu filme patético quando eles estão fora de cena.

E falando em protagonistas, esses sim são o ponto alto da história. Stalone (Ariel Goldenberg) esbanja carisma desde sua primeira fala, extraída de A Sociedade dos Poetas Mortos. E é tocante ver sua paixão por Aninha (Rita Pokk), num tom pueril de desejo e frustração, afinal ele não é o cantor que Aninha quer casar. Márcio (Breno Viola) tem um humor natural impressionante. Praticamente toda vez que abre a boca, é risada na certa, com alguns momentos realmente brilhantes, como aquele onde ao ser menosprezado por uma mulher que flertava por ela ser “diferente” dele, Márcio elegantemente responde: “Eu não ligo. Eu gosto de gorda!”. Genial!

Por fim, mesmo ofuscando uma história fantástica de três jovens cheios de sonhos criando um mundo patético à sua volta, Galvão consegue a proeza de afastar sua história de um dramalhão focada na condição dos jovens, retratando-os (com uma série bem vinda de referências à clássicos do cinema) como pessoas comuns, com sonhos comuns e o mesmo ímpeto de conquistá-los, como qualquer pessoa faria. É isso que faz Colegas valer a pena.

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