Nota: 6
Colegas é um filme extremamente interessante ao retratar um
trio de jovens portadores da Síndrome de Down, fugindo de seu instituto para
perseguir seus sonhos numa aventura a la Thelma e Louise. Ainda mais original,
é o modo como o diretor Marcelo Galvão retrata seus protagonistas. Longe de se
acomodar em seu diferencial, ele ignora por completo a deficiência de seu trio,
buscando mostrá-los como pessoas cheias de sonhos e desejos como qualquer outra
no mundo.
No longa, Stalone, Aninha e Márcio são três internos de um
instituto dedicado a pessoas com Síndrome de Down. Responsáveis por cuidar da
videoteca, o trio de amigos decidem fugir do internato e correr atrás de seus
sonhos (Stalone quer ver o mar, Aninha quer casar e Márcio quer voar). Para
custearem sua aventura praticam assaltos com uma arma de brinquedo, rapidamente
ganhando a fama de bandidos perigosos, graças a intensa cobertura da mídia. Coma
repercussão da fuga, os agentes Portuga e Souza são escalados para capturar os
“fora-da-lei”, mas estão sempre um passo atrás dos “fugitivos”.
Se por um lado, a ideia de retratar o trio Stalone, Aninha e
Márcio como citado acima é bastante ousada, original e criativa, por outro, o
roteiro - também escrito por Marcelo Galvão - parece tentar o tempo todo
sabotar essa iniciativa, apelando para o implausível ao transformar em anomalia
absolutamente todos que estão à volta dos três, com personagens bizarros e
estereotipados, além de muitas situações que ficam longe do seu propósito
cômico. A dupla de agentes que perseguem os jovens são o melhor exemplo disso:
um policial de meia idade vaidoso, preso
nos anos 70 (cujo toque do celular é o som de um burro. Por que será?) e um
português com o sotaque mais forçado do cinema. Parece ter sido essa a única maneira
encontrada por Galvão de conferir alguma autenticidade aos seus protagonistas,
mas a única coisa que ele consegue é tornar seu filme patético quando eles
estão fora de cena.
E falando em protagonistas, esses sim são o ponto alto da
história. Stalone (Ariel Goldenberg) esbanja carisma desde sua primeira fala, extraída
de A Sociedade dos Poetas Mortos. E é tocante ver sua paixão por Aninha (Rita
Pokk), num tom pueril de desejo e frustração, afinal ele não é o cantor que
Aninha quer casar. Márcio (Breno Viola) tem um humor natural impressionante.
Praticamente toda vez que abre a boca, é risada na certa, com alguns momentos
realmente brilhantes, como aquele onde ao ser menosprezado por uma mulher que
flertava por ela ser “diferente” dele, Márcio elegantemente responde: “Eu não
ligo. Eu gosto de gorda!”. Genial!
Por fim, mesmo ofuscando uma história fantástica de três
jovens cheios de sonhos criando um mundo patético à sua volta, Galvão consegue
a proeza de afastar sua história de um dramalhão focada na condição dos jovens,
retratando-os (com uma série bem vinda de referências à clássicos do cinema) como
pessoas comuns, com sonhos comuns e o mesmo ímpeto de conquistá-los, como
qualquer pessoa faria. É isso que faz Colegas valer a pena.
VEJA O TRAILER
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