quinta-feira, 26 de julho de 2012

Valente



NOTA: 4



Ver que pela primeira vez a Pixar lançaria uma animação protagonizada por uma personagem feminina me fez crer que o estúdio estava realmente disposto a apagar a mancha escura na sua história que foi seu último filme, o desastroso Carros 2. Porém, infelizmente o que Valente mostra é que talvez o mesmo estúdio que criou obras-primas como Toy Story, Os Incríveis, Wall-E e mais uma lista imensa de animações (a imensa maioria dignas de nota 11) esteja caindo no cliché e perdendo sua principal característica, o elemento criativo. Ao menos no que diz respeito a contar histórias, essa é a sensação que dá, especialmente num projeto que levou 5 anos para ficar pronto.

Em Valente, Merida é uma princesa celta que nem de longe se comporta como uma, preferindo passar a maior parte do tempo cavalgando pela floresta e atirando com seu arco e flecha. Sua mãe Elinor, ao contrário da filha, é enraizada nas suas tradições e não aprova o comportamento da sua primogênita. E quando a rainha dá abertura aos jogos que decidirão quem se casará com sua filha, Merida entra no torneio para disputar seu direito a ser livre. Prestes  causar uma guerra entre seus povos pela su atitude, a princesa recorre à magia, transformando sua mãe acidentalmente numa ursa. Agora ela tem apenas dois dias para desfazer o feitiço e impedir que Elinor, agora uma ursa, seja caçada pelo próprio rei, Fergus.



A grande decepção de Valente, como dito acima é seu roteiro de uma pobreza absurda, com uma dificuldade evidente em ligar pontos, criar situações dramáticas e acrescentar peso em qualquer uma de suas tramas, a começar pela súbita mudança em seu foco onde até metade do filme tudo – e por tudo quero dizer todo o contexto apresentado, além de seus personagens – indicava que seria centrado nos jogos que definiriam o marido de Merida. Se Valente tivesse ficado restrito a isso teria sido excelente, pois Merida era obviamente melhor que seus concorrentes e ainda com seu ato desafiava todas as tradições de seu povo. Desse modo, chega a ser um tanto incoerente o motivo pelo qual a princesa subitamente a magia, transforma sua mãe numa ursa e tira toda a emoção da história. 

Essa mudança foi tão ruim que uma série de clichês foram criados para sustenta-la: o sumiço da feiticeira que criou o feitiço; a obrigação de quebra-lo em no máximo dois dias (por que dois dias?); os irmãos de Merida (um trio sem graça e sem serventia) também serem enfeitiçados; além do vilão enfiado goela abaixo no espectador só pra dar algum desfecho para aquele tédio.

Mas por outro lado, se a história acaba com o filme, a parte artística garante um verdadeiro espetáculo na tela, mostrando que pelo menos nesse ponto a Pixar ainda está afiada e a anos-luz de seus concorrentes. É impossível não se impressionar pelos cachos vermelhos flamejantes e encaracolados de Merida. E seus cenários são de uma realidade tão extrema que chega a ser difícil acreditar que eles foram criados digitalmente.



Pode se dizer que parcialmente a iniciativa ousada da Pixar de lançar sua primeira protagonista feminina deu certo se levar em conta que conseguiram conceber uma personagem de caráter forte, marcante e que possibilita um leque de dramáticas, além de uma possível sequencia. Mas se essa iniciativa deu certo por esse motivo, por outro parece que o próprio estúdio se sabotou ao contar uma história que parece ter sido escrita às pressas, sem qualquer preocupação em ser coerente e acima de tudo, atraente ao público. Há um ano e meio atrás eu e qualquer outro crítico acharia impossível um dia apontar algum defeito em qualquer animação da Pixar, mas infelizmente isso ocorreu duas vezes seguidas, e tomara que essa seja a última.


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sexta-feira, 13 de julho de 2012

O "Espetacular" Homem Aranha


NOTA: 3

Quando li pela primeira vez que a saga do Homem Aranha seria relançada tão pouco tempo depois de sua primeira – e excelente – estreia em 2002 pensei cá com os meus botões que o único motivo pra isso era tentar esmiuçar um pouco mais o passado de Peter Parker e recriar uma história ainda mais impactante que sua antecessora como fez Cristopher Nolan com Batman Begins em 2005.

Nos trailers, todos centrados nos dramas de Peter, minhas previsões pareciam estar corretas, mas quando finalmente O Espetacular Homem Aranha estreou vi que estava errado e assisti a uma completa decepção. O “reinício” da saga nada mais é do que uma cópia descarada e mal feita de seus antecessores.

Qualquer semelhança não é mera coincidência. No longa, Peter Parker é um adolescente misteriosamente abandonado pelos pais e criado pelos tios. Certo dia, ele descobre uma pista deixada pelo seu pai em documentos antigos, que o leva até a Corporação Oscorp onde é picado por uma aranha geneticamente modificada. Com a combinação do DNA de ambos, Peter adquire poderes que o transformam num hábil herói, já com a missão de deter um cientista que, transformado num lagarto gigante, tenta transformar todos os habitantes de Nova Iorque em seres como ele.

Não há nada de errado em retomar alguns pontos da saga anterior como um todo para dar base na sua história. Por retomada, me refiro ao processo entre a apresentação e a transformação de Peter Parker no Homem Aranha. O problema é quando se utiliza quase metade do filme para chegar a esse ponto, esticando uma história entediante e, numa dificuldade evidente do roteiro em apresentar conflitos, fazendo o uso abusivo de coincidências em sua narrativa para dar alguma justificativa às ações que víamos na tela. Peter é apaixonado por Gwen (Emma Stone - Zumbilândia) que por coincidência trabalha na Corporação Oscorp que por coincidência é o local onde o pai de Peter trabalhou e que, por coincidência, continha uma porção de aranhas geneticamente modificadas. E gostaria que essa fosse a última coincidência, mas a verdade é que estenderia muito esse parágrafo se citasse todas.

Fora isso, muitas das cenas são exatamente idênticas ao Homem Aranha lançado em 2002: a transformação do cientista num lagarto gigante após um procedimento científico que deu errado (lembra do Duende Verde?); a lição que Peter Parker dá no valentão da escola logo quando se transforma; a morte do tio Ben e por aí vai.

Num filme onde até mesmo a fotografia é idêntica ao primeiro Homem Aranha, ao menos o ótimo trabalho de efeitos especiais salva parte do projeto. Algo de certa forma ruim, pois efeito especial é algo que se torna rapidamente obsoleto.

Outro ponto positivo é a atuação de Andrew Garfield (A Rede Social) vivendo um herói muito mais próximo dos quadrinhos, principalmente pelo seu sarcasmo constante. Além disso, confere um naturalismo a sua caracterização numa cena onde mesmo disfarçado e em plena atividade, atende seu celular para ser lembrado pela tia que deve comprar ovos antes de chegar em casa. Senti falta apenas da fragilidade de Tobey Maguire que dava muito mais profundidade à sua versão do herói, em contraponto a Andrew que é mais superficial e parece estar mais seguro de si mesmo antes de ser picado.

Numa franquia relançada tão cedo pelo próprio estúdio que criou dois – esses sim – espetaculares Homem Aranha (o terceiro tento esquecer que existiu), não deixa outro pensamento que seu único objetivo era nada mais, nada menos que gerar faturamento pro seu caixa, pois é impossível acreditar que um filme que copia seus antecessores em absolutamente tudo tenha algum outro propósito. Seria mais interessante lançar um Homem Aranha 4, deixando ao encargo de quem entende do assunto fazer um bom trabalho, do que queimar suas fichas nesse “Espetacular” Homem Aranha, que nem mesmo como espetáculo tem serventia.


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quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Era do Gelo 4



Nota: 8

Há poucas semanas Madagascar3 estreou com uma história pobre, sem graça, numa dificuldade visível de criar algo novo e batendo na mesma tecla com seus personagens principais ainda insistindo em voltar a Nova Iorque. Quase toda franquia que se estende como Madagascar cai nesse mesmo erro e ao invés de parar quando ainda estão no auge, decidem ganhar alguns trocados a mais nos cinemas, mesmo que isso estrague todo um bom trabalho no passado.

Mas felizmente pra tudo há exceção e definitivamente esse é o caso de A Era do Gelo 4 que mesmo no seu quarto filme ainda consegue encontrar premissas inteligentes e originais para sustentar a história do mamute Manny e sua dupla inseparável, Diego e a preguiça Sid.

No primeiro filme o problema foi a própria era do gelo, no segundo o descongelamento desse gelo, no terceiro uma visita ao mundo dos dinossauros e nesse a Pangéia, o continente único que se dividiu nos 5 continentes que conhecemos hoje.

Em A Era do Gelo 4, na sua interminável caçada a noz perfeita, o esquilo Scratch provoca um acidente no centro da terra, dividindo seu território em 5 pedaços. Nessa divisão, Manny e seus leais amigos são separados de sua mulher, Ellie, e sua filha adolescente, Amora. Atirados num iceberg em mar aberto, o trio tenta voltar pra casa, mas tem seus planos atrapalhados pelo navio pirata do capitão(e macaco) Gutt e sua tripulação composta de bandidos da pior espécie. Não bastasse tudo isso, Manny ainda corre contra o relógio para salvar sua família antes que a ilha onde vivem seja completamente destruída por esse novo desastre.




Apesar de não contar dessa vez com a direção do gênio brasileiro Carlos Saldanha (Rio), a dupla de diretores Steve Martino e Mike Thurmeier conseguem contornar os problemas de um roteiro que não inova na sua fórmula - mesmo trazendo uma ótima premissa como citado acima - inserindo uma série de personagens secundários que assim como nos episódios anteriores garantem cenas de peso à história, como em quase todas onde há a participação de Gutt e sua tripulação, sem deixar de lado sua forte marca humorística, principalmente pela nova integrante do bando, a avó de Sid que já banguela, pede a todo o momento pro seu neto mastigar seus alimentos.

E essa é a versão que traz as melhores cenas de Scratch, especialmente aquela em que ele mergulha no oceano e tem seu corpo transformado em praticamente uma lombriga por causa da pressão do mar. Há também a tão merecida recompensa depois de uma odisseia de quatro filmes que...bom é melhor não estragar a surpresa.




A exceção dos novos personagens e seu argumento principal, a Era do Gelo 4 não traz muitas novidades em relação aos seus antecessores, optando por repetir fórmulas que funcionaram no passado e que novamente deram certo. Num filme que poderia ser muito prejudicado pela ausência de Saldanha, não correr risco talvez tenha sido a melhor opção.


terça-feira, 3 de julho de 2012

Prometheus



Nota: 6

Alien, o Oitavo Passageiro foi sem dúvida um dos melhores filmes de todos os tempos. Ridley Scott conseguiu combinar com maestria ficção científica e terror, além de contar com uma excelente história que deixava em aberto uma série de questões sobre a origem daquelas criaturas bizarras e assassinas. E se de início foi muito gratificante saber que mais de 30 anos depois o mesmo diretor finalmente produziria o filme que em tese responderia essas questões, foi igualmente triste ver um resultado desprezível nas telas.

No prólogo da quadrilogia Alien, um casal de cientistas descobre estudando civilizações antigas, um mapa que sugere que fomos criados por seres de outro planeta. Com isso, partem numa jornada na nave Prometheus até o planeta apontado no mapa para conhecer nossos criadores e questionar o propósito de nossa origem. Porém, quando finalmente chegam ao local, a busca por respostas se torna um pesadelo carregado de medo e morte.

Todas as críticas que li de Prometheus foram idênticas: até sua metade, conta com uma história extremamente inteligente e caminhava para facilmente ser um dos melhores filmes do ano. Contudo, na sua metade final o longa se torna decepcionante, beirando a infantilidade.

E é impossível discordar dos meus colegas. Num filme onde uma cientista (Noomi Rapace – Sherlock Holmes, o Jogo das Sombras) viaja bilhões de quilômetros para se dedicar a uma expedição que busca descobrir nossos criadores e nossas origens, chegam a soar ridículas as respostas que o filme nos conduz, somado ao incompreensível ceticismo da mesma personagem que mesmo diante da verdade da nossa origem ainda insiste em diminuí-la frente a seus princípios religiosos.

Com uma história muito fraca, coube ao elenco excelente salvar o filme. Michael Fassbender (X-Men – Primeira Classe) é sem dúvida o melhor deles, com seu androide cuja frieza é intrigante e ao mesmo tempo medonha, fora seu desejo quase latente de se tornar um humano, ou algo superior a isso. E quem acompanhou a série sabe que os androides tem um papel importante em quase todos os quatro filmes.

Sempre me refiro nas minhas críticas às dificuldades que o cinema americano tem em trabalhar com as mulheres. Basicamente em seus filmes elas têm sempre um desses dois perfis: ou são completamente submissas aos homens, ou são tão duronas que se parecem  com eles. Mas Ridley Scott quebrou com perfeição esse paradigma com Sigourney Weaver em toda a série Alien e repete o feito em Prometheus com suas duas protagonistas: Noomi Rapace e Charlize Theron (Branca de Neve e o Caçador). Ambas conseguem equilibrar suas personagens perfeitamente entre fragilidade e força de espírito.

Além disso, o design de produção não decepciona mantendo a linguagem da série com seus cenários sombrios e imprevisíveis da nave alien em contraste com a nave Prometheus com um excesso de tons brancos e verdes que beiram a insanidade. Tudo isso reforçado por um ótimo uso e execução de seus efeitos especiais, especialmente na cena de abertura onde uma versão evoluída da nossa espécie se sacrifica na Terra para nos dar origem.

Independente dos pontos positivos, e mesmo conseguindo responder uma série de questões sobre toda a série Alien, Prometheus decepciona e muito seus fãs com uma das histórias mais infantis que já vi no cinema, além de mostrar no seu final um proposito muito mais comercial do que artístico.

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