NOTA: 7
Imagine
viver num mundo onde o inimigo possa estar em qualquer lugar, qualquer lugar
mesmo! No ar, no contato com uma pessoa ou até mesmo no mouse que você tem sob as mãos agora. É exatamente essa a sensação que Soderbergh imprime nas duas horas
de projeção de seu mais novo longa, Contágio, ao tratar de uma epidemia que
custa a vida de dezenas de milhões de pessoas que já não sabem mais como se
prevenir de um vírus que está em todo o lugar. Uma obra bem arquitetada que
causa certo temor em quem assiste justamente por saber que naquele universo
nada é seguro e nada impede que o que acontece no filme se concretize no nosso
mundo. E já tivemos uma amostra - senão da força da doença, apenas do medo de contraí-la
- dessa sensação há dois anos com a gripe suína.
Em
Contágio, uma epidemia sem precedentes vinda da Ásia está matando milhões e
milhões de pessoas em todo o mundo. A população está em pânico, pois ao que
tudo indica o simples contato físico com qualquer objeto tocado por um
infectado é suficiente para contrair a doença. Nesse cenário, os cientistas
buscam desesperadamente uma cura que parece não chegar, os governos se mostram
desorientados em conter a provável catástrofe, a imprensa se divide entre
informar e fazer sensacionalismo enquanto a população regride a um estado
primitivo em busca da sobrevivência.
Contágio
teria sido um filme comum e facilmente descartável não fosse a direção de
extrema competência de Steven Soderbergh que inteligentemente inicia a narrativa
no segundo dia da epidemia já colocando desde início uma interrogação que
perduraria até o fim do filme sobre o que a desencadeou. Outro aspecto
interessante é a fotografia que privilegia enquadramentos em detalhes como
copos, jornais e mãos, apontando pra gente a todo o momento o que causava a
transmissão da doença, coisa que os personagens demorariam dias pra saber.
Contudo,
um dos problemas do longa é a edição rápida e repleta de cortes que ao mesmo
tempo que é necessária devido ao excesso de sub-tramas, peca justamente por não
permitir que o espectador tenha tempo de se identificar com essas histórias.
Quando começamos a nos identificar com o drama de Matt Damon de no mesmo dia
perder mulher e filho um corte nos leva para o Departamento de Saúde, daí
quando começamos a nos identificar com Laurence Fishburne tomando ciência da
epidemia, um novo corte nos leva à Asia com Marion Cotilard e por aí vai até o
fim.
Ainda
bem que Soderbergh já previa esse problema e tenta corrigi-lo convocando um
excepcional time de estrelas para o elenco como pouquíssimas vezes se vê na
tela. São três Oscars e mais de dez indicações à estatueta na tela. Além
dos três nomes citados acima, o casting ainda conta com Jude Law, Gwineth
Paltrow e Kate Winslet. E o interessante é que quem descobre a vacina para a
doença é exatamente uma atriz pouco conhecida do grande público (Jennifer Ehle), reforçando que nesses casos
quase sempre os verdadeiros heróis ficam nos bastidores.
Mesmo
comprometendo boa parte do desenvolvimento do roteiro com o excesso de sub-tramas,
Contágio acaba tendo o saldo positivo por se mostrar um ótimo documento em
apresentar as diversas esferas e o modo que atuam frente a uma situação adversa,
algo que Fernando Meirelles deveria ter feito em Ensaio Sobre a Cegueira mas
conseguiu um efeito muito menos impactante.
CONFIRA O TRAILER
Nenhum comentário:
Postar um comentário