sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Contágio



NOTA: 7

Imagine viver num mundo onde o inimigo possa estar em qualquer lugar, qualquer lugar mesmo! No ar, no contato com uma pessoa ou até mesmo no mouse que você tem sob as mãos agora. É exatamente essa a sensação que Soderbergh imprime nas duas horas de projeção de seu mais novo longa, Contágio, ao tratar de uma epidemia que custa a vida de dezenas de milhões de pessoas que já não sabem mais como se prevenir de um vírus que está em todo o lugar. Uma obra bem arquitetada que causa certo temor em quem assiste justamente por saber que naquele universo nada é seguro e nada impede que o que acontece no filme se concretize no nosso mundo. E já tivemos uma amostra - senão da força da doença, apenas do medo de contraí-la - dessa sensação há dois anos com a gripe suína.

Em Contágio, uma epidemia sem precedentes vinda da Ásia está matando milhões e milhões de pessoas em todo o mundo. A população está em pânico, pois ao que tudo indica o simples contato físico com qualquer objeto tocado por um infectado é suficiente para contrair a doença. Nesse cenário, os cientistas buscam desesperadamente uma cura que parece não chegar, os governos se mostram desorientados em conter a provável catástrofe, a imprensa se divide entre informar e fazer sensacionalismo enquanto a população regride a um estado primitivo em busca da sobrevivência.

Contágio teria sido um filme comum e facilmente descartável não fosse a direção de extrema competência de Steven Soderbergh que inteligentemente inicia a narrativa no segundo dia da epidemia já colocando desde início uma interrogação que perduraria até o fim do filme sobre o que a desencadeou. Outro aspecto interessante é a fotografia que privilegia enquadramentos em detalhes como copos, jornais e mãos, apontando pra gente a todo o momento o que causava a transmissão da doença, coisa que os personagens demorariam dias pra saber.

Contudo, um dos problemas do longa é a edição rápida e repleta de cortes que ao mesmo tempo que é necessária devido ao excesso de sub-tramas, peca justamente por não permitir que o espectador tenha tempo de se identificar com essas histórias. Quando começamos a nos identificar com o drama de Matt Damon de no mesmo dia perder mulher e filho um corte nos leva para o Departamento de Saúde, daí quando começamos a nos identificar com Laurence Fishburne tomando ciência da epidemia, um novo corte nos leva à Asia com Marion Cotilard e por aí vai até o fim.




 Ainda bem que Soderbergh já previa esse problema e tenta corrigi-lo convocando um excepcional time de estrelas para o elenco como pouquíssimas vezes se vê na tela. São três Oscars e mais de dez indicações  à estatueta na tela. Além dos três nomes citados acima, o casting ainda conta com Jude Law, Gwineth Paltrow e Kate Winslet. E o interessante é que quem descobre a vacina para a doença é exatamente uma atriz pouco conhecida do grande público (Jennifer Ehle), reforçando que nesses casos quase sempre os verdadeiros heróis ficam nos bastidores.

Mesmo comprometendo boa parte do desenvolvimento do roteiro com o excesso de sub-tramas, Contágio acaba tendo o saldo positivo por se mostrar um ótimo documento em apresentar as diversas esferas e o modo que atuam frente a uma situação adversa, algo que Fernando Meirelles deveria ter feito em Ensaio Sobre a Cegueira mas conseguiu um efeito muito menos impactante.

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