quarta-feira, 25 de maio de 2011

Padre



NOTA: 8


Desde o primeiro Homem aranha em 2002 pra cá, a safra de filmes sobre super-heróis dos quadrinhos cresceu num número exorbitante, a ponto de virar um gênero a parte. E quase sempre deu muito certo, bem diferente das adaptações dos vídeo games que são sempre um desastre. Eu pouco leio quadrinhos, então constantemente sou surpreendido com o que vejo nas telas, e ontem foi um desses dias. Nunca me passou pela cabeça ver um onde o herói em questão é literalmente um padre treinado para matar pela própria igreja.

Em Padre, num futuro pós-apocalíptico onde a destruição fora causada pelo eterno conflito entre homens e vampiros (criaturas que o roteiro defende que sempre existiram, ao menos naquele mundo), a igreja católica se torna o único refúgio para a raça humana, criando fortalezas onde ela exerce poder absoluto sobre a população. Como os vampiros eram muito mais fortes e velozes que os humanos, parecendo impossível derrotá-los, a instituição treina uma equipe de guerreiros chamados padres que são os únicos que conseguem efetivamente derrotá-los. Por serem uma arma muito poderosa, após eliminarem os vampiros a igreja opta por destituí-los da função, ficando à margem de uma sociedade que agora tem medo de seus antigos salvadores. Mas quando tudo parecia pacificado, novos vampiros surgem e cabe a um ex-padre rebelde a missão de derrotá-los.

Dirigido pelo estreante Scott Stewart, a introdução da história logo no início é feita de um modo magistral, fazendo uso de um desenho em 2D carregado de violência, muito semelhante ao que Tarantino utiliza em Kill Bill Volume 1. Porém, é exatamente nesse acerto que Scott acaba caindo numa armadilha, pois o que se vê depois é um filme onde toda a violência denunciada no início é privada por causa da edição, deixando o espectador apenas com a sensação dos acontecimentos e não com eles de fato. Sempre que os vampiros vão atacar há um corte abrupto e também quando os primeiros padres enfrentam Black Hat, antagonista da trama.

Porém, embora Scott não tenha se saído tão bem nesse ponto de certa forma importante, no mais ele acerta e acerta bem. Ficou bastante interessante e na medida os slow motions adotados em algumas cenas de ação do Padre onde ele se movia e seus inimigos ficam praticamente estáticos, mostrando o quanto o herói era veloz em relação a todos. E o bom é que ele faz esse uso quando é estritamente necessário, ou seja, basicamente para apresentar a habilidade do personagem.

E ninguém melhor que Paul Betanny para viver o herói que embora não seja privilegiado por uma boa expressão corporal, carrega em seu rosto todo o drama sofrido por aquele personagem, sendo dotado de uma personalidade serena que muito surpreende quando deve agir. O mesmo não se pode dizer de Cam Gigandet, que interpreta um xerife Hicks totalmente apático e fora de lugar. Reparem como fica totalmente sem propósito a ameaça que ele faz ao Padre no alto de um penhasco antes do desfecho do filme. Daí você percebe o imenso contraste em um ótimo ator (Bettany) e um medíocre (Cam).

Mas o melhor de tudo é a fotografia e direção de arte em todos os seus aspectos: figurino, cenografia e afins. Seus cenários se intercalam entre a total desolação dos desertos que quase cegam de tão secos à completa escuridão das fortalezas católicas, muito semelhantes as cidades de Blade Runner. Quanto aos figurinos, destaco as capas dos Padres que os tornavam mais temíveis e imprevisíveis escondendo praticamente todo o corpo, excetuando parte do rosto. Na fotografia se faz a opção acertada por uma paleta de cores quase monocromática em todos os ambientes, representando a apatia, a destruição e a falta de perspectiva que aquele mundo representa.

Scott se felicita também em expor como uma sociedade se torna decadente quando se entrega a qualquer tipo de fanatismo religioso (e que fique claro aqui que não estou apontando a religião em questão, mas todas). Nada nem ninguém move um dedo sem a permissão do clero e enquanto a população claramente vive na miséria, os eclesiásticos vivem em completo luxo e conforto.

Por fim, embora deixando um pouco a desejar no quesito ação, Padre é muito eficiente em entreter especialmente devido ao seu design de produção excelente. Como ficou claro no final do filme, teremos uma sequencia em que acredito que as coisas melhorem. Por enquanto essa primeira versão serviu como um excelente prólogo.

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