sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Garoto de Liverpool



NOTA: 1


Na trama, Aaron Johnson interpreta o solitário adolescente John Lennon, que viria a compor a maior banda de todos os tempos, Os Beatles. O longa mostra sua juventude e os primeiros momentos como músico. Lennon é um adolescente solitário, abandonado pela mãe, Julia, e criado pela autoritária Tia Mimi. A música é seu único escape.

Lendo a sinopse até que parece ser um filme muito interessante. Afinal de contas Beatles é Beatles e qualquer coisa sobre eles com certeza chama a atenção (até mesmo Across the Universe). Mas acreditem: essa descrição, assim como muitas sinopses, é uma armadilha e quem vos escreve caiu nela.
E a razão de ser uma armadilha é muito simples: um roteiro mal escrito, atuações medíocres e uma direção completamente amadora fazem com que uma celebridade como foi John Lennon soe patética, imatura e repugnante.

A má qualidade de seu roteiro, escrito por Matt Greenhalg e Julia Baird, se deve ao fato de uma certa falta de foco. De início parece seguir uma linha óbvia e a qual esperávamos, ou seja, descobrir como um jovem pobre e comum viria a ser um dos maiores compositores da história. E essa proposta é muito bem trabalhada de início, principalmente na cena em que John vai parar na diretoria e seu diretor diz que do modo como vinha vivendo ia acabar parando em Lugar Nenhum e ele brilhantemente responde: “Ótimo. Todos os gênios são de Lugar Nenhum.”

Porém, logo após essa cena, a proposta da trama muda por completo e passamos a assistir a um drama familiar de um adolescente separado da mãe e em constante conflito com sua tia e tutora, sugerindo inclusive, de um modo já bem clichê, que se talvez não fosse tais acontecimentos John Lennon jamais se tornaria a personalidade que se tornou. Além disso, Paul McCartney é introduzido na história (aos 15 anos) apenas para realizar uma função de conselheiro particular de John, surgindo apenas em momentos de crise existencial de seu amigo, e tendo seu evidente talento completamente ofuscado em função disso.

Aliás, as atuações valem um comentário à parte. Poucas vezes vi um filme onde todas elas fossem tão ruins como nesse. Na verdade há apenas uma exceção que é Anne-Marie Duff que interpreta uma Julia (mãe de John) reprimida, confusa, mas cheia de vontade de viver e reparar seus erros, evidenciado inclusive num ótimo trabalho de figurino onde ela aparece o tempo todo vestindo cores quentes e muito vivas. Ademais, todas as interpretações são clichês, previsíveis e de péssimo gosto. Kristin Scott vive uma Tia Mimi com aquele típico perfil de mulher durona e sisuda que parece não se alegrar com nada, até mesmo com o sucesso aparente do sobrinho.

Mas o pior de tudo com certeza vem Aaron Johnson que interpretada um John Lennon arrogante, estúpido, inconstante e até mesmo demonstrando pouco talento que fazem o espectador ter a sensação evidente de que aquele não é o mesmo Lennon que conhecemos. Reparem como acontece de modo bastante artificial sua transformação de humor ao ouvir McCartney tocando banjo no velório da sua mãe, numa explosão de raiva que após um soco na cara do amigo, tem outra reação artificial vindo abraçá-lo.

Mais a “maior façanha” é sem dúvida a má direção de Sam Taylor-Wood que parece perdido em saber o que quer mostrar para contar sua história, jogando toda hora flashbacks da infância conturbada do protagonista, montadas de um modo sem nexo na tela e sonhos sem nenhum propósito (como na primeira cena em que vemos John sonhando que está correndo sozinho).

Além disso, pouco privilegia o que todos esperavam assistir, ou seja música. Há apenas dois números musicais bem rápidos, sendo um totalmente amador. Também é infeliz em seu objetivo em contar os dramas pessoais de seu personagem construindo uma relação entre ele e a tia que em certos momentos é muito difícil de compreender, especialmente na cena onde ele diz que quer montar uma banda e ela que parece imune a qualquer tipo de alegria, numa transformação abrupta compra seu primeiro violão como incentivo. Resumindo, Sam Taylor mais consegue fazer o espectador gostar menos de John Lennon e consequentemente dos Beatles do que aproximá-lo mais dele.

E toda essa sucessão de erros mostra o quão prejudicial é confiar tão importante obra a profissionais tão amadores, podendo sujar a imagem de alguém que com um intelecto a frente de seu tempo se tornou não só um gênio da música, mas também um dos maiores gênios da humanidade. Uma pena e um total desperdício!

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