sexta-feira, 27 de maio de 2011

Piratas do Caribe 4 - Navegando em Águas Profundas


NOTA – 4


Aventura, reviravoltas, jogo de gato e rato, personagens marcantes e um mistério a ser desvendado. Tudo isso sempre temperou todos os capítulos da saga Piratas do Caribe que, diga-se de passagem, ressuscitou os filmes de piratas. Porém, embora todos esses ingredientes tenham funcionando bem no início, aos poucos foram perdendo sua importância exatamente pelo seu uso em excesso e a pouca criatividade de roteiros que basicamente repetiam a história anterior. Na verdade, não fosse a figura de Jack Sparrow, talvez a saga nunca teria alcançado o sucesso que alcançou.

Em Piratas do Caribe 4 – Navegando em Águas Profundas, Jack reencontra um antigo amor, Angélica, que o captura e obriga-o a levá-la até a famosa Fonte da Juventude afim de salvar seu pai, o pirata mais destemido dos mares, Barba Negra, o capitão do barco A Vingança da Rainha Ana. Mas os três não estão sozinhos em sua busca: ingleses e espanhóis também procuram o local e não pretendem compartilhá-lo.

Embora a intenção do filme fosse reiniciar a saga, eliminando quase todos os personagens dos outros três episódios, só pela sinopse já fica claro que essa na verdade foi a única mudança que assistiremos, pois no mais a história em si permanece a mesma. Aliás, entre vários tropeços, o roteiro sem dúvida foi o pior deles.

Pobre, pouco criativo e com sérios problemas de amarrar sua trama, ele é claramente centrado na figura de Jack Sparrow, tornando todo o restante dos personagens e a própria história em meros objetos que giram ao seu entorno. Além disso, encontra tantas dificuldades em concluir sua trama e sub tramas que simplesmente as atiram na tela sem muita explicação. Ainda no primeiro ato, uma profecia patética e sem muito nexo de Angélica, que dizia que seu pai seria morto por um homem de uma única perna (ou seja, Barbossa), já deixa mais do que evidente o desfecho daquele personagem, tirando toda e qualquer graça do confronto entre Barbossa e Barba Negra. E Barba Negra, diferente do vilão Davy Jones dos últimos episódios, nos é apresentado apenas com as descrições exageradas dos personagens, não havendo qualquer interesse em introduzi-lo de forma que entendêssemos o por quê de tanto medo em relação a ele. Além disso, os espanhóis são os primeiros a tomar conhecimento da Fonte logo nos primeiros minutos de projeção para logo em seguida serem esquecidos por completo e simplesmente surgirem no terceiro ato já em bastante vantagem em relação aos ingleses e a Jack. E se o objetivo da Espanha era de fato aquele patético que alegaram (que não revelarei aqui) porque não destruir os cálices de Ponce de Léon logo que o obtiveram?

Por falar em relíquias, essas são outro elemento a parte de um roteiro fraco que precisa inventar em excesso para conseguir estender ao máximo a duração do filme. Os dois cálices e a lágrima de uma sereia necessários para o ritual que tornam possíveis ativar a Fonte tem como única função enrolar uma trama já bastante entediante e minar o poder do local que buscavam, uma vez que deixa claro que a Fonte da Juventude de nada vale sem tais itens.E indo mais além me questiono como quem fez os dois cálices já sabia de antemão o poder que teriam, sendo que até então ninguém teria sequer tomado conhecimento de tal Fonte justamente por precisarem deles para localizá-la. Mas isso é outra história.

E me surpreendeu que o mesmo diretor dos outros três filmes da série, Rob Marshal, tenha criado uma obra tão maçante, pecando até mesmo onde poderia ser interessante. A exceção da fuga de Jack logo no início, todas as sequencias de ação são carregadas de enquadramentos tão fechados que dificultam consideravelmente sua apreciação. Além disso, em 40 minutos de filme ele repete 4 vezes a mesma técnica de revelar o personagem através de sombras, capuz etc, sendo que pelo menos no caso de Jack já era mais do que previsível quem era o juiz que a câmera seguia.

Assim como os roteiristas, eu acabei me pregando uma peça e centrando a crítica também em Jack Sparrow. Mas é impossível não fazê-lo porque esse parece ter sido o personagem da vida de Johnny Depp. A mínima menção do nome do maior anti-herói das telas já é de agrado de todos e a concepção do personagem é impecável nos mínimos detalhes, desde suas mãos levantadas com zelo ao andar, ao jeito de falar entre dentes e os movimentos de avanço e recuo de sua cabeça. Para mim, Jack Sparrow é um dos melhores personagens concebidos em toda a história do cinema. Além disso, Geofrey Rush também rouba a cena com seu Barbarossa num esforço cômico e sobre humano em parecer que entrou nos eixos apenas para agradar seu rei e obter sua vingança. Penélope Cruz em cena é apenas um rosto bonito e nada mais, numa atuação fraca que facilmente teria sido levada por qualquer outra atriz de seu porte. E embora não consiga imaginar alguém melhor do que Ian McShane para interpretar Barba Negra, desapontou o modo apático como o ator o incorpora, pois em nenhum momento pareceu que ele fosse tão mal como o roteiro e todos os personagens defendem.

Por fim, não acredito que fazendo esses ou aqueles ajustes a franquia Piratas do Caribe volte a ser tão original ou tão boa quanto em 2001 quando foi lançada. Na verdade acho que a franquia deveria acabar enquanto ainda é inesquecível, pois é claro que nunca sairá do óbvio e pelo jeito explorará para sempre a figura de Jack Sparrow até ele virar piada velha. Melhor parar enquanto se está por cima, do que esperar a derrocada chegar. E parece que já está chegando, porque achava impossível que Piratas 4 fosse pior que seu antecessor e infelizmente me surpreendi.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Padre



NOTA: 8


Desde o primeiro Homem aranha em 2002 pra cá, a safra de filmes sobre super-heróis dos quadrinhos cresceu num número exorbitante, a ponto de virar um gênero a parte. E quase sempre deu muito certo, bem diferente das adaptações dos vídeo games que são sempre um desastre. Eu pouco leio quadrinhos, então constantemente sou surpreendido com o que vejo nas telas, e ontem foi um desses dias. Nunca me passou pela cabeça ver um onde o herói em questão é literalmente um padre treinado para matar pela própria igreja.

Em Padre, num futuro pós-apocalíptico onde a destruição fora causada pelo eterno conflito entre homens e vampiros (criaturas que o roteiro defende que sempre existiram, ao menos naquele mundo), a igreja católica se torna o único refúgio para a raça humana, criando fortalezas onde ela exerce poder absoluto sobre a população. Como os vampiros eram muito mais fortes e velozes que os humanos, parecendo impossível derrotá-los, a instituição treina uma equipe de guerreiros chamados padres que são os únicos que conseguem efetivamente derrotá-los. Por serem uma arma muito poderosa, após eliminarem os vampiros a igreja opta por destituí-los da função, ficando à margem de uma sociedade que agora tem medo de seus antigos salvadores. Mas quando tudo parecia pacificado, novos vampiros surgem e cabe a um ex-padre rebelde a missão de derrotá-los.

Dirigido pelo estreante Scott Stewart, a introdução da história logo no início é feita de um modo magistral, fazendo uso de um desenho em 2D carregado de violência, muito semelhante ao que Tarantino utiliza em Kill Bill Volume 1. Porém, é exatamente nesse acerto que Scott acaba caindo numa armadilha, pois o que se vê depois é um filme onde toda a violência denunciada no início é privada por causa da edição, deixando o espectador apenas com a sensação dos acontecimentos e não com eles de fato. Sempre que os vampiros vão atacar há um corte abrupto e também quando os primeiros padres enfrentam Black Hat, antagonista da trama.

Porém, embora Scott não tenha se saído tão bem nesse ponto de certa forma importante, no mais ele acerta e acerta bem. Ficou bastante interessante e na medida os slow motions adotados em algumas cenas de ação do Padre onde ele se movia e seus inimigos ficam praticamente estáticos, mostrando o quanto o herói era veloz em relação a todos. E o bom é que ele faz esse uso quando é estritamente necessário, ou seja, basicamente para apresentar a habilidade do personagem.

E ninguém melhor que Paul Betanny para viver o herói que embora não seja privilegiado por uma boa expressão corporal, carrega em seu rosto todo o drama sofrido por aquele personagem, sendo dotado de uma personalidade serena que muito surpreende quando deve agir. O mesmo não se pode dizer de Cam Gigandet, que interpreta um xerife Hicks totalmente apático e fora de lugar. Reparem como fica totalmente sem propósito a ameaça que ele faz ao Padre no alto de um penhasco antes do desfecho do filme. Daí você percebe o imenso contraste em um ótimo ator (Bettany) e um medíocre (Cam).

Mas o melhor de tudo é a fotografia e direção de arte em todos os seus aspectos: figurino, cenografia e afins. Seus cenários se intercalam entre a total desolação dos desertos que quase cegam de tão secos à completa escuridão das fortalezas católicas, muito semelhantes as cidades de Blade Runner. Quanto aos figurinos, destaco as capas dos Padres que os tornavam mais temíveis e imprevisíveis escondendo praticamente todo o corpo, excetuando parte do rosto. Na fotografia se faz a opção acertada por uma paleta de cores quase monocromática em todos os ambientes, representando a apatia, a destruição e a falta de perspectiva que aquele mundo representa.

Scott se felicita também em expor como uma sociedade se torna decadente quando se entrega a qualquer tipo de fanatismo religioso (e que fique claro aqui que não estou apontando a religião em questão, mas todas). Nada nem ninguém move um dedo sem a permissão do clero e enquanto a população claramente vive na miséria, os eclesiásticos vivem em completo luxo e conforto.

Por fim, embora deixando um pouco a desejar no quesito ação, Padre é muito eficiente em entreter especialmente devido ao seu design de produção excelente. Como ficou claro no final do filme, teremos uma sequencia em que acredito que as coisas melhorem. Por enquanto essa primeira versão serviu como um excelente prólogo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Garoto de Liverpool



NOTA: 1


Na trama, Aaron Johnson interpreta o solitário adolescente John Lennon, que viria a compor a maior banda de todos os tempos, Os Beatles. O longa mostra sua juventude e os primeiros momentos como músico. Lennon é um adolescente solitário, abandonado pela mãe, Julia, e criado pela autoritária Tia Mimi. A música é seu único escape.

Lendo a sinopse até que parece ser um filme muito interessante. Afinal de contas Beatles é Beatles e qualquer coisa sobre eles com certeza chama a atenção (até mesmo Across the Universe). Mas acreditem: essa descrição, assim como muitas sinopses, é uma armadilha e quem vos escreve caiu nela.
E a razão de ser uma armadilha é muito simples: um roteiro mal escrito, atuações medíocres e uma direção completamente amadora fazem com que uma celebridade como foi John Lennon soe patética, imatura e repugnante.

A má qualidade de seu roteiro, escrito por Matt Greenhalg e Julia Baird, se deve ao fato de uma certa falta de foco. De início parece seguir uma linha óbvia e a qual esperávamos, ou seja, descobrir como um jovem pobre e comum viria a ser um dos maiores compositores da história. E essa proposta é muito bem trabalhada de início, principalmente na cena em que John vai parar na diretoria e seu diretor diz que do modo como vinha vivendo ia acabar parando em Lugar Nenhum e ele brilhantemente responde: “Ótimo. Todos os gênios são de Lugar Nenhum.”

Porém, logo após essa cena, a proposta da trama muda por completo e passamos a assistir a um drama familiar de um adolescente separado da mãe e em constante conflito com sua tia e tutora, sugerindo inclusive, de um modo já bem clichê, que se talvez não fosse tais acontecimentos John Lennon jamais se tornaria a personalidade que se tornou. Além disso, Paul McCartney é introduzido na história (aos 15 anos) apenas para realizar uma função de conselheiro particular de John, surgindo apenas em momentos de crise existencial de seu amigo, e tendo seu evidente talento completamente ofuscado em função disso.

Aliás, as atuações valem um comentário à parte. Poucas vezes vi um filme onde todas elas fossem tão ruins como nesse. Na verdade há apenas uma exceção que é Anne-Marie Duff que interpreta uma Julia (mãe de John) reprimida, confusa, mas cheia de vontade de viver e reparar seus erros, evidenciado inclusive num ótimo trabalho de figurino onde ela aparece o tempo todo vestindo cores quentes e muito vivas. Ademais, todas as interpretações são clichês, previsíveis e de péssimo gosto. Kristin Scott vive uma Tia Mimi com aquele típico perfil de mulher durona e sisuda que parece não se alegrar com nada, até mesmo com o sucesso aparente do sobrinho.

Mas o pior de tudo com certeza vem Aaron Johnson que interpretada um John Lennon arrogante, estúpido, inconstante e até mesmo demonstrando pouco talento que fazem o espectador ter a sensação evidente de que aquele não é o mesmo Lennon que conhecemos. Reparem como acontece de modo bastante artificial sua transformação de humor ao ouvir McCartney tocando banjo no velório da sua mãe, numa explosão de raiva que após um soco na cara do amigo, tem outra reação artificial vindo abraçá-lo.

Mais a “maior façanha” é sem dúvida a má direção de Sam Taylor-Wood que parece perdido em saber o que quer mostrar para contar sua história, jogando toda hora flashbacks da infância conturbada do protagonista, montadas de um modo sem nexo na tela e sonhos sem nenhum propósito (como na primeira cena em que vemos John sonhando que está correndo sozinho).

Além disso, pouco privilegia o que todos esperavam assistir, ou seja música. Há apenas dois números musicais bem rápidos, sendo um totalmente amador. Também é infeliz em seu objetivo em contar os dramas pessoais de seu personagem construindo uma relação entre ele e a tia que em certos momentos é muito difícil de compreender, especialmente na cena onde ele diz que quer montar uma banda e ela que parece imune a qualquer tipo de alegria, numa transformação abrupta compra seu primeiro violão como incentivo. Resumindo, Sam Taylor mais consegue fazer o espectador gostar menos de John Lennon e consequentemente dos Beatles do que aproximá-lo mais dele.

E toda essa sucessão de erros mostra o quão prejudicial é confiar tão importante obra a profissionais tão amadores, podendo sujar a imagem de alguém que com um intelecto a frente de seu tempo se tornou não só um gênio da música, mas também um dos maiores gênios da humanidade. Uma pena e um total desperdício!