domingo, 17 de abril de 2011

Rio - Um belíssimo cartão postal e...só!

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Nota: 5

É um imenso orgulho para nós saber que um dos maiores gênios da animação digital no cinema seja um brasileiro. Sim, estou falando de Carlos Saldanha, o diretor que “nada a mais, nada a menos” criou todo o mundo de A Era do Gelo. E é claro que não havia nada mais justo e coerente do que o Brasil ser homenageado nas telas por um conterrâneo. Porém, é igualmente uma pena saber que Saldanha fez um filme que qualquer diretor estrangeiro preguiçoso faria, ou seja, carregado de estereótipos. E acreditem, não estou exagerando.

Em Rio, Blu é uma ararinha azul que raptada ainda filhote vai parar acidentalmente na gelada cidade de Minnesota (ou Not Rio, como nos é apresentada), sendo adotada pela jovem Linda, dividindo toda uma vida com ela até que numa viagem ao Rio de Janeiro, Blu junto a novos amigos entram numa série de aventuras pela Cidade Maravilhosa.

O grande incômodo para nós em Rio é ver que mais uma vez o Brasil foi basicamente retratado como um país onde parece que nossa única preocupação e interesse seja apenas samba, carnaval e futebol, fazendo parecer que vivemos constantemente desligados do que há no mundo lá fora. Reparem que o samba está presente em todos os momentos na trama, sendo até dois personagens (embora engraçados) sambistas natos. E nem nisso Saldanha é feliz, fazendo uso de uma trilha sonora com canções óbvias até mesmo para quem é de fora.

E é claro que o futebol e o carnaval não poderiam faltar. Há a cena onde num suposto jogo bastante monótono de Brasil x Argentina em pleno carnaval, todos ficam hipnotizados e colam a cara na TV, até mesmo dois dos bandidos da história que esquecem parte de seus afazeres em função do jogo. E o carnaval vem com o único propósito de ser só mais uma característica do país explorada como cartão postal e propaganda turística.

O evento ficou tão sem propósito que uma enorme incoerência foi inserida no roteiro para justificar seu uso: os traficantes de aves, numa estratégia para fugir do país com seus animais roubados, camuflam uma van e fogem nada mais, nada menos que pela Marquês de Sapucaí. Tem um problema aí: por que eles decidiram fugir exatamente pelo lugar onde todos os holofotes do mundo estariam voltados? Aliás, com uma cidade inteira dentro de um sambódromo, por que não optar por qualquer caminho fora dali, chamando bem menos atenção?

Sem contar que há uma cena de péssimo gosto onde macacos roubam turistas no Cristo Redentor que não consigo imaginar qual foi a graça pretendida com um insulto desses (e muito menos a quem os babuínos faziam alusão).

Contudo, Rio também possui muitos méritos, especialmente na concepção de sua cenografia que é impecável preservando todos os seus detalhes, além de carregada de cores vivas na cidade e em seus pontos turísticos, contraposta pela quase predominância do cinza dando um ar de tristeza às suas favelas. Aliás, falando em cores, nada melhor do que explorá-las tendo acertadamente selecionado como personagens do filme aves, possibilitando assim trabalhar com uma infinidade de cores, já evidenciada logo na abertura do longa com um maravilhoso balé dos pássaros (em especial as araras vermelhas).

E não dá pra deixar de ressaltar o modo como os belíssimos pontos turísticos são apresentados, especialmente a visão panorâmica que temos do alto vendo o Cristo Redentor se revelando pouco a pouco.

Mérito de Saldanha também o fato dele ter tocado num ponto muito importante que deveríamos dar melhor atenção. Estou me referindo ao tráfico de aves (e animais como um todo), mostrando o quão revoltante e degradante é tal crime que passa despercebido por muitos. E mais inteligente ainda foi escolher como protagonistas a ararinha azul, a maior vítima dessa prática, estando próxima a extinção por isso.
Por fim, mesmo ficando muito longe de uma homenagem, Rio pelo menos consegue conferir seus 90 minutos de entretenimento. Conta com ótimos cartões postais, além de ser praticamente um comercial do tipo ‘Visite o Rio’, útil tanto para os estrangeiros, como para nós, pois o Rio de Janeiro que nos é apresentado é bastante diferente do que conhecemos na realidade.

Trailer - dublado

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