sábado, 22 de janeiro de 2011

Enrolados



NOTA: 5

Em 1937 a Disney revolucionou para todo o sempre o mundo da animação com o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões. Com técnicas até então inovadoras e um modo singular de aliar sonho e fantasia, a empresa se tornou peça fundamental na vida de crianças de todas as gerações a partir de então. E 74 anos depois não parou de nos encantar, criando personagens e narrativas que transcendem o tempo e ainda fazem os olhos de qualquer criança e muitos adultos brilhar.
De lá para cá foram 49 filmes sendo que todos, uns mais outros menos, fizeram sucesso. E acaba sendo até um desapontamento saber que seu 50° filme, Enrolados, fique muito aquém do que sabemos que o estúdio é capaz de fazer.

Em mais uma adaptação dos contos dos irmãos Grimm, Enrolados conta a história de Rapunzel, uma princesa aprisionada numa torre por sua falsa mãe e que possui poderes mágicos em seus imensos cabelos: a cura e o rejuvenescimento. Superprotegida, mas ansiosa pra conhecer o mundo, ela finalmente consegue aos seus 18 anos logo após conhecer um ladrão por quem acaba se apaixonando, provocando a fúria da suposta mãe que apenas se aproveita de seus poderes para permanecer jovem.

Não se pode negar que o filme tenha seus méritos. As reações de Rapunzel logo ao escapar da torre, se alternando numa alegria radiante e num choro repleto de culpa retrata bem o quão instáveis são os jovens nessa fase. Aliás, achei muito interessante o estudo antropológico feito pelo estúdio pra construir esta personagem. Seu 3D também é excelente, sendo muito bem dosados a profundidade de campo e a sensação de projeção para fora da tela de objetos e personagens. E há o mérito de um ótimo trabalho de fotografia que de forma eficaz se alternam entre uma paleta repleta de cores e um ambiente sombrio conforme a necessidade narrativa e, embora se faça uso de alguns clichês, como o vilão surgindo da neblina e confundindo a personagem ou a bruxa mergulhando nas sombras antes de cometer uma maldade, ela não decepciona.

As gags do camaleão e do cavalo conferem momentos de muito riso na platéia. Aliás, a Disney sempre atribuiu essa função de humor a seus personagens secundários e se com isso consegue criar personagens extremamente engraçados, também cai na bobagem de blindar seus protagonistas de tudo o que é mundano.

Se por um lado Enrolados tem seus pontos positivos, por outro, seu roteiro é chato e mal planejado. Nada acontece e quando Rapunzel retorna à torre, ele fica tão truncado que é preciso uma epifania ridícula dela num pedaço de pano para que o filme tenha algum desfecho. Fora a canção que ela devia cantar para ativar seus poderes que me perguntei o filme todo como é que a bruxa descobriu sozinha que era essa a chave do seu poder.
Além disso, a dublagem terrível de Luciano Huck fazem até tapar os ouvidos quando o herói da história, Flynn, abre a boca. Não conseguindo em nenhum momento sincronizar sua entonação com o que o momento pede (até porque nem ator ele é), as cenas com Flynn acabam sendo sempre muito superficiais e nada envolventes em função disso, praticamente anulando personagem. O mesmo se dá as canções sem ritmo e rima por causa da péssima tradução para o português.E por mais que o final da história seja idêntico ao livro, o uso da lágrima (numa cena que não vou descrever aqui) já se tornou algo mais do que batido no cinema, além de conferir uma função quase de deus ex macchina para o desfecho do filme.

Mas ainda assim, Enrolados consegue ter sua eficiência no que diz respeito ao entretenimento desses filmes infantis típicos das férias que garantem diversão dentro das salas de cinema, mas que são facilmente esquecidos fora dela. Uma pena saber que um título tão prestigiado pelo estúdio Disney, por ser seu 50°, não seja recíproco no mesmo nível ao qual é atribuído.

Além da Vida



NOTA: 10

Todo início de ano parece seguir o mesmo roteiro: dieta, IPVA, IPTU, chuva sem parar e os muito bem vindos filmes de Clint Eastwood. E 2011 não foi diferente.

Seu novo longa, Além da Vida, vem para ser o primeiro grande lançamento do ano. Uma obra muito bem executada por esse mestre que felizmente parece não se aposentar nunca.
No filme assistimos a três histórias que carregam uma semelhança entre si: em todas, de algum modo, há o contato direto ou indireto com a morte de um jeito que acaba mexendo para sempre com a vida de cada um de seus protagonistas.

Primeiro conhecemos a história de Cécile de France que interpreta uma jornalista francesa que é atingida pelo Tsunami numa viagem de férias às Filipinas. Lá, tem uma experiência de quase morte, decidindo provar ao mundo após esse acontecimento que a pós vida de fato existe; Matt Damon é um médium que possui a capacidade de conversar com os mortos. Recebendo muito dinheiro no passado por esse dom, mas ao mesmo tempo abrindo mão de qualquer chance de uma vida pessoal, ele abandona essa vida e se torna um operário; Jason e Marcus são dois jovens irmãos gêmeos que devido ao fato de possuírem uma mãe viciada acabam tendo um no outro seu apoio para serem felizes. Entretanto tudo muda quando Jason morre atropelado e Marcus não consegue mais seguir sua vida sem seu irmão.

Sempre contada exatamente na ordem citada acima, é interessante que quanto mais próximo chega o momento do encontro dos 3 personagens, menores ficam suas cenas individuais. Parece até uma espécie de contagem regressiva para este encontro inevitável.
Também é indescritivelmente impressionante a cena inicial do Tsunami devastando as Filipinas e o modo como suas vítimas o vivenciaram, muito mais dramático do que qualquer jornal poderia apresentar. Kurosawa dizia que nunca iniciava seus filmes com grandes cenas, pois o espectador ficaria esperando cada vez mais e chegaria um ponto que seria impossível agradá-lo. Mas nesse caso, mesmo não havendo tantas cenas espetaculares como esta, o restante do filme não deixa a desejar pois a trama de cada personagem é muito bem desenvolvida.

Das tramas todas a que me chama mais a atenção é a de Matt Damon. Com planos claustrofóbicos em sua casa nem é preciso dizer o quão solitário ele é. E dói ainda mais saber que por mais gentil e dedicado que seja, seu ‘dom’ questionável parece sempre pôr tudo por terra, evidenciado na cena em que ele perde uma possível companheira por descobrir um segredo muito íntimo dela revelado pelo seu falecido pai. E todos os trechos de Charles Dickens que ele ouve toda noite em seu audiobook o definem melhor do que qualquer roteiro.

Entretanto, o que realmente faz de Além da Vida um filme genial é o modo frio e neutro como Clint aborda o tema MORTE. Em nenhum momento nas suas quase duas horas e meia de filme a palavra deus ou quaisquer religiões sequer são citadas. E até mesmo a possível experiência dos personagens deixam lacunas para dúvidas. O que garante que o que a jornalista viu foi uma imagem produzida pela sua mente devido ao trauma sofrido? E o que garante que ao invés de médium, Matt na verdade possuía um poder telepático e acreditando que realmente se comunicava com os mortos, não fazia nada mais do que dizer o que seus clientes gostariam de ouvir?

É por abordar tão bem temas complexos e não ter medo de se aventurar em qualquer gênero que Clint Eastwood sempre inaugura o ano com obras primas (estou desconsiderando aqui Invictus e Gran Torino). E a julgar pela sua disposição de garoto aos 80 anos, não é de se admirar que por um bom tempo o cinema no Brasil seja presenteado todo início de ano com um ótimo filme.

domingo, 9 de janeiro de 2011

72 Horas


NOTA: 7


No filme, Russel Crowe é John Brennan, um pai de família extremamente dedicado à mulher e filho. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando sua esposa é presa por assassinato, num crime bastante controverso. Sozinho e acreditando piamente na inocência da mulher, John elabora um plano arriscado e perigoso pra resgatá-la.

Claro que contar com um excelente ator como Russel Crowe ajuda qualquer filme a fazer sucesso nas bilheterias. Contudo, há uma série de acontecimentos ao longo da trama que fazem com que ela pouco a pouco perca o prestígio que talvez alcançaria.

Seu início é esplêndido. Num jantar com amigos, Laura, mulher de John, conversa com raiva sobre a futura vítima da qual foi acusada de assassinar e, provocada pela amiga, tem uma reação agressiva instantânea, revelando muito de seu caráter e dando indício à possibilidade dela realmente ter cometido o crime. Porém, ao longo da trama essa questão fica um pouco confusa e mal explicada. Até porque, o crime em si não era importante, mas sim seu resgate.

Contudo, no desenrolar da trama tudo vai ficando previsível e inverossímil. Numa participação relâmpago de Liam Neeson, interpretando um ex-detento que fugiu sete vezes da cadeia, seu personagem instrui John como deve proceder para resgatar sua mulher e, adivinhem? Ele faz exatamente o que foi dito, ou seja, antes da metade do filme já sabemos seu final.

Inverossímil porque John deixava rastros a todo tempo de suas intenções e ainda assim não é pego, como a chave que ele quebra na fechadura do presídio ou a boca de fumo que ele explode. Sem contar que de um professor universitário que mal sabia segurar uma arma, ele instantaneamente se torna um profissional em fuga, algo impossível até de se imaginar.

Além disso, chegou um momento que eu realmente me perguntei se não confundi o título com o tempo de duração, pois parecia mesmo que teríamos 72 horas de filme de tão longo que se mostra, numa narrativa extensa que desnecessariamente se arrasta, especialmente no terceiro ato, repleto de reviravoltas que não acrescentam nada à história e não chegam a lugar algum.

Independente de ser cansativo por sua extensão, 72 Horas acaba sendo um interessante thriller que vai colar alguns na ponta da poltrona com cenas de tirar o fôlego. Lembra muito um filme excelente com Kevin Bacon, Sentença de Morte (2007), porém este último é muito melhor.