domingo, 2 de maio de 2010

Por uma propaganda menos Nazista

Por Lucas Rolim

Protesto!

Protesto contra um mal que já nos aflige há décadas, mas que nos é tão sutilmente imposto que nos iludimos por esse pomo de ouro que é belo, mas só por fora, pois por dentro carrega a discórdia das relações sociais.

Falo da nossa publicidade que cria sonhos impossíveis, mundos imaginários, habitados pelas belas modelos de sex appeal inquestionável, e dos modelos com verdadeiras cadeias de montanhas em seus abdômens. Essa propaganda que vende um ideal de vaidades e ilusões que afundam famílias nos cartões de créditos, nas compras das roupas inúteis da última moda e TVs gigantes que não temos tempo de ver. A arte de comunicar, em seu sentido mais pejorativo, levando as pobres adolescentes à anorexia para se tornaram as mulheres de plástico narcisistas das passarelas ou nos vaqueiros valentões, sem pulmão, mais "machos" a cada cigarro.

Afinal, é disso que a sociedade gosta. É a roupa certa, o carro certo, o tênis correto que vão nos fazer tão felizes ao ponto das Giseles Budchens implorarem pela nossa companhia e os Ronalds McDonalds serem nossos melhores amigos. Correto?

NÃO! Esse não pode ser a energia propulsora de nossas vidas. Essa ditadura da informação que só te inclue no mundo se comprar e gastar sem se preocupar com as contas no fim do mês, que te faz abandonar os amigos porque eles são totalmente out e se aproximar de pessoas vazias que são in e te faz acreditar que não há outra opção, JUST DO IT.

Onde estão os aleijados, aidéticos, judeus, negros, cegos, feios e gordos na publicidade? Eles não são consumidores também? Creio que há duas possibilidades de resposta: 1° Todos os aleijados, aidéticos, judeus, negros, cegos, feios e gordos do mundo não possuem o menor talento para estrelarem um comercial ou, 2° as vagas para os comerciais foram todas preenchidas por modelos jovens, ricos, bonitos, mas de pouco talento, porque os publicitários sabem que o primeiro grupo jamais implacaria a venda de um carro ou de um serviço de seguros de um grande banco que tem tudo, menos você, pessoa perfeita. E como os publicitários ficaram tão inteligentes para descobrir que essa gente não vende, porque sua imagem assusta e faz os consumidores fugirem da vitrine? Será uma luz? Não. Eles sabem porque é o mundo que eles criaram. Esse mundo, fora do nosso mundo, com um ideal de beleza muito semelhante ao modelo de um tal de Hitler, um tal de Mussolini, dos louros de corpos saudáveis e perfeitos, "tão criativo", é só uma cópia bem maquiada do modelo nazista.

Quantos de vocês vivem neste mundo ideal, acordam e dormem num mundo feliz e perfeito, sem fome, sem violência, habitado apenas pelas ninfetas e heróis gregos? Creio que ninguém. Mas ainda assim, todos os dias o perseguimos abrindo mais e mais crediários, fazendo mais e mais horas extras, economizando mais e mais nas nossas necessidades básicas, alimentando essa utopia que jamais vai acontecer, porque simplesmente não existe. Ou seja, o erro também é nosso que recebemos de braços abertos diariamente esse bombardeio dos slogans "inovadores" da publicidade.

Que fique claro que a razão desse manifesto não é para o banimento da publicidade, muito pelo contrário, essa é uma das melhores ferramentas que nós temos para formar opinião. Esse texto é um alerta para mudarmos e não nos tornarmos tão cegos e subservientes à comunicação. Ao invés de se preocupar apenas em vender, vender e vender uma realidade que não é nossa, por que não se preocupar em construir uma sociedade melhor, do consumo justo, não indutiva e não seletiva? Por que uma montadora de automóveis ao invés de gastar milhões em propagandas nada criativas - iguais para todas as marcas - vendendo carros que nunca veremos a velocidade máxima por causa dos radares, não dedica parte dessa imensa verba numa campanha de conscientizaçáo do cinto de segurança, de dirigir embriagado, cobrar as autoridades sobre as péssimas condições das estradas? O consumidor ficaria muito mais satisfeito com uma marca que de fato se preocupa com a sociedade e não fica apenas empurrando produtos.

Cabe aos publicitários, mas sobretudo a nós, sociedade, fazer a cobrança por uma publicidade mais justa, real e refutar esse modelo que aí está, mantendo vivo um terrível fantasma do passado que com certeza queremos esquecer.

E para provar que uma propaganda assim é possível, coloquei um exemplo aqui do Brasil de um comercial de TV magnífico de uma grande marca de higiene pessoal, a Dove. Chama-se "Campanha pela real beleza"

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