SINOPSE: em Jobs, acompanhamos a trajetória do gênio e co-fundador da
Apple, Steve Jobs, do momento em que ele abandona a faculdade até seu retorno à
empresa no final dos anos 90, após 10 anos afastado.
Quando vi a última cena de Jobs, onde ele grava em 1997 o texto da
campanha mais famosa da Apple, "Think Different" me perguntava se em
algum momento seu diretor, Joshua Michael Stern se deu o trabalho de ouvir e
interpretar a gravação que exala inovação - a essência da empresa e seu
fundador - pois ao longo de duas horas ele e seu filme estiveram muito aquém da
ousadia e inovação, criando algo arroz com feijão, cheio de falhas e acima de
tudo, uma decepção para fãs e entusiastas da figura mítica que foi Steve Jobs.
Praticamente tudo é ruim em Jobs.
Seu roteiro, escrito pelo iniciante Matt Whiteley, é completamente perdido, com arcos dramáticos fracos e mal
resolvidos, como o relacionamento de Jobs com a filha que vai da rejeição à
adulação sem nada que o justifique, e o número sem fim de pessoas que vão e vem
de sua vida, sem uma preocupação muito grande em explicar o porquê ele cria
essa aura negativa em volta de sua persona. Além de alguns momentos de sua vida
pessoal serem ignorados, como sua adoção - história que sozinha já renderia um
filme. E o pior de tudo, a decisão de encerrar a história justamente no melhor
momento da vida de Jobs, deixando o espectador se contentar com um cartão
resumindo em poucas linhas os grandes feitos que a empresa e o homem fizeram e
que marcou a história da indústria tecnológica.
A escalação de Ashton Kutcher pra viver o personagem é outro ponto fraco
do filme e mostra que só ter a aparência física de uma pessoa não significa que
um ator tem capacidade de interpretá-la. Em nenhum momento Kutcher consegue
convencer no papel, chegando ao ápice da superficialidade em seu retorno a
Apple em 1997, fazendo um esforço sobrenatural para interpretar os maneirismos
de Jobs, como o seu modo de andar. Fora que escalar um ator de talento
questionável que basicamente fez sua carreira com comédias, também questionáveis,
se mostra um erro desde o início.
E quando escrevo sobre Kutcher se torna impossível não comparar Jobs a outro
filme recente, A Rede Social, e seu protagonista, Jesse Einsenberg, que precisa
de alguns segundos pra mostrar que ele não só interpretará Mark Zuckerberg,
como viverá o personagem. Um show de atuação que desperta um desejo enorme no
espectador de mergulhar no mundo dessa outra figura única, elevando ainda mais
o nível de um filme já excelente em todos os sentidos.
E Stern, em várias tentativas de parecer genial, revela um grande
amadorismo como diretor com algumas cenas deprimentes na sua condução e
idealização. Como uma das primeiras cenas do filme onde Jobs em menos de dois
minutos consegue anunciar para um amigo sua saída da faculdade, entrar numa
conversa com seu professor sobre o mesmo assunto e terminar flertando e levando
à cama uma ilustre desconhecida. Ou aquela em que ele apresenta sua visão do
papel da Apple para seus seguidores numa conversa estilo walkie-and-talkie que se
estende por dias e cenários a fio. Além disso, os poucos momentos bons do filme
são sabotados pelo próprio diretor, como o “Uau” emitido por um Jobs
boquiaberto e poucas vezes sem ação ao ver o protótipo do primeiro computador
pessoal, abafado por uma trilha sonora desnecessária na ocasião.
Sim, como grande fã e entusiasta de Jobs, na pior das hipóteses
imaginava que assistiria um excelente filme, mas Stern e sua equipe me
mostraram que até mesmo uma figura brilhante como Steve Jobs, pode ter sua
história reduzida a mediocridade quando está nas mãos de amadores, assim como
fizeram com John Lennon em O Garoto de Liverpool. Jobs é uma obra que tem tudo
para passar em branco (e torço pra que isso aconteça), sendo tão superficial
que não agrada nem os fãs que sentem o tempo todo faltar algo, e aqueles que se
interessam em conhecer a história, vendo um gênio ser interpretado por um galã
de comédia pastelão.
TRAILER DE JOBS
TRAILER DE JOBS
COMERCIAL "THINK DIFFRENT" - Apple, 1997