sexta-feira, 17 de maio de 2013


Nota: 10

SINOPSE: Em 1988, no Chile, enfrentando forte pressão internacional, o ditador Augusto Pinochet decide convocar um plesbicito que definiria os rumos da ditatura chilena e o seu como líder. Se o SIM vencesse nada mudaria. Mas se o NÃO representasse a maioria, seria o fim de um período de repressão e medo de mais de uma década e o começo de um novo futuro. Certo de que nada mudaria com o plebiscito, Pinochet controla a mídia e repreende constantemente seus opositores. Mas um desacreditado partido de oposição, liderado pelo publicitário René Saavedra, provou que ele estava errado.

Dirigido por Pablo Larraín, NO foge completamente de uma linguagem ficcional para ser um filme com uma forte característica documental. A começar pela tecnologia em que foi filmado, inteiramente em U-Matic. Muito utilizada nos anos 80, a U-Matic deixava a imagem levemente desfocada e até duplicada em alguns momentos. Além disso, a câmera nunca sai da mão da equipe filmagem, ora ela treme, ora promove ângulos tortuosos.

Além da fotografia, as atuações também são outra grande força dessa linguagem adotada por Larraín. Seu naturalismo é brilhante, principalmente na cena onde o partido NO começa a elaborar sua campanha numa casa de praia, com uma conversa cheia de reticências, reflexões e repetições, algo pouco visto no cinema. E também fica fácil fazer um bom filme tendo Gael García Bernal (Diário de Motocicleta) como protagonista. Seu René Saavedra surge apresentando uma campanha publicitária de refrigerante, um símbolo da ditadura, a invasão de produtos americanos. Dessa forma, surpreende que ele, ainda jovem já com uma carreira consolidada, casa própria e carro do ano, aceite trabalhar numa causa aparentemente perdida. E fica o mistério no ar do porque de sua escolha: vaidade, desejo de mudança, o prazer do desafio? Isso Pablo Larraín deixa pra gente responder.

Mesmo ficando a maior parte do filme contando a história de Saavedra e os partidários do NÃO, Pablo ainda assim consegue demonstrar como as ditaduras de uma forma geral operam e se perpetuaram no poder durante todo o tempo. Se no dia a dia o exército de Pinochet agredia e matava militantes nas grande metrópoles, sabotando constantemente a campanha de seus opositores, na mídia (controlada pelo governo) o ditador era visto como um homem bondoso, pai da nação e que pensa no futuro do país, e bastava se afastar um pouco dos grandes centros pra ver como surtia efeito essa lavagem cerebral, tendo uma personagem afirmando que preferia a ditadura porque mesmo com toda a violência, seu filho agora podia ir pra escola todo dia. 



E o melhor de tudo é ver que mesmo com a clara intenção de criar um obra que seja um documento da ditadura de seu país, o roteiro de Pablo Peirano ainda consegue acrescentar uma boa carga dramática na história, mostrando um grupo que começa o filme desacreditado, querendo aproveitar a oportunidade para usar a mídia mais como um desabafo por toda a agressão e perdas sofridas do que como um agente de mudança, ir amadurecendo e atraindo a atenção pra si fazendo exatamente o oposto: exibindo programas e histórias de felicidade, paz e progresso para um país sem ditadura e conseguindo dessa forma derrubar um poder que parecia inatingível.


NO é um filme que mostra como a propaganda, quando bem trabalhada pode fazer mais do que simplesmente vender refrigerantes. Ela pode mudar a história de todo um país e até transformar o mundo. Por isso amo minha profissão.

Confira o trailer


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Homem de Ferro 3



Nota: 9

Tenho ficado muito feliz com o modo como os alguns heróis vem sendo retratados ultimamente. Crente de que Homem de Ferro 3 seria ainda mais fantástico do que Os Vingadores e seus antecessores, fui felizmente surpreendido ao ver, pelo contrário, um Tony Stark muito mais humanizado e frágil. Assim, a Marvel segue a mesma trilha da DC no retrato do Batman em OCavaleiro das Trevas Ressurge e a James Bond, em Skyfall, fugindo dos roteiros implausíveis e de cenas totalmente dependentes de efeitos especiais, optando, ao invés disso, em explorar a complexidade e se aprofundar nos dramas de seus personagens. E não há cena que retrate melhor isso do que aquela em que Stark, após sofrer um sério ataque é obrigado a arrastar sua armadura pela neve, incapaz de utilizar seu equipamento com tecnologia de ponta.

Numa estória que acontece pouco tempo depois dos eventos de Os Vingadores, Homem de Ferro 3 retrata um Tony Stark com uma séria crise de identidade ao combater ao lado de espiões, um deus, um super soldado e um Hulk e conviver com o fato de que ele mesmo, de acordo com sua própria definição, não passava de um mecânico, sem nenhum verdadeiro super poder ou habilidade inata, senão a de fazer armaduras. Com sérias crises de ansiedade ocasionadas em função de sua experiência de viajar para outra dimensão em Os Vingadores, no que ele chama de O Buraco da Minhoca, Stark dedica todo seu tempo em construir mais e mais armaduras, criando um verdadeiro arsenal para suprir de alguma forma essa sua “carência”. Contudo, uma nova ameaça surge, o Mandarim, um terrorista que ameaça a América e põe o herói a prova em seu maior desafio.

Um dos pontos mais interessantes em O Homem de Ferro 3 é que seu novo diretor, Shane Black, consegue criar toda essa complexidade em torno da figura de Tony Stark e ainda assim consegue manter vários dos elementos que consagraram a trilogia bem evidentes; sendo o principal deles o humor sem sombra de dúvida. Seu uso é tão bem dosado e pontuado que serve até de impulso para uma importante revelação sobre o papel do Mandarim na história.




Outro ponto são as cenas de ação, as melhores de toda a trilogia. Bem articuladas, com excelentes efeitos especiais e claro, de tirar o fôlego. A destruição completa da casa de Stark em Malibu, é o melhor exemplo disso, com um bom destaque também para a cena da queda do Força Aérea Um e o consequente resgate dos passageiros por um Homem de Ferro agora controlado por controle remoto. Aliás essa foi uma novidade que gostei bastante: são poucos os momentos em que Stark veste sua armadura. Seja pela alta tecnologia que elas possuem ou pela fragilidade da situação, Homem de Ferro 3 é totalmente centrado na figura de Stark, o homem de carne e osso. Isso ocorre até mesmo no clímax do filme onde todas as suas armaduras entram em combate no piloto-automático, ficando seu criador a mercê dos ataques inimigos.

E não dá pra escrever sobre Homem de Ferro sem falar de seu protagonista. Robert Downey Jr está ainda mais afiado no papel, com sua versatilidade de sempre e tiradas clássicas. Com essa personalidade, não surpreende ver o exagero da sua coreografia para testar uma armadura. Ainda assim, chega a ser comovente ver sua fragilidade em suas crises de ansiedade e no seu temor de perder aquela que mais ama, Pepper (Gwyneth Paltrow). E mais uma vez ele é feliz em contracenar com atores de peso como Guy Pearce e Ben Kingsley, sendo o último digno de ao menos uma indicação ao Oscar pela excelente atuação nos dois momentos completamente distintos de seu personagem, o Mandarim.


Mas nem tudo são flores. Com uma estória tão rica, decepciona ver Aldrich Killian (Guy Pearce) ser primeiramente retratado como a caricatura do nerd que busca vingança por aqueles que o ignorou. E em nenhum momento se explica o que seria a reação de uma invenção citada no começo do filme que no futuro transformaria o vilão do longa e seus seguidores numa espécie de homens de lava. Além do mais, embora ache Rebecca Hall uma ótima atriz, sua personagem (Maya) é completamente descartável.

Enfim, algumas pequenas falhas não podem ofuscar o brilho da trilogia mais bem sucedida da Marvel e em seus últimos minutos já bate a saudade daquele sarcasmo tão característico de Stark (que voltará, de acordo com a última frase dos créditos). A ousadia da Marvel em fugir dos seus filmes tradicionalmente superficiais talvez tenha criado seu maior sucesso. Vamos ver o que os outros heróis dos Vingadores tem para nos oferecer e se, com todos os seus poderes, conseguem superar o carisma de seu mecânico.

Obs: como todo filme da Marvel, há uma cena extra nos créditos.

CONFIRA O TRAILER