Nota: 9
Em Kung Fu Panda, um velho provérbio chinês diz “Às vezes é
tentando evitar um problema que acabamos por encontra-lo” e essa é uma frase
perfeita para definir o recente episódio em que o deputado Protógenes Queiroz
tentou barrar nos cinemas a exibição de Ted, a história da amizade entre um
homem e um urso nada convencional. Antes da ação do deputado, Ted tinha tudo
para ser um filme com uma bilheteria regular e sem deixar muita marca nos
cinemas. Mas, após a tentativa de proibição, Ted registrou um estouro de
bilheteria no Brasil fazendo o tiro de Protógenes sair pela culatra. Além
disso, o longa é escrito e dirigido por Seth McFarlene, criador da série
mundialmente famosa Uma Família da Pesada, carregada de humor ácido. Dessa
forma era de se esperar que Ted não seria um conto de fadas.
Na história, John Bennett é uma criança solitária e sem
amigos, até ganhar no natal de 1985 um urso de pelúcia do qual que ele batizou
de Ted. Seu amor pelo brinquedo era tanto que certo dia ele desejou que ele ganhasse
vida, no momento em que uma estrela cadente cortou os céus e...seu desejo foi
realizado e Ted além de ganhar vida, se tornou seu amigo inseparável. Hoje,
mesmo adultos, Benett e Ted parecem ter ficado presos à juventude, com atitudes
que vão de festas ao consumo de drogas. Porém, a amizade de ambos está ameaçada
por Lori (Mila Kunis de O Livro de Eli), noiva de John, a qual está disposta a deixar seu noivo caso ele não
amadureça e deixe seu amigo urso, que o impede de amadurecer, no passado.
Bastam poucos minutos para perceber o tom ácido de todo o
filme, ao ver garotos cristãos espancando um menino judeu porque era natal. Mas
isso não é nada perto que vem pela frente. O roteiro de McFarlene está recheado
de momentos como esse. O consumo de drogas é presença constante em quase todas
as cenas em que Ted está presente. Fora as festas regadas à álcool, uma criança
apagada com um soco de Benett (Mark Wahlberg de O Vencedor),as prostitutas e
até mesmo um caso de Ted com Norah Jones.
Mas apesar de polêmica, atrás de
polêmica, Ted é um filme extremamente divertido, especialmente pelo seu
protagonista claramente inspirado no Grande Lebowsky de Jeff Bridges. Mas o
foco de Mcfarlene não é só fazer piada, mas através de Benett, fazer um retrato
da Geração X que mesmo tendo membros chegando próximo dos 40 anos, ainda tem
uma forte raiz na juventude. E não há melhor maneira de fazer isso colocando
como seu melhor um brinquedo. Dessa forma, Ted é mais um reflexo da
personalidade de Benett, do que seu amigo propriamente dito. Num gênero tão cheio
de fórmulas e clichês como a comédia, McFarlene consegue inovar na
originalidade de seu humor e inteligência crítica.
Por outro lado, o mesmo não acontece com o desenvolvimento da
história e a dificuldade do roteirista/diretor de criar boas tramas. Lori e Ted
se relacionam perfeitamente bem, sua antipatia pelo urso surge repentinamente numa
conversa rápida da moça com personagens irrelevantes. Essa foi a forma que
McFarlene encontrou para instaurar algum conflito na excelente relação do
triângulo Ted, Benett e Lori. E acrescente a isso Donny, um personagem de olhar
sombrio que quer comprar o urso de qualquer forma e é esquecido durante quase
todo o filme, até reaparecer no seu fim para sequestrar Ted e assim dar algum
clímax (por sinal decepcionante) à história. Mas para uma primeira experiência
como diretor num longa metragem, pode-se dizer que McFarlene teve um saldo mais
positivo do que negativo.
Negativo mesmo em Ted é a atitude do nosso ilustríssimo
deputado Protógenes Queiroz, com sua ação (já revogada) de barrar o filme.
Muito mais polêmico do que retratar sexo, drogas e rock and roll é censurar a
arte, forma universal de expressão e ferramenta propulsora de mudança. Ademais,
vai ao cinema quem quer, e nosso deputado convenceu muita gente a fazer isso.
CONFIRA O TRAILER
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