terça-feira, 12 de julho de 2011

Zumbilândia



NOTA: 9

Eu sempre detono nas minhas críticas filmes que parecem apenas seguir fórmulas e pouco se preocupar em trazer algo novo, como é o caso recente de Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles, que nada mais é do que uma versão idêntica de Independence Day ou Guerra dos Mundos. Mas há um sub gênero em especial em que me dou o direito de abrir uma exceção: filmes de zumbis.

Eu gosto de todos eles, pois por mais que possam haver muitas semelhanças em seus argumentos - basicamente a humanidade se torna zumbi após a contaminação por algum agente tóxico ou epidemia - todos carregam consigo alguma crítica social em seus monstros. Desde nossa completa alienação representada na série Mortos Vivos à nossa total selvageria potencializada em Extermínio 1 e 2.

Mas Zumbilândia parece carregar alguns diferenciais sobre todos os seus antecessores. Primeiramente, transformar um tipo de filme geralmente classificado como terror numa ótima mistura entre comédia e aventura. Não, não há o que temer, você não vai perder o sono após assistir Zumbilândia. O segundo fator é a ausência de foco no problema "zumbi" e um direcionamento do roteiro para a história do convívio e laços desenvolvidos pelos seus 4 sobreviventes. Tanto que a razão da epidemia é rapidamente contada para que se dê sequencia e foco à história dos quatro. E por fim, uma mega produção pra um subgênero que costuma contar com orçamentos modestos, o que permitiu um excelente trabalho de produção, efeitos especiais e a contratação de ótimos atores.

Sem mais delongas, em Zumbilândia, a Terra foi completamente tomada por zumbis após uma epidemia proveniente de um hambúrguer. Columbus (Jesse Eisenberg) é um dos únicos sobreviventes, é só conseguiu o feito por já na sua rotina anterior ao desastre viver numa completa reclusão social, além de ser tão medroso que desenvolveu um manual de regras que evitavam que ele fosse morto. Em sua jornada pra chegar a sua cidade natal ele descobre outro sobrevivente, Tallahassee (Woody Harrison), o típico cowboy durão que descobriu em matar zumbis seu maior talento. Juntos, eles seguem viagem para o leste até encontrarem no caminho as belíssimas irmãs Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abygail Breslin) que após um relacionamento inicial bastante conturbado, constroem uma amizade muito grande com a dupla e o então formado quarteto tenta sobreviver num mundo onde eles, pelas circunstâncias, se tornaram os invasores.

Filme de estréia de Ruben Fleischer, o diretor já se mostra ótimo logo nos créditos iniciais, que mostram a propagação da epidemia em slow motion e numa inteligente interação entre as pessoas e as legendas do staff. Além disso, o recurso que utiliza em colocar na tela as legendas das regras de Columbus sempre que elas são praticadas, consegue além de entreter, ajudar o espectador a se afastar daquele universo desolador e firmar a história contada como apenas uma ficção. E ele enfatiza esse distanciamento aplicando elementos ainda mais cômicos ao longa como o prêmio para A Morte de Zumbi da Semana.

Porém, peca em apresentar alguns flashbacks desnecessários, em especial aos referentes a Tallahassee e as duas irmãs. No mais, é muito eficaz na dosagem entre humor e ação e ainda mais feliz quando combina as duas coisas. Em duas cenas essa mistura é impecável: naquela onde Tallahassee entra com um banjo num mercado chamando os zumbis pra briga e no terceiro ato, onde o mesmo personagem extermina dezena de monstros enquanto se diverte num parque de diversões.

Aliás, esse personagem é o principal elemento cômico de Zumbilândia. "Minha mãe sempre disse que eu seria bom em alguma coisa. Mas nunca imaginei que seria matando zumbis." diz ele e faz a frase valer, especialmente no sadismo e na criatividade que encontra pra eliminar os seres. E é curioso ver uma típica caricatura do personagem valentão ter uma fraqueza no mínimo curiosa: seu desesperado anseio por conseguir um Twinkee (bolinho recheado com creme) antes que sua validade expire. Parece ser essa sua única motivação em permanecer vivo naquele mundo.

E Columbus (Jesse Eisenberg) é engraçado só pela sua própria composição, sempre medroso e excessivamente cauteloso, sendo piada até mesmo depois do mundo ter acabado. É impossível não achar graça do seu cuidado ao dobrar um papel higiênico antes do uso, ou o seu desejo ardente em passar o cabelo de uma mulher para trás de sua orelha, que é o mais perto do sexo que ele já chegou. E há uma ironia do destino em uma das falas de Eisenberg, onde ele elogia o fim do mundo por não ter mais que ver posts chatos no Facebook, mal sabendo que um ano depois protagonizaria exatamente o criador do site em A Rede Social.

Embora não tão brilhantes, Emma Stone e Abygail Breslin vivem duas irmãs golpistas interessantes, especialmente na facilidade com que conseguem passar sempre pra trás Columbus e Tallahassee. E não tem como deixar de falar da pequena ponta de Bill Murray (interpretando a si mesmo) e seu desfecho tragicômico. Embora desnecessária para o andamento da história, não dá pra negar que são alguns minutos em que o riso é garantido.

Seja pelo roteiro que foge um pouco do trivial, seja pela direção competente de Ruben Flescher que consegue transformar terror em comédia ou pela perfeita química entre os atores, Zumbilândia é um daqueles filmes que não vão acrescentar muita coisa na vida de ninguém, mas com certeza vai arrancar boas risadas de quem assisti, o que é seu principal propósito.


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