domingo, 3 de outubro de 2010

O Último Exorcismo – Tinha tudo para ser perfeito


NOTA: 7

É realmente triste quando fica evidente que a arte é afetada pelo mercado. Embora no cinema isso seja, infelizmente, necessário devido ao seu alto custo de produção e distribuição, é muito melhor quando somos levados a acreditar que tudo o que assistimos ocorreu do modo como o diretor quis, sem nenhuma interferência dos barões da sétima arte.

Para a tristeza dos cinéfilos, O Último Exorcismo é um caso mais do que escancarado disso. Um filme que tinha tudo pra ser uma obra-prima polêmica se deixa levar pelo desejo de lotar salas e agradar ao público que gosta de tudo mastigado como nas novelas.


No longa, que começa abruptamente para dar mais peso a realidade que propõe, o reverendo Marcus Cotton é um homem prodígio desacreditado de sua fé e que durante uma entrevista a um programa de TV (provavelmente universitário pela qualidade semelhante a Bruxa de Blair) procura revelar a fraude em que se opera sua religião e como ela e outras manipulam a ingenuidade de seus fiéis. Durante a entrevista ele comenta o motivo que o levou a descrer da fé: uma tentativa frustrada de exorcismo de um colega que resultou na morte de uma criança, posteriormente seguida da abertura de uma escola de exorcismo pelo Vaticano. Determinado a provar que possessões demoníacas não existem e que não só ele, como muitas religiões enganam seus fiéis, Cotton leva a equipe do programa a uma fazenda no interior onde Louis pede socorro alegando que sua filha Nell está possuída por um demônio.


É aí que o filme fica extremamente interessante. Cotton mostra detalhadamente como se opera a fraude. Desde a falsa preocupação ao procurar saber da situação espiritual da suposta vítima, até o uso de pequenos truques para convencer de que aquilo era sério, fazendo uma bacia d’água ferver subitamente. E por aí vai. No momento do exorcismo todo um teatro é montado no quarto de Nell: linhas invisíveis que moviam objetos; um dispositivo que fazia sair fumaça da cruz como se essa pegasse fogo etc. Sem contar que há uma cena inacreditavelmente bem elaborada no início do longa onde Cotton prega uma receita de bolo no seu culto e seus fiéis alienados gritam”aleluia”.

A partir daí, tudo perde o interesse. Prevendo a insatisfação da platéia ao ver que tudo fora uma fraude, o diretor fez questão de trabalhar num roteiro que queria mostrar que Cotton podia estar enganado e que Nell podia estar realmente possuída, pois logo depois do exorcismo ela parece estar sedenta de sangue e morte. Daí se segue aquelas cenas de sustos salientadas em câmeras subjetivas e avisadas pela trilha sonora já bastante manjadas ultimamente. Desse momento em diante O Último Exorcismo perde tudo de interessante que havia construído até então. Principalmente quando vai na contramão de seu início mostrando os créditos finais, onde fica claro que tudo não passou de ficção. Algo totalmente contraditório ao filme todo.

Independente de tudo, O Último Exorcismo de certa forma consegue provar o que quis defender: que a religião pode ser uma arma poderosíssima se operada pelas pessoas erradas e cheias de cobiça. Além de deixar escancarado o quanto nos deixamos facilmente nos enganarmos por esses lobos em peles de ovelha. Seria perfeito se acabasse seguindo essa linha, mas infelizmente vem sempre aquela preocupação com o mercado, o lucro etc.




CONFIRA O TRAILER (legendado)


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