segunda-feira, 10 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas



NOTA: 6


Não tem coisa mais frustrante do que ir assistir a um filme que não só eu, mas toda a mídia gerou uma enorme expectativa, em vão. E é exatamente isso que o novo filme de Tim Burton representa, uma frustração.

Baseado nos dois livros de Lewis Caroll (Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho), a história é uma continuação das demais, um retorno da Alice, já adolescente, ao País das Maravilhas para devolver o trono a Rainha Branca, tomado pela Rainha Vermelha.

O grande mérito do filme é, sem a menor sombra de dúvida, a direção de arte. Os cenários surrealistas, ora de cores vívidas e ora praticamente monocromáticos dão um toque especial à narrativa. Além disso, a caricaturação do personagens é outro trunfo à parte. Cito a Rainha Vermelha e o Chapeleiro Maluco para exemplificar. Os personagens digitais são igualmente fascinantes. Mas aí surge o primeiro tropeço de Tim: o Valete de Copas. Interpretado por um ator real, num corpo desenvolvido no computador, fica evidente a falta de sincronia entre ambos e a artificialidade dos movimentos do personagem aflora a todo momento em que ele surge.

Mas como nem tudo são flores, a direção de Burton deixa muito a desejar. A começar pela história da protagonista que é muito mal trabalhada. A história da Alice é repleta de lacunas, em especial no que diz respeito aos rumos de sua família após a morte de seu pai. Sem contar que fica tão cansativo a repetição dela de que "aquilo tudo não passa de um sonho." que tira aos poucos todo o interesse na narrativa. Ao invés de optar pelo silêncio tornando tudo um mistério, Tim segue a linha oposta já nos preparando para não ter muitas expectativas, pois no fim "tudo não passa de um sonho". 


E há alguns eventos no filme que não fazem a menor razão de estar lá. Qual o motivo da Alice receber aquela ferida no braço? Não soma em nada à narrativa. Cheguei a pensar que serviria de prova no mundo real de que ela esteve lá, contudo, quando ela retorna ninguém nota o imenso ferimento em seu braço. Tim também dá vida à espada que matará o monstro, mas quando finalmente a vemos, chegamos a conclusão de que não passa de um objeto inanimado, algo sem explicação para aquele estranho e inesperado mundo onde tudo tem vida própria.


O roteiro também é muito ruim. A preocupação excessiva em inserir personagens e cenários fazem com o que é mais importante, ou seja, a própria narrativa, passe atropelada e confusa, sendo esquecida por diversas vezes. E graças a "magnífica idéia" de existir um pergaminho profético que conta exatamente como a história termina, acabamos não tendo nenhuma surpresa pelo caminho. Sem contar que quando Alice retorna ao seu mundo, o filme se encerra com um dos finais mais clichês que já vi.

Os personagens são um caso a parte.

Johnny Depp (O Turista, Piratas do Caribe) é mais uma vez brilhante na construção de seu Chapeleiro Maluco, em especial na transição que há entre os seus momentos de alegria e fúria. Numa entrevista do ator, ele disse que na sua pesquisa descobriu que os chapeleiros do tempo de Caroll faziam uso de um produto que era alucinógeno, fazendo com que muitos deles se comportassem desse modo. Infelizmente, por publicidade, Tim inseriu essa personagem em tantas cenas que impossibilitou a atuação de ser brilhante, caso tivesse sido restrita ao necessário.

A Rainha Branca de Anne Hattaway (Amor e Outras Drogas), com seus gestos propositalmente exagerados convence como alguém alheia ao seu mundo e Tim é feliz na escolha de Anne como intérprete.

Mas quem rouba a cena mesmo é Helena Bonham Carter (Harry Potter). Sua Rainha Vermelha é muito bem construída, mostrando uma personagem mimada a cada vez que manda cortar a cabeça de alguém que te desagrada, usando seu poder para esconder sua fragilidade. É onipotente até que se oponham a ela.

Apesar de alguns pontos interessantes - mérito da direção de arte e não de Tim - Alice no País das Maravilhas é de forma geral muito fraco e pouco eficiente. Uma decepção, sabendo que foi feito por um verdadeiro mestre do cinema como Tim Burton, numa narrativa que para muitos não poderia ser adaptada por outra pessoa senão ele. 

CONFIRA O TRAILER 

domingo, 2 de maio de 2010

Por uma propaganda menos Nazista

Por Lucas Rolim

Protesto!

Protesto contra um mal que já nos aflige há décadas, mas que nos é tão sutilmente imposto que nos iludimos por esse pomo de ouro que é belo, mas só por fora, pois por dentro carrega a discórdia das relações sociais.

Falo da nossa publicidade que cria sonhos impossíveis, mundos imaginários, habitados pelas belas modelos de sex appeal inquestionável, e dos modelos com verdadeiras cadeias de montanhas em seus abdômens. Essa propaganda que vende um ideal de vaidades e ilusões que afundam famílias nos cartões de créditos, nas compras das roupas inúteis da última moda e TVs gigantes que não temos tempo de ver. A arte de comunicar, em seu sentido mais pejorativo, levando as pobres adolescentes à anorexia para se tornaram as mulheres de plástico narcisistas das passarelas ou nos vaqueiros valentões, sem pulmão, mais "machos" a cada cigarro.

Afinal, é disso que a sociedade gosta. É a roupa certa, o carro certo, o tênis correto que vão nos fazer tão felizes ao ponto das Giseles Budchens implorarem pela nossa companhia e os Ronalds McDonalds serem nossos melhores amigos. Correto?

NÃO! Esse não pode ser a energia propulsora de nossas vidas. Essa ditadura da informação que só te inclue no mundo se comprar e gastar sem se preocupar com as contas no fim do mês, que te faz abandonar os amigos porque eles são totalmente out e se aproximar de pessoas vazias que são in e te faz acreditar que não há outra opção, JUST DO IT.

Onde estão os aleijados, aidéticos, judeus, negros, cegos, feios e gordos na publicidade? Eles não são consumidores também? Creio que há duas possibilidades de resposta: 1° Todos os aleijados, aidéticos, judeus, negros, cegos, feios e gordos do mundo não possuem o menor talento para estrelarem um comercial ou, 2° as vagas para os comerciais foram todas preenchidas por modelos jovens, ricos, bonitos, mas de pouco talento, porque os publicitários sabem que o primeiro grupo jamais implacaria a venda de um carro ou de um serviço de seguros de um grande banco que tem tudo, menos você, pessoa perfeita. E como os publicitários ficaram tão inteligentes para descobrir que essa gente não vende, porque sua imagem assusta e faz os consumidores fugirem da vitrine? Será uma luz? Não. Eles sabem porque é o mundo que eles criaram. Esse mundo, fora do nosso mundo, com um ideal de beleza muito semelhante ao modelo de um tal de Hitler, um tal de Mussolini, dos louros de corpos saudáveis e perfeitos, "tão criativo", é só uma cópia bem maquiada do modelo nazista.

Quantos de vocês vivem neste mundo ideal, acordam e dormem num mundo feliz e perfeito, sem fome, sem violência, habitado apenas pelas ninfetas e heróis gregos? Creio que ninguém. Mas ainda assim, todos os dias o perseguimos abrindo mais e mais crediários, fazendo mais e mais horas extras, economizando mais e mais nas nossas necessidades básicas, alimentando essa utopia que jamais vai acontecer, porque simplesmente não existe. Ou seja, o erro também é nosso que recebemos de braços abertos diariamente esse bombardeio dos slogans "inovadores" da publicidade.

Que fique claro que a razão desse manifesto não é para o banimento da publicidade, muito pelo contrário, essa é uma das melhores ferramentas que nós temos para formar opinião. Esse texto é um alerta para mudarmos e não nos tornarmos tão cegos e subservientes à comunicação. Ao invés de se preocupar apenas em vender, vender e vender uma realidade que não é nossa, por que não se preocupar em construir uma sociedade melhor, do consumo justo, não indutiva e não seletiva? Por que uma montadora de automóveis ao invés de gastar milhões em propagandas nada criativas - iguais para todas as marcas - vendendo carros que nunca veremos a velocidade máxima por causa dos radares, não dedica parte dessa imensa verba numa campanha de conscientizaçáo do cinto de segurança, de dirigir embriagado, cobrar as autoridades sobre as péssimas condições das estradas? O consumidor ficaria muito mais satisfeito com uma marca que de fato se preocupa com a sociedade e não fica apenas empurrando produtos.

Cabe aos publicitários, mas sobretudo a nós, sociedade, fazer a cobrança por uma publicidade mais justa, real e refutar esse modelo que aí está, mantendo vivo um terrível fantasma do passado que com certeza queremos esquecer.

E para provar que uma propaganda assim é possível, coloquei um exemplo aqui do Brasil de um comercial de TV magnífico de uma grande marca de higiene pessoal, a Dove. Chama-se "Campanha pela real beleza"