NOTA: 4
Ver que pela primeira vez a Pixar lançaria uma animação
protagonizada por uma personagem feminina me fez crer que o estúdio estava realmente
disposto a apagar a mancha escura na sua história que foi seu último filme, o
desastroso Carros 2. Porém, infelizmente o que Valente mostra é que talvez o
mesmo estúdio que criou obras-primas como Toy Story, Os Incríveis, Wall-E e
mais uma lista imensa de animações (a imensa maioria dignas de nota 11) esteja
caindo no cliché e perdendo sua principal característica, o elemento criativo.
Ao menos no que diz respeito a contar histórias, essa é a sensação que dá,
especialmente num projeto que levou 5 anos para ficar pronto.
Em Valente, Merida é uma princesa celta que nem de longe se
comporta como uma, preferindo passar a maior parte do tempo cavalgando pela
floresta e atirando com seu arco e flecha. Sua mãe Elinor, ao contrário da
filha, é enraizada nas suas tradições e não aprova o comportamento da sua
primogênita. E quando a rainha dá abertura aos jogos que decidirão quem se
casará com sua filha, Merida entra no torneio para disputar seu direito a ser
livre. Prestes causar uma guerra entre
seus povos pela su atitude, a princesa recorre à magia, transformando sua mãe acidentalmente
numa ursa. Agora ela tem apenas dois dias para desfazer o feitiço e impedir que
Elinor, agora uma ursa, seja caçada pelo próprio rei, Fergus.
A grande decepção de Valente, como dito acima é seu roteiro
de uma pobreza absurda, com uma dificuldade evidente em ligar pontos, criar
situações dramáticas e acrescentar peso em qualquer uma de suas tramas, a
começar pela súbita mudança em seu foco onde até metade do filme tudo – e por
tudo quero dizer todo o contexto apresentado, além de seus personagens –
indicava que seria centrado nos jogos que definiriam o marido de Merida. Se
Valente tivesse ficado restrito a isso teria sido excelente, pois Merida era
obviamente melhor que seus concorrentes e ainda com seu ato desafiava todas as
tradições de seu povo. Desse modo, chega a ser um tanto incoerente o motivo
pelo qual a princesa subitamente a magia, transforma sua mãe numa ursa e tira
toda a emoção da história.
Essa mudança foi tão ruim que uma série de clichês
foram criados para sustenta-la: o sumiço da feiticeira que criou o feitiço; a
obrigação de quebra-lo em no máximo dois dias (por que dois dias?); os irmãos
de Merida (um trio sem graça e sem serventia) também serem enfeitiçados; além
do vilão enfiado goela abaixo no espectador só pra dar algum desfecho para
aquele tédio.
Mas por outro lado, se a história acaba com o filme, a parte
artística garante um verdadeiro espetáculo na tela, mostrando que pelo menos
nesse ponto a Pixar ainda está afiada e a anos-luz de seus concorrentes. É
impossível não se impressionar pelos cachos vermelhos flamejantes e encaracolados
de Merida. E seus cenários são de uma realidade tão extrema que chega a ser
difícil acreditar que eles foram criados digitalmente.
Pode se dizer que parcialmente a iniciativa ousada da Pixar
de lançar sua primeira protagonista feminina deu certo se levar em conta que
conseguiram conceber uma personagem de caráter forte, marcante e que
possibilita um leque de dramáticas, além de uma possível sequencia. Mas se essa
iniciativa deu certo por esse motivo, por outro parece que o próprio estúdio se
sabotou ao contar uma história que parece ter sido escrita às pressas, sem
qualquer preocupação em ser coerente e acima de tudo, atraente ao público. Há
um ano e meio atrás eu e qualquer outro crítico acharia impossível um dia
apontar algum defeito em qualquer animação da Pixar, mas infelizmente isso
ocorreu duas vezes seguidas, e tomara que essa seja a última.
CONFIRA O TRAILER
Nenhum comentário:
Postar um comentário