sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis



NOTA: 5

Os Miseráveis é o tipo de filme que carece de uma produção decente e na ausência disso, decide se concentrar em alguns pontos para alcançar algum sucesso. No caso, o foco foi no melodrama que quase implora para o espectador chorar na tentativa de validar seu título, além de colocar parte de seu elenco num regime de trabalho quase escravo, tamanha a exigência de suas habilidades não só como atores, mas também como cantores, acentuada por quadros obsessivamente enquadrados em primeiríssimos planos.

Adaptada do musical da Brodway, por sua vez baseado no aclamado romance de Victor Hugo, Os Miseráveis conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem comum condenado há 19 anos de prisão sob trabalhos forçados, após roubar um pão para alimentar o sobrinho pequeno. Libertado, Valjean viola sua condicional e passa a ser perseguido desde então pelo temível Capitão Javert (Russell Crowe). Com nova identidade, Valjean se torna um homem rico e poderoso, assumindo os cuidados da filha de uma condenada prostituta, da qual ele se sente responsável por sua lastimável situação e morte. Mas sempre que tudo parece estar bem, o passado persegue Valjean e ele sempre fica a sombra de seu algoz, Javert.

Diferente do que se vê em musicais, com algumas canções inseridas ao longo da trama, Os Miseráveis é cantado da primeira à última cena. Uma iniciativa ousada que nesse caso se torna um grande problema, deixando a narrativa constantemente cansativa e sem ritmo. Não bastasse isso, tal iniciativa exige todo um casting com a tarefa de não só despontar nas suas atuações, como também estarem afinados cantando. Sendo assim...qual a razão de Russell Crowe fazer parte do elenco? Constantemente desafinado e fora de ritmo, Crowe seria um Javert perfeito se não precisasse cantar. Mas para seu azar (e o nosso) ele precisou.

No mais, o elenco de Os Miseráveis tem boas atuações e cantores razoavelmente bons. Com poucas canções memoráveis, o grande destaque do filme é a canção “I Dreamed a Dream” eternizada na voz de Susan Boyle e aqui interpretada impecavelmente bem por Anne Hattaway, num dos poucos momentos realmente melancólicos da trama. No mais, as músicas são pura lamentação barata.

Mesmo não empolgando com suas canções, Os Miseráveis poderia ter um melhor prestígio, pois conta com um maravilhoso design de produção, desde seus figurinos até cenários. Escrevo poderia porque o vício do diretor Tom Hopper em utilizar close nos personagens o tempo todo ignoram todo esse meticuloso trabalho, assinado por Eve Stewart. Seus closes também prejudicam o desempenho do elenco, sendo ainda mais exigidos em suas atuações já bastante difíceis por terem que cantar. E levando isso em conta, todos eles (até Russell Crowe) merecem seu crédito por trabalharem com tão mal diretor (que surpreendentemente já ganhou um Oscar).

Sendo um grande fã de musicais, fico decepcionado em ver uma história tão boa como Os Miseráveis ser tão mal trabalhada no cinema. Mostrando-se um filme puramente comercial, sua produção ofusca a real qualidade de uma das maiores obras-primas de toda a história. Sendo assim, ao invés de desperdiçar dinheiro pagando para ver um desperdício de filme, recomendo muito mais o investimento onde tudo começou, num livro, sem música e sem melodrama.

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