sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Lista de Schindler - um clássico!





Nota: 10

OBS: ESSA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS.

Se eu fosse de outro planeta e estivesse de passagem na Terra e um terráqueo me dissesse que nesse mundo já houve um homem que convenceu um país inteiro a desencadear a maior matança que já existiu, condenando uma raça inteira ao extermínio apenas pela subjetividade de considera-los “impuros”, levando milhões de judeus ao limiar do sofrimento e mostrando o quão cruel pode ser o Homem, eu responderia sem hesitar: “Uau, que sinopse! Como chama esse filme?”.

Mas infelizmente não sou de outro mundo, e sei que a ficção mais atroz infelizmente foi a mais dura e fria realidade. E mesmo não tendo vivido durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo não sendo judeu ou nazista, sinto vergonha em saber que vivo mundo que foi palco desse espetáculo nefasto. E pensando nisso essa coluna faz uma pausa na crítica dos lançamentos da semana para falar de um filme que soube retratar como ninguém a desolação de um povo frente à brutalidade de seu opressor e indo além, conseguindo dar um rumo otimista onde essa palavra não existia mais. Estou falando de A Lista de Schindler, o melhor filme de Steven Spielberg em minha opinião.


Spielberg (Cavalo de Guerra; As Aventuras de Tintim) na verdade não criou uma obra-prima, mas sim um conjunto de pequenas obras-primas em seu filme, contando com várias cenas memoráveis. O corredor feito de lápides no campo de concentração; a chaminé que soava como um monstro despejando no ar a “neve” que nada mais era do que cinzas de judeus incinerados; a execução de um rabino onde todas as armas falham na hora de mata-lo, além de uma das sequencias mais cruéis já vistas no cinema, o extermínio em massa de judeus nos guetos, comandado por Goeth. Enfim, são tantas cenas desse nível que as quase três horas de filme acabam parecendo pouco tempo para mostrar tudo.


O uso da fotografia em preto e branco é outro trunfo do filme. Além de situar melhor a história com seu tempo também confere uma veracidade muito maior ao terror retratado. Um filme colorido não teria graça nem causaria comoção, pois o tempo todo daria para perceber a artificialidade de cada cena. Além disso, impossibilitaria momentos únicos como a menina de casaco vermelho circulando perdida frente ao extermínio no gueto e uma vela apenas com sua chama em cores, num belo sinal de esperança frente a toda àquela adversidade.

Não bastasse um diretor talentosíssimo, o trabalho do trio de atores principais tornam a narrativa ainda mais interessante, graças as suas atuações espetaculares (e numa das maiores injustiças do Oscar, nenhum dos três recebeu uma estatueta). Liam Neesom (Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge; Fúria de Titãs 2) é impecável na composição de seu Schindler, um playboy oportunista inabalável que vai evoluindo até se tornar num filantropo que encerra sua participação chorando feito criança por não ter conseguindo salvar mais vidas, graças aos seus excessos com luxo, carros e mulheres.


Ben Kingsley (Ilha do Medo; A Invenção de Hugo Cabret) vive um Itzak Steirn que mesmo numa completa situação de submissão tem a coragem constante de encontrar meios de ajudar seu povo e ser duro o bastante para confrontar seu chefe (Schindler), modificando pouco a pouco seu modo de pensar.

E por fim, Ralph Fiennes (Harry Potter; Fúria de Titãs 2) criando um dos maiores vilões que o cinema já viu, Amon Goeth, um general nazista que toda manhã mata alguns judeus de sua sacada, apenas para praticar sua pontaria. E mesmo sendo o símbolo da maldade, Goeth sente uma profunda inveja de Schindler por ver o amigo ser muito superior a ele sem necessitar de nenhum gesto hostil.


Acredito que a grande mensagem que Spielberg passa em seu filme não seja apenas contar uma história de otimismo, mas sim mostrar que para ser um herói não é preciso voar, contar com armas ou uma força descomunal, e muito menos pertencer a um credo ou povo. É preciso apenas o respeito à vida de outro ser humano e o desejo de mudar, não importa a que custo. É disso que os verdadeiros heróis são feitos. 

CONFIRA O TRAILER



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge



Nota: 1.000

Não fico tão ansioso para ver um filme desde quando era lançado ano a ano algum dos episódios de O Senhor dos Anéis. E foi com grande euforia que fui conferir o terceiro e último episódio de Batman, que fecha com grandiosidade a trilogia do homem morcego sob os olhares de Christopher Nolan (A Origem), diretor que reinventou o modo de se fazer filme de herói, trazendo esse universo para o mundo real, num gênero que facilmente deposita todas as suas fichas em efeitos especiais. O resultado? Nolan criou três verdadeiras obras-primas que já fazem parte da história do cinema, resistindo facilmente ao tempo, assim como outras trilogias como De Volta Para o Futuro, O Poderoso Chefão etc.




Em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, oito anos se passaram desde a prisão do Coringa e todo esse tempo de esforço extremo e dedicação para proteger Gotham City trouxeram consequências sérias à saúde de Bruce Wayne, fisicamente debilitado. Além disso, ele vive num exílio auto imposto em sua mansão desde quando seu alter ego, o Batman, assumiu a culpa pela morte de Harvey Dent para torna-lo um mártir. Nesse tempo Gotham se tornou uma cidade livre do crime, graças a Lei Dent. Mas a paz está prestes a terminar, porque Bane, um gigante mascarado de força descomunal tem planos de destruir toda Gotham e fazer seu justiceiro sofrer até o limite.

Talvez o único problema do filme (que é o mesmo dos anteriores) é seu excesso de personagens que sempre acaba prejudicando a edição final do longa. Prova disso é ver Bruce Wayne sumir por um bom tempo a partir da segunda metade da história para dar tempo de ligar o ponto das tramas de todos os demais personagens. Mas esse é um problema muito pequeno se comparar com a quantidade de acertos em todo o restante da produção.

A começar pelas atuações. Difícil dizer quem roubou a cena porque todos desempenharam excelentes papéis. Christian Bale (O Vencedor) se firma como o melhor Batman, tão enraizado na sua obsessão em fazer justiça que quando descobre perder todos os seus bilhões num golpe tem a sensibilidade de reagir questionando se suas armas não caíram nas mãos inimigas. Além disso, chega a ser comovente ver sua aparente descrença em Gotham servir para camuflar sua vergonha por não mais conseguir executar os feitos do passado, bem como o vigor impressionante que o ator conquista quando o Cavaleiro das Trevas de fato ressurge para seu derradeiro confronto com Bane.

Aliás, Tom Hardy (A Origemdesenvolve seu vilão com maestria tornando-o temível todo o tempo, mas ainda assim tendo a sensibilidade para admirar a voz de uma criança cantando o hino nacional, mostrando com isso que ele estava longe de ser insano, mas sim um homem frio, impiedoso e que tinha exata noção do mal que provocava. E mesmo a limitação da enorme máscara que cobria metade de seu rosto é derrubada pelo seu ótimo trabalho vocal, que dispensa expressões faciais em todas as suas falas. Hardy cria um vilão que é símbolo da maldade, mal a ponto de dar esperança para suas vítimas, apenas para vê-las sofrer mais. Batman que o diga. Evidente que o Coringa de Heath Ledger é insuperável, mas isso de forma alguma tira os créditos de Hardy, afinal o que Ledger estava acima do nível de qualquer um.

E mesmo os dois personagens sendo o centro da história, todo o restante do poderoso elenco é excelente, especialmente Joseph Gordon-Levitt (A Origemvivendo um policial que mesmo no caos ainda acredita na justiça; e a Michael Caine (A Origem), se firmando também como o melhor Alfred, que mesmo com poucas falas garante os momentos mais tocantes e emocionantes da trama com seu sincero afeto e preocupação pelo seu chefe. Além disso, ainda temos os sempre ótimos Morgan Freeman e Gary Oldman (O Livro de Eli), sem contar nas beldades Anne Hathaway (Alice no País das Maravilhas) e Marion Cotillard (Contágio).




Fora as atuações, seu roteiro é impecável tanto em amarrar todas as pontas dos três filmes para que não ficasse nada no ar, bem como trazer uma trama intensa que vai piorando a vida de seus personagens até o limite extremo para mudar o jogo a partir de uma pequena fagulha de esperança. Além de contar com falas precisas, evitando excessos, dando sempre indícios sobre o caráter e os dramas de cada personagem.

Mas o maior mérito dessa empreitada é sem dúvida de Cristopher Nolan, que cria uma Gotham mergulhada no pessimismo (reforçado o tempo todo pela brilhante trilha sonora do mestre Hans Zimmer) onde somente um visionário como Batman poderia enxergar alguma esperança em seu futuro. Além de criar longas cenas de ação de tirar o fôlego, especialmente nas que envolvem veículos. Outro ponto forte seu é utilizar ao máximo efeitos especiais físicos ao invés de recorrer ao digital como faria qualquer um. Um bom exemplo disso é a roda que gira nas laterais na moto do Batman, simplesmente impressionantes.




Contudo, o maior acerto de Nolan não foi seu impecável design de produção, ou seu casting de estrelas, ou sua produção etc. Mas sim a revolução que criou no gênero, provando que é possível sim criar um filme de herói aliado a uma história profunda e inteligente, sem imbecilizar seu público e sem recorrer ao óbvio. E se por um lado é extremamente gratificante ver uma trilogia tão perfeita terminar com chave de ouro, por outro é triste pensar que essa também foi nossa despedida daquele mundo e daqueles personagens (talvez). Agora entendo o que sentiram os fãs de HarryPotter.

Obs: A não ser que algo muito surpreendente aconteça até dia 31 de dezembro, esse já é sem dúvida o melhor filme do ano, na minha opinião.

CONFIRA OS TRAILERS