quinta-feira, 9 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe



NOTA: 10

Uma coisa que eu realmente gosto muito no cinema são os prólogos. É muito legal assistir aos filmes que mostram como tudo começou. Somado a isso, fascina mais um prólogo dos heróis mais interessantes dos quadrinhos – assim como Batman – os X-Men. Interessantes por dois aspectos: o primeiro deles é o fato de seu criador, o gênio Stan Lee, não se ancorar naquelas explicações óbvias e nem um pouco criativas para o seu surgimento. Não, os X-Men não ficaram expostos a energia radioativa ou foram criados pelo governo como arma. Eles apenas nasceram assim. Segundo, porque o grupo de heróis contém já nos quadrinhos uma dramaticidade em suas vidas extremamente tocantes e plausíveis, convivendo com o eterno dilema: Ajudar uma sociedade que constantemente os segrega e os persegue ou fazer uso de seus poderes para se sobrepor a essa mesma sociedade e criar uma nova civilização? E esse prólogo em especial trabalha impecavelmente bem com esses dois pontos, não deixando nenhuma interrogação na trama e mudando muito o modo como interpretar sua história dali em diante, especialmente para aqueles mutantes rebeldes da Irmandade, liderados por Magneto.


Em X-Men: Primeira Classe, Erik (futuramente, Magneto) é um jovem judeu que acidentalmente descobre num campo de concentração nazista seus poderes de manipular objetos metálicos. Despertando o interesse de um oficial alemão, Shaw, Erik é capturado e torturado por ele até que se descubra o que desperta seus poderes que aparentemente, é a raiva. Isso torna Erik um adulto amargurado, pessimista e com uma insaciável sede de vingança.

Na mesma época nos EUA, Charles Xavier é uma criança com poderes telepáticos que acredita ser a única assim em todo mundo. Isso até descobrir acidentalmente a existência de Mística, uma menina azul que tomava qualquer forma humana. Sua comoção em encontrar um par fez com que a adotasse e passasse a se dedicar aos estudos da mutação que acontecia a eles, buscando outras pessoas que sofriam da mesma alteração genética. Já adulto, ele e Magneto se encontram e são recrutados pela CIA para deter Shaw, que pretende causar uma guerra nuclear entre EUA e a União Soviética, usando como pano de fundo pra isso a instalação de mísseis nucleares em Cuba pelos russos durante a Guerra Fria. Montando uma equipe de mutantes, cabe a Xavier, Erik e seu time combaterem o vilão e impedir um desastre de proporções colossais.

Para aqueles que gostam de muita ação talvez se decepcionem com o filme. X-Men: Primeira Classe tem seu foco quase que completamente direcionado ao relacionamento entre os personagens, suas divergências sobre o mundo e seu desenvolvimento psicológico. Algo pouco comum em filmes de heróis, mas que de forma alguma o deprecia. Ao invés de encher de mutantes com os mais variados poderes, o roteiro economiza buscando apresentar apenas aqueles cujo poder seja essencial para a execução dessa ou daquela atividade. Com isso, também acaba entrando na discussão de um modelo de sociedade desenvolvido, onde todos são dependentes um dos outros, até mesmo mutantes poderosos como Magneto, Xavier e o próprio Shaw.

Outra coisa que também é poupada aqui são os efeitos especiais. São utilizados estritamente quando necessários e justamente por isso conferem uma plástica magnífica e não transformam o filme em mero entretenimento barato. Há duas cenas em especial que destaco: quando Erik mata alguns de seus algozes num bar argentino e uma das mais tensas do filme quando os mísseis das armadas russa e americana são literalmente “devolvidos” por Erik.

Mas mesmo com uma direção tão competente como essa de Matthew Vaughn, o destaque do longa é sem qualquer sombra de dúvida seu elenco que mesmo jovem faz um trabalho de extrema perfeição, em especial o trio de protagonistas: Kevin Bacon (Shaw), James McCavoy (Professor Xavier) e Michael Fassbender (Magneto). Bacon faz sua melhor atuação de muitos anos, com um Shaw completamente sarcástico, seguro de si e ciente dos grandes poderes que possui. E é curioso que ele tem como uma das características absorver energia pra se manter jovem,pois parece que Kevin Bacon na vida real simplesmente nunca envelhece. James McCavoy nos traz um Professor Xavier muito diferente do que estamos habituados. Embora sempre sério em relação ao emprego de seus poderes e ao ensinamento de outros mutantes, e mesmo tão jovem quanto seus colegas consiga transmitir impecavelmente seu sentimento paterno, também é mulherengo, brincalhão e curiosamente tem certa preocupação em ficar calvo, que ironia. É carregado de um sentimentalismo comovente, especialmente na cena em que ele utiliza pela primeira vez o Cérebro, onde ele fica radiante ao descobrir a quantidade enorme de pessoas como ele no mundo e também aquela cena em que mostra o trágico acidente que o colocou pra sempre numa cadeira de rodas. Porém, é Michael Fassbender quem mais se destaca. Primeiro porque ele vive um dos personagens mais complexos de toda a história, afinal é difícil julgar se Magneto é de fato um vilão ou uma vítima das circunstâncias. E como ele consegue sustentar impecavelmente bem essa angústia, além de ser notável a admiração e respeito que ele tem por Xavier, ainda que divergentes em suas idéias. E o bom é que o filme apresenta em detalhes como sua forma de interpretar a situação de sua raça em relação à humana e o desejo de se sobrepor, não por soberania, mas por enxergar nisso o único modo de sobreviver. E seu pessimismo se confirma na mesma cena dos mísseis citada acima onde logo após a CIA recorrer a eles para ajudarem a impedir os planos de Shaw, dá a ordem imediata para que seus navios os destruam.

X-Men: Primeira Classe é um filme que renderia páginas e mais páginas para comentar, pois não só é o melhor filme de toda a série, como o melhor do ano até agora. E melhor ainda é rever todos os outros longas do X-Men após esse, o entendimento fica melhor após ver como tudo começou.

OBS: Há uma aparição relâmpago bastante engraçada do Wolverine no filme.