Nota: 5
Terror e suspense
são pra mim os dois gêneros mais difíceis de trabalhar. A razão disso é muito
simples: esses gêneros tem que se reinventar constantemente numa velocidade
recorde pra agradar ao público. Suas técnicas de sustos, monstros e mistérios
facilmente caem no tédio. Desse modo, o maior “susto” que tive em O Corvo foi
ver sua história se inspirar em outros dois títulos, Pânico e Seven, que foram
inovadores em seu tempo, mas que hoje suas técnicas batidas e que já não
funcionam, prova disso é a tentativa de ressuscitar a série Pânico ano passado
e o próprio filme discutido nessa crítica.
O Corvo começa numa
intervenção histórica num dos episódios mais misteriosos da literatura: a morte
de Edgar Allan Poe em 1849, escritor ícone do período. Poe perambulava numa
praça de Baltmore numa manhã nebulosa, divagando e falando coisas sem sentido.
Foi socorrido, mas morreu poucos dias depois sem que se saiba até hoje o que
provocou sua morte e sem entender o significado do que dizia quando foi encontrado.
O que o roteiro de Ben
Livingston e Hannh Shakespeare (não se inspirar com o sobrenome) propõe do
episódio é que Edgar Allan Poe foi vítima de um serial killer que comete seus
crimes seguindo precisamente as famosas histórias de terror do autor como O
Poço e o Pêndulo e Assassinatos na Rua Morgue. Quando o assassino sequestra sua
noiva, Poe mergulha numa investigação perigosa para salvar sua amada e capturar
o criminoso.
De fato a premissa
que a dupla de roteiristas sugere é extremamente interessante. O problema é que
se de um lado foram felizes em sua ideia, por outro foram de um amadorismo
absurdo na hora de preenchê-la, trazendo às telas uma história que não empolga,
não surpreende e tão pouco assusta. Na verdade ela é facilmente esquecida quando
a sessão termina.
Além disso, conta
com personagens arquetípicos que já cansamos de ver em outros filmes: o pai
rico que ama a filha, mas se preocupa mais com o nome da família; o jornalista
que se preocupa mais com uma boa história do que com o sofrimento alheio e um
detetive paladino que faz qualquer sacrifício pela justiça.
Nem mesmo Edgar
Allan Poe escapa de ser descrito como um personagem nada interessante e
artificial, bem diferente do verdadeiro. Com uma concepção tão amadora,
surpreende vê-lo ser interpretado por John Cusack, quando parecia ser perfeito
para ser vivido por um pseudo ator como Nicolas Cage.
Com tantos
problemas, o design de produção assinado por Roger Ford vem pra salvar o longa
de ser um completo fiasco, recriando a cidade de Baltmore como um lugar medonho
e pessimista, trazendo excelentes figurinos e apelando para a técnica de utilizar muita neblina para
gerar suspense, criando a tensão em sugerir que o perigo pudesse surgir a
qualquer momento, de qualquer lugar. A perfeição de seu trabalho chega a ser
mais interessante que a própria história. A cena de abertura em que Poe vagava
na neblina dá um tremendo frio na espinha.
Mas é uma pena um filme que
de certa forma homenageia quem praticamente inventou o gênero terror decepcionar
exatamente por trazer uma história pobre, cheia de clichês e previsível. Se
qualquer um dos contos de Poe fosse adaptado ao cinema com certeza seria muito
melhor do que foi feito a seu respeito. Afinal, um roteiro bom até pode virar
um filme ruim, mas nunca um roteiro ruim resulta num filme bom.
CONFIRA O TRAILER
CONFIRA O TRAILER
Nenhum comentário:
Postar um comentário